Covid-19: Mercado global da arte caiu 22% mas vendas online duplicaram em 2020

Relatório anual sobre o sector publicado pela feira suíça Art Basel com o banco UBS foi divulgado esta terça-feira.

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O Tríptico Inspirado na Oresteia de Ésquilo de Francis Bacon foi vendido pela Sotheby's num leilão sem público DR

O mercado global da arte caiu 22% em 2020, devido à pandemia, no que configura a maior quebra do negócio num só ano desde a recessão de 2009. As vendas online, porém, duplicaram, indica o relatório anual publicado pela feira suíça Art Basel com o banco UBS, divulgado esta terça-feira.

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O mercado global da arte caiu 22% em 2020, devido à pandemia, no que configura a maior quebra do negócio num só ano desde a recessão de 2009. As vendas online, porém, duplicaram, indica o relatório anual publicado pela feira suíça Art Basel com o banco UBS, divulgado esta terça-feira.

No mesmo período, o sector perdeu 4% dos postos de trabalho em relação a 2019. No total, garantia emprego a 2,9 milhões de pessoas no final do ano passado.

De acordo com o relatório The Art Basel/UBS Global Art Market 2021, que reúne dados fornecidos por galerias, coleccionadores, casas de leilões e outros agentes do sector relativos à actividade de 2020, o mercado de vendas atingiu os 50,1 mil milhões de dólares (41,98 mil milhões de euros) no final do ano passado.

Apesar da quebra de 22%, em 2020, o documento indica que as vendas de arte online duplicaram, atingindo uma movimentação recorde de 12,4 mil milhões de dólares (10,39 mil milhões de euros), com a quota das receitas neste formato a triplicar, de 13% para 39%.

Segundo o relatório, Estados Unidos, Reino Unido e China dominam o mercado digital, mobilizando, em conjunto, 82% das vendas: neste segmento, os Estados Unidos representam 42%, seguindo-se o Reino Unido, com 20%, em paridade com a China.

Relativamente às casas de leilões, os resultados foram mistos, com as vendas em formato online a subirem 36%, para 3,2 mil milhões de dólares (2,68 mil milhões de euros), enquanto as vendas presenciais tiveram uma quebra de 30% nos resultados, para 17,6 mil milhões de dólares (14,74 mil milhões de euros).

Mais de metade das feiras de arte foram canceladas (61%), proporcionando aos negociantes de arte apenas 13% do seu rendimento, mas com o seu regresso, este ano, deverão voltar também 80% dos coleccionadores milionários, prevê o relatório.

Ainda no que diz respeito aos coleccionadores, manifestou-se um aumento do interesse no mercado da arte, com a chamada geração Y (millennials, em inglês) a mostrar-se a mais gastadora. Mais de um terço das compras desta geração superou o milhão de dólares (837 mil euros).

Segundo o relatório, o gasto médio dos coleccionadores subiu 13%, mas em geral estes compraram de forma conservadora, com quase metade (46%) a focar-se em galerias de que são clientes habituais.

O relatório sublinha ainda o papel das redes sociais durante a pandemia, considerando-as um canal determinante para expandir mercados, chegar a novos públicos e ampliar vendas. Um terço dos coleccionadores de arte admitiu ter usado o Instagram em 2020 para decidir sobre transacções. E perto de metade dos compradores (45%) asseguraram ter feito pelo menos uma compra através das salas virtuais abertas por galerias e feiras, em alternativa ao mercado presencial.

O relatório indica igualmente que, em 2020, o mercado global da arte mobilizou 2,9 milhões de trabalhadores, menos 4% do que no ano anterior, e mais de 300 mil empresas.

Na segunda-feira, também foi divulgado o relatório da empresa francesa Artprice, sobre o mercado internacional de arte em 2020, que indicava quebras de facturação da ordem dos 21%, e a viragem substancial dos negócios para o mundo digital, devido à pandemia.

Publicado anualmente pela empresa líder de informação sobre o mercado de arte, o relatório da plataforma Artprice reúne sobretudo os resultados do volume de negócios, em leilão, de peças de arte, datadas do século XVII até à actualidade, em pintura, escultura, desenho, fotografia, gravura, vídeo, instalações, tapeçaria, excluindo mobiliário e automóveis.

Sob confinamentos sucessivos, em muitos países, ao longo de 2020, os leilões de arte à distância tornaram-se o “novo normal”, assim como as vendas totalmente online, sem leiloeiro, indicava o mais recente relatório da empresa francesa, que gere uma base de dados de centenas de milhares de transacções, em leilão, e de valores de vendas de mais de 630 mil artistas.

O desempenho chinês é o que mais se destaca no documento da Artprice relativo a 2020: a China atingiu o primeiro lugar em volume de negócios no sector, depois de ter ficado quatro anos atrás dos Estados Unidos, e pesa actualmente 39% neste mercado.

Do “bolo” das vendas, 27% ficam para os Estados Unidos, onde a pandemia teve fortes repercussões, enquanto o Reino Unido atinge 15%.

“A China soube criar um mercado interno, com limitações das exportações, e viu nascer novas casas de leilões”, notou Thierry Ehrmann. Depois de um primeiro semestre de 2020 marcado pelo confinamento, as vendas tiveram forte evolução no país.

Na Europa, a França sofreu uma forte queda, com um volume de negócios de 483 milhões de euros, menos 31% do que em 2019, na linha das quebras do Reino Unido (-30%), e da Itália (-32%).

A Alemanha, no entanto, concluiu o ano no verde, menos afectada pela pandemia, com uma subida de 11% nas vendas.

Nas transacções de 2020, destacam-se o tríptico do artista irlandês Francis Bacon, vendido por 84,6 milhões de dólares (cerca de 75 milhões de euros), num leilão realizado pela Sotheby's, em Londres, já sem presença de público.