Choque com covid-19 leva turismo para níveis de 1993

No ano passado houve uma queda superior a 60% em hóspedes e dormidas, tendo este último indicador regressado a valores que não eram vistos há 27 anos.

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Dormidas de estrangeiros cairam 74,9% em 2020 Rui Gaudencio

Os alojamentos turísticos registaram 10,5 milhões de hóspedes e 26 milhões de dormidas no ano passado, o que representa quedas de 61,2% e de 63% face a 2019, respectivamente, causadas pelo efeito da pandemia de covid-19.

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Os alojamentos turísticos registaram 10,5 milhões de hóspedes e 26 milhões de dormidas no ano passado, o que representa quedas de 61,2% e de 63% face a 2019, respectivamente, causadas pelo efeito da pandemia de covid-19.

De acordo com a estimativa rápida publicada esta segunda-feira pelo INE, é preciso recuar a 1993 para se encontrar um número de dormidas mais reduzido (23,6 milhões). 

Olhando para o número de hóspedes, o recuo é até 2003, com 10,4 milhões, de acordo com a série histórica do INE. Pelo meio, houve duas quebras de série, com alterações na forma como os dados são contabilizados. A última foi em 2013, quando se incluíram as unidades de alojamento local (AL) com dez ou mais camas (os outros AL ainda estão fora da análise) e de turismo rural.

Os números relativos a Dezembro mostram, no entanto, uma ligeira melhoria face a Novembro, com 462,5 mil hóspedes e 972,7 mil dormidas, o que, nota o INE, corresponde a variações de -70,7% e -72,3%, respectivamente (-76,8% e -76,9% em Novembro, pela mesma ordem).

Nesse mês, 50% dos estabelecimentos de alojamento turístico encerraram ou não tiveram hóspedes. Aliado a medidas do Governo com o layoff simplificado, esta tem sido uma das formas de as empresas reagiram à queda da procura. Em 2019, e perante um sector em crescimento, estavam contabilizados 6833 estabelecimentos turísticos, mais 20% do que no ano anterior e o dobro do que se verificava em 2013.

Suporte interno

Os números do ano passado, que começaram a cair em Março (depois de um ciclo de vários anos de crescimento), só não foram piores porque o mercado interno não caiu tanto como o mercado externo. De acordo com os dados do INE, os portugueses foram responsáveis por 13,6 milhões de dormidas (-35,3%) e os mercados externos por 12,3 milhões de dormidas (-74,9%). No caso dos principais mercados externos, o Reino Unido foi o que teve a pior performance, com menos 78,5% dormidas face a 2019, cabendo a Espanha a evolução menos negativa, mas que ainda assim foi de -65,9%.

O Alentejo foi a região que melhor resistiu ao choque, com menos 37,3% de dormidas (para 1,84 milhões), cabendo as maiores quedas à Área Metropolitana de Lisboa, com -71,5% (para 5,31 milhões), e aos Açores, com -71,1% (para 659 mil). A Madeira teve uma descida de 67,2% (para 2,44 milhões), seguindo-se o Algarve com -62,1% (7,92 milhões), o Norte com -59,1% (para 4,41 milhões) e o Centro com -52,6% (para 3,38 milhões).

Receitas afundam

Os dados do INE sobre os proveitos do sector alojamento turístico só serão conhecidos no próximo dia 15 deste mês. Mas, olhando para o acumulado até Novembro, estes foram de 1404 milhões de euros, menos 65,7% face a idêntico período de 2019.

Já ao nível das exportações de viagens e turismo (ou seja, o dinheiro que entrou em Portugal devido aos turistas estrangeiros), contabilizadas pelo Banco de Portugal, verifica-se uma queda de 55,8% para 7679 milhões de euros nos primeiros 11 meses do ano.

O saldo entre exportações e importações continua a ser positivo, mas “encolheu” 61% para 4847 milhões de euros (com efeitos negativos ao nível do saldo do total da balança comercial).