A conversão de Rio às glórias do futebol

Ao ser conhecida a candidatura do antigo treinador do Futebol Clube do Porto António Oliveira para a Câmara de Gaia, Rui Rio deixa cair a velha e solitária causa.

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Nuno Ferreira Santos

Há pouco mais de seis meses, 13 de Setembro, Rui Rio condenava a decisão de António Costa e de Fernando Medina de integrarem a comissão de honra de Luís Filipe Vieira às eleições do Benfica. Rio tinha um historial de recusar misturas entre política e futebol, o que foi evidente nos seus mandatos enquanto presidente da Câmara do Porto. O futebol era “acima de tudo emoção e a política acima de tudo teria de ser racionalidade”, defendia, em Setembro passado, Rui Rio. Na verdade, nesta sua justa luta sempre esteve sozinho. Praticamente em todos os partidos, nomeadamente no PS, sempre existiram e continuam a existir dirigentes de topo que acham perfeitamente normal misturar os cargos públicos com esta irracionalidade.

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Há pouco mais de seis meses, 13 de Setembro, Rui Rio condenava a decisão de António Costa e de Fernando Medina de integrarem a comissão de honra de Luís Filipe Vieira às eleições do Benfica. Rio tinha um historial de recusar misturas entre política e futebol, o que foi evidente nos seus mandatos enquanto presidente da Câmara do Porto. O futebol era “acima de tudo emoção e a política acima de tudo teria de ser racionalidade”, defendia, em Setembro passado, Rui Rio. Na verdade, nesta sua justa luta sempre esteve sozinho. Praticamente em todos os partidos, nomeadamente no PS, sempre existiram e continuam a existir dirigentes de topo que acham perfeitamente normal misturar os cargos públicos com esta irracionalidade.

A solidão política de Rui Rio acabou. Não porque tenham nascido movimentos para acabar com a promiscuidade entre política e futebol, mas porque, de moto próprio, o líder do PSD desistiu. Ao ser conhecida a candidatura do antigo treinador do Futebol Clube do Porto António Oliveira à Câmara de Gaia, Rui Rio deixa cair a velha, solitária e importante causa. António Oliveira pode não ter cargos na estrutura dirigente do Futebol Clube do Porto, mas tem o peso de ser o maior accionista individual do clube.

A sua projecção mediática advém exclusivamente de ser um homem do mundo do futebol, esse mundo que dantes Rio preferia não confundir com a política. Antigo jogador de futebol e seleccionador nacional, António Oliveira costuma ser apontado como um dos possíveis candidatos a suceder a Pinto da Costa, numa lista de “happy few” que também inclui o actual presidente da Câmara do Porto Rui Moreira, recandidato ao cargo e que agora não tem o apoio de Rio.

Claro que “os outros” também são assim. Eduardo Vítor Rodrigues, o presidente da Câmara de Gaia e candidato do PS, que Oliveira vai defrontar, faz parte do conselho superior do Futebol Clube do Porto. Um conselho a que também pertencem Rui Moreira, o presidente da Câmara do Porto, o jovem presidente da concelhia do Porto do PS e deputado Tiago Barbosa Ribeiro, o antigo adversário de Rio no PSD Luís Montenegro ou o vereador da Câmara do Porto e eurodeputado do PS Manuel Pizarro. Mas foi contra esta promiscuidade que sempre marcou o PS e o PSD que Rui Rio sempre se bateu.

A candidatura de António Oliveira marca a passagem de Rio para a outra margem, a da tal misturada que, como dizia o presidente do PSD, em Junho, na TVI, “dava asneira”. No “rebranding” autárquico de Rui Rio dava, mas já não dá.