Primeiro-ministro arménio demite-se meses depois de derrota em guerra com o Azerbaijão

Chefe do Governo não resistiu às críticas e à perda do apoio dos militares, depois de assinar um cessar-fogo que deu aos azerbaijanos o controlo de uma parte considerável da região de Nagorno-Karabakh.

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Pashinyan apresenta-se de novo as votos nas eleições de 20 de Junho OMER MESSINGER/EPA

Após semanas de protestos contra o seu Governo, o primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinyan, confirmou este domingo que deixará o cargo em Abril para que se realizem eleições legislativas antecipadas. O anúncio chega quatro meses depois da derrota com o Azerbaijão na região de Nagorno-Karabakh e um mês desde que Pashinyan acusou o Exército de o tentar derrubar.

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Após semanas de protestos contra o seu Governo, o primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinyan, confirmou este domingo que deixará o cargo em Abril para que se realizem eleições legislativas antecipadas. O anúncio chega quatro meses depois da derrota com o Azerbaijão na região de Nagorno-Karabakh e um mês desde que Pashinyan acusou o Exército de o tentar derrubar.

“Vou demitir-me em Abril – não para deixar o poder, mas para realizar eleições parlamentares. Continuarei como primeiro-ministro em funções”, disse o chefe de Governo depois de um encontro com residentes em Aragats, nos arredores de Erevan. As eleições vão realizar-se a 20 de Junho.

Com esta decisão, Pashinyan tenta ultrapassar a crise política aberta com a assinatura do cessar-fogo com o Azerbaijão, visto por muitos arménios como uma humilhação nacional. No acordo, mediado pela Rússia, Erevan permitiu a Bacu manter o controlo de um extenso território que conquistou nas seis semanas de combates no Nagorno-Karabakh, o enclave de etnia arménia situado dentro das fronteiras oficiais azerbaijanas. 

Para o Azerbaijão passou também o controlo do estratégico Corredor Lachin, onde está situada a única auto-estrada que liga Nagorno-Karabakh à Arménia – algo que os arménios sempre recusaram ceder em todas as tentativas de negociação desde os anos 1990. O acordo alcançado a 10 de Novembro foi descrito então por Pashinyan como “indescritivelmente doloroso” para si e para “o povo arménio”. Face aos avanços do Azerbaijão, que contou com apoio e armamento da Turquia, Erevan temeu a perda total do enclave.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Zohrab Mnatsakanyan, foi a primeira baixa do acordo, demitindo-se na semana seguinte. Os militares acabaram entretanto por se unir aos manifestantes e defender a demissão do primeiro-ministro, com este a afastar as principais chefias das Forças Armadas. Os protestos contra Pashinyan continuaram, mas as manifestações em seu apoio também se tornaram mais numerosas.

Se os eleitores o apoiarem, diz o ainda primeiro-ministro, a sua equipa “continuará a servir” os arménios, “ainda melhor do que antes”. “Se isso não acontecer, vamos transferir o poder para quem vocês escolherem”, disse ainda Pashinyan.

As duas antigas repúblicas soviéticas travaram uma guerra em 1991, quando o enclave arménio declarou a sua independência do Azerbaijão, em simultâneo com o colapso da União Soviética. O cessar-fogo seria declarado em 1994, quando se contavam já 30 mil mortos. Segundo Moscovo, a guerra do ano passado, a mais grave desde então, fez perto de cinco mil mortos.