Actividades para avós, pais e filhos guardarem memórias desta Páscoa

Sabemos que nem toda a gente é católica e que uns farão estas actividades de uma forma mais espiritual e outros menos, mas defendemos que, crentes ou não crentes, todos temos de conhecer o que significa a Quaresma, a Semana Santa e a Páscoa.

Foto
@designer.sandraf

Queridas mães, pais e avós Birrentos,

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Queridas mães, pais e avós Birrentos,

Custa sempre um bocadinho mais a porcaria destes confinamentos quando se aproximam datas como o Natal, os anos de alguém próximo ou, como agora, a Páscoa. Mesmo para os que não são crentes a tradição tem peso e é sempre sinónimo de reunião familiar.

Por isso, estamos determinadas em não deixarmos passar estes dias como se fossem dias quaisquer. Lembram-se das actividades de Natal? Foi tão bom sentirmo-nos próximos de toda a família, mas também dos nossos leitores. Por isso, decidimos repetir!

Aqui ficam as nossas sugestões. Sabemos que nem toda a gente é católica e que uns farão estas actividades de uma forma mais espiritual e outros menos, mas defendemos que, crentes ou não crentes, todos temos de conhecer o que significa a Quaresma, a Semana Santa e a Páscoa, porque sem essa “chave” não conseguem entender a cultura em que nascemos e vivemos — de onde vimos.

Que sentido faz passarem por uma procissão ou por uma Via Sacra sem perceberem patavina do que significa? Visitarem uma igreja ou uma catedral sem saberem porque foram construídas e que significado têm os rituais que ali se praticam? Ou ouvirem falar de Jesus Cristo, da cruz, da morte e da ressurreição, sem que ninguém lhes tenha contado nada — quer se acredite que era apenas um homem, um profeta ou o filho de Deus, é sempre a história de alguém que deu a vida por alguma coisa em que acreditava, e isso é exemplo que chegue.

Por isso, sem preconceitos, nem medos, vamos lá a isto, na certeza de que é absolutamente universal a mensagem de que podemos deixar para trás o que nos sobrecarrega, e avançar em direcção ao futuro com a confiança de que depois das trevas do Inverno, chega sempre a luz e a esperança de uma vida renovada. Tenham uma boa Páscoa e que seja a última em que somos obrigados a celebrar separados!

Quinta-Feira Santa

Perguntar aos avós como é que celebravam a Páscoa quando eram pequenos. Pedindo todos os detalhes: onde, como, com quem, o que comiam, o que mais gostavam e o que mais odiavam. Através desta recolha, os netos vão perceber o significado deste dia. Suspeitamos que a maioria dos nossos filhos não tem noção da dimensão e variedade dos rituais da Semana Santa e de Páscoa que existem pelo nosso país. Não nos podemos esquecer de escrever num caderno e pedir para os miúdos o ilustrarem. Cereja em cima do bolo é depois enviar aos avós uma cópia! E, claro, partilharem aquilo que descobriram nos comentários do Facebook ou do Instagram do Birras de Mãe.

Sexta-Feira Santa

Um dia em que se celebra a morte de Jesus é um dia de resguardo, de maior silêncio e de reflexão. Os cristãos adultos fazem jejum e abstinência (tradicionalmente era não comer carne, hoje a ideia é que seja uma alimentação simples). Numa altura em que se fala tanto de jejum intermitente, normalmente associado ao emagrecimento, é uma óptima oportunidade de desconstruir o jejum que se fazia/faz e perceber com os avós como, muitas vezes, o jejum mais importante pode ser aquele que nos acalma as distracções.

Para isso, propomos que filhos e netos se liguem aos avós por Skype ou Zoom, mas desligando todas as luzes/telefones/televisões da casa. Um Skype à luz das velas em que se lê no Novo Testamento a “reportagem” deste dia (procurando na Internet uma versão para crianças, talvez até com os diálogos que podem ser interpretados por vozes diferentes), ou simplesmente contando a história. Vão surgir muitas questões sobre a morte, sobre o sacrifício, sobre dar a vida pelos outros, sobre como morrer na cruz não é, infelizmente, uma coisa do passado... Promete ser uma noite inesquecível.

Sábado

A Páscoa está a chegar e a imagem dos ovos de chocolate que receberão no dia será omnipresente. O dia ideal para pintar ovos! Há duas hipóteses: cozê-los e depois pintá-los ou fazer um buraco em cada ponta e soprar (era das minhas coisas preferidas) para que saia a clara e a gema e o ovo fique oco! Sugerimos pintar primeiro e depois esvaziá-lo, porque vazio vai partir-se, dando azo a uma tragédia! Ah! E os avós também pintam. Ou em simultâneo no Zoom ou depois enviam fotografias!

Domingo

Para alguns, este dia vai ser mesmo triste, porque adoram cozinhar e partilhar com a família o prato que sempre foi central neste dia — congelado não é a mesma coisa, mas os filhos agradecem.

Quanto aos miúdos vão estar numa ansiedade constante pela chegada do Coelho da Páscoa — não há covid que possa desculpar não haver uma caça aos ovos no jardim, na rua, dentro de casa. Mas em comum avós, pais e filhos têm a celebração da ressurreição, do triunfo da vida sobre a morte, em termos simbólicos ou literais conforme as suas crenças, mas passando-lhes a certeza que todos podemos renascer, não estamos condenados a nada, e temos sempre uma segunda e terceira e quarta oportunidade de sermos felizes.

Concretamente, a nossa proposta é que todos ajudem a pôr a mesa, que a decorem com os ovos que pintaram no sábado e tudo o mais que se lembrarem, e se sentem à mesa com os avós em Zoom. Sem esquecer um telefonema em família aos que estão sozinhos. Boa Páscoa!


No Birras de Mãe, uma avó/ mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, vão diariamente escrever-se, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook Instagram.