Programa Europeu de Combate ao Cancro: “Todos somos responsáveis”

A Comissão Europeia anunciou também a criação de um registo das desigualdades no domínio do cancro, para detectar disparidades e desigualdades entre os Estados-membros e regiões, e aplicar medidas para esbater estas diferenças.

Foto
"Os doentes deveriam poder escolher o local onde querem ser tratados, público ou privado, de forma célere e sem desigualdades regionais" Manuel Roberto / PUBLICO

O cancro afecta cerca de 3,5 milhões de pessoas na Europa em cada ano, e cerca de 1,3 milhões de pessoas morrem de cancro. Estes números são muito significativos, constituindo um problema de saúde pública. Em Portugal são diagnosticados mais de 50.000 novos casos de cancro por ano.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O cancro afecta cerca de 3,5 milhões de pessoas na Europa em cada ano, e cerca de 1,3 milhões de pessoas morrem de cancro. Estes números são muito significativos, constituindo um problema de saúde pública. Em Portugal são diagnosticados mais de 50.000 novos casos de cancro por ano.

O Plano Europeu de Luta contra o Cancro constitui uma das prioridades na saúde da nova presidência da Comissão Europeia, tendo como objectivo apoiar os Estados-membros na melhoria do controlo do cancro e na prestação dos cuidados oncológicos, nas diversas fases da doença. Pretende-se que a Europa assuma a liderança na luta contra o cancro, em termos de rastreio, diagnóstico precoce, tratamento adequado e atempado, e cuidados de suporte, assim como apoio dos sobreviventes de cancro. O objectivo final é esbater as diferenças nos cuidados oncológicos entre os diversos Estados, permitindo a prestação de cuidados de alta qualidade e segundo o estado da arte.

Temos, também, como expectativa o maior apoio à investigação em oncologia, assim como à inovação.

A Comissão Europeia anunciou também a criação de um registo das desigualdades no domínio do cancro, para detectar disparidades e desigualdades entre os Estados-membros e regiões, e aplicar medidas para esbater estas diferenças.

O Plano Europeu é realmente muito ambicioso, com indicadores definidos a atingir, e com múltiplos ângulos de combate e criação de grupos de trabalho. Penso que nos próximos anos, assistiremos a uma revolução nos cuidados oncológicos na Europa.

O Plano Europeu irá obrigar a uma revisão e actualização do Plano Oncológico Nacional, seguindo as directrizes europeias e com ajuda de fundos europeus. Algumas das principais linhas de actuação são: melhor promoção e monitorização dos rastreios nacionais, com particular enfoque no cancro da mama, no cancro colorrectal, e cancro do colo do útero; maior equidade de acesso aos rastreios; estimular a participação dos cidadãos na sua própria saúde, com particular destaque para a adopção de estilos de vida saudáveis; reforçar e monitorizar a rede oncológica nacional de modo a permitir cuidados oncológicos de qualidade e de proximidade a todos os cidadãos e a implementação de medidas para aumento da qualidade de vida dos doentes e sobreviventes de cancro, no que diz respeito à readaptação e reintegração social e laboral.

Precisamos começar pelo básico: melhor educação e literacia em saúde, que poderão contribuir para uma adopção de estilos de vida mais saudáveis.

Implementação de rastreios nacionais com uma divulgação eficaz e capaz de mobilizar a população. Acesso a consultas e meios complementares de diagnóstico adequados e em tempo útil, para que o diagnóstico seja o mais precoce possível.

Acesso a tratamentos oncológicos de qualidade e de proximidade, administrados e monitorizados por equipas multidisciplinares dedicadas e com experiência, com obrigatoriedade de publicação dos seus resultados.

Sou de opinião que os doentes deveriam poder escolher o local onde querem ser tratados, público ou privado, de forma célere e sem desigualdades regionais. O acesso a terapêuticas inovadoras, e mais caras, nem sempre se faz de forma igual, entre as diferentes regiões do país, situação que deveria ser corrigida.

Como oncologista gostaria que houvesse mais ensaios clínicos no nosso país, com uma boa estrutura para apoiar os profissionais de saúde. A investigação implica a colaboração de diversos profissionais, e não só médicos.

A principal mensagem é que todos somos responsáveis pelo estado das coisas e pela capacidade de modificá-las e melhorá-las. A sociedade civil, os doentes com cancro, os sobreviventes de cancro, familiares e cuidadores têm um papel importantíssimo a desempenhar. Não podem desistir e ficar à espera que os outros actuem. Têm de ser mais interventivos e exigentes. Não podem ficar à espera de que as autoridades de saúde, profissionais de saúde ou outras entidades oficiais desempenhem o papel que, também, cabe aos interessados.

Por outro lado, gostaria de deixar uma mensagem de esperança porque os tratamentos são cada vez mais e mais eficazes, aumentando as taxas de sucesso e cura. E, atente, que mesmo em tempos de pandemia por covid-19, as instituições de saúde estão preparadas para tratar o cancro em segurança e, como tal, não deve, por receio de contágio, adiar a procura de um médico caso detecte alguma alteração significativa na sua saúde.