Agricultores indianos em greve de fome para protestar contra a reforma agrária

Depois de uma semana de violência, líderes agrícolas invocaram a figura de Gandhi para garantir que a sua luta de dois meses é pacífica. Governo mandou bloquear os serviços de internet móvel nos arredores da capital.

Foto
Os agricultores lutam há dois meses para obrigar o Governo a recuar na sua reforma agrária ADNAN ABIDI/Reuters

O Governo indiano mandou bloquear os serviços de internet móvel nos arredores de Nova Deli, no dia em que os manifestantes fizeram greve de fome para assinalar o aniversário da morte de Mahatma Gandhi, a inspiração da resistência pacífica no fim de uma semana de muita violência que resultou num morto e centenas de feridos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O Governo indiano mandou bloquear os serviços de internet móvel nos arredores de Nova Deli, no dia em que os manifestantes fizeram greve de fome para assinalar o aniversário da morte de Mahatma Gandhi, a inspiração da resistência pacífica no fim de uma semana de muita violência que resultou num morto e centenas de feridos.

Zangados com as novas leis agrícolas implementadas pelo executivo do nacionalista Narendra Modi, que, segundo os agricultores, beneficiam os grandes compradores privados de alimentos em prejuízo dos produtores, dezenas de milhares estão acampados nos arredores da capital indiana há dois meses para tentar obrigar o Governo a recuar num pacote legislativo que o Supremo Tribunal suspendeu a 12 de Janeiro.

Esta semana houve uma marcha de tractores em direcção a Deli e os manifestantes chegaram a ocupar o simbólico Forte Vermelho, onde o primeiro-ministro faz um discurso à nação todos os anos.

No acampamento mais importante do protesto, junto à aldeia de Singhu, nos arredores a norte de Nova Deli, a polícia reforçou a sua presença este sábado, à medida que chegavam centenas de tractores vindos de Haryana, um dos dois principais estados no centro do protesto.

“Muitos grupos de agricultores juntaram-se ao protesto desde ontem à noite [sexta-feira]”, afirma Mahesh Singh, agricultor de 65 anos, originário de Haryana. “Vieram para mostrar o seu apoio e mais agricultores são esperados nos próximos dois dias”.

O Ministério do Interior indiano justificou a decisão de cortar os serviços de Internet em três áreas dos arredores de Nova Deli até às 23h de domingo (17h30 em Portugal continental) onde estão os manifestantes “para manter a segurança pública”.

Esta é uma prática habitual das autoridades indianas quando prevêem que possa vir a haver conflitos em certas áreas, no entanto, é mais incomum em Nova Deli.

A escolha simbólica do aniversário da morte do pai da independência da Índia, assassinado a 30 de Janeiro de 1948, pretende demonstrar que, apesar dos choques violentos entre a polícia e grupos de manifestantes, o movimento dos agricultores é essencialmente não-violento.

“O movimento é pacífico e continuará pacífico”, afirmou Darshan Pal, líder do Samyukt Kisan Morcha, frente de sindicatos de agricultores que organizam os protestos. “Os acontecimentos de 30 de Janeiro serão organizados para difundir os valores da verdade e da não violência.”