Aumento “notável” de casos em Portugal ligado ao relaxamento no Natal e variante inglesa do vírus, diz ECDC

Centro Europeu de Controlo de Doenças divulga dados mais recentes sobre a evolução da pandemia e também sobre os riscos das novas variantes já identificadas.

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As escolas vão encerrar durante quinze dias, para tentar travar o avanço da covid-19 Daniel Rocha

Portugal tem tido “um aumento notável” de casos de covid-19 nas últimas semanas, atribuído “sobretudo” ao relaxamento das medidas de contenção do vírus da época festiva do final do ano e, “em menor escala” à variante britânica do SARS-CoV-2, já identificado em algumas regiões do país. A frase está no relatório Risco de propagação das novas e preocupantes variantes da SARS-CoV-2, que o Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa) disponibilizou esta quinta-feira.

O mesmo organismo divulgou também os dados referentes aos primeiros 14 dias do ano sobre as notificações de novos casos e de mortes por covid-19, em que é possível ver a degradação da situação em Portugal. Neste período, o país teve 178,27 óbitos por um milhão de habitantes.

As medidas menos restritivas no Natal e a variante inglesa do novo coronavirus contribuíram para estes números, refere o ECDC, que lançou um documento exclusivamente dedicado à preocupação em torno das variantes com o que mundo tem estado a lidar nas últimas semanas — a britânica, a sul-africana e a brasileira.

Segundo os dados do ECDC, a 19 de Janeiro, a variante britânica já tinha sido identificada em 10 países da União Europeia/Área Económica Europeia, incluindo Portugal, onde, no dia 12, as autoridades davam conta da existência de 72 casos desta variante. Neste momento, a estimativa é que já existam cerca de 30 mil casos da variante do Reino Unido, o que é um bom indicador da velocidade a que a doença se tem espalhado e alterado no país nas últimas semanas.

O ECDC considera que a alta transmissibilidade destas variantes acarretam “um risco muito elevado” de se espalharem pela comunidade, o que deverá levar a “um aumento do número de infecções”. E apela para que os estados continuem a monitorizar quaisquer mudanças nas cadeias de transmissão e a preparar-se para aplicar medidas mais restritivas de combate ao vírus, para tentar travar a sua elevada transmissibilidade. Por cá, uma dessas medidas passa pelo encerramento de todos os níveis de ensino durante 15 dias, como anunciou esta quinta-feira o primeiro-ministro António Costa. 

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Além destes documentos hoje revelados, o ECDC avalia também a evolução da pandemia a nível nacional, comparando os dados de 30 países da UE/EEA ao nível da incidência por 100 mil habitantes e da taxa de mortalidade por milhão de habitantes, no período de 14 dias que abarca as primeiras duas semanas do ano. E segundo estes dados, Portugal está bem pior do que no relatório da semana anterior

Nessa altura, o país estava na 5.º posição, daqueles que tinham mais incidência de casos covid-19 a 14 dias, com 901,34 casos por 100 mil habitantes. O relatório desta quinta-feira mostra que o país está agora no 3.º lugar, com 1215,19 casos por cada 100 mil habitantes, no período analisado. Pior mesmo, neste pouco apetecível pódio, só a Irlanda, com 1444,44 casos por 100 mil habitantes, e a República Checa, com 1362,82 casos. 

Olhando para a taxa de notificação de mortes por milhão de habitantes, a 14 dias, a evolução pela negativa do país é ainda pior. Na semana anterior, Portugal ocupava a 11.º posição, com 121,44 mortes por milhão de habitantes. Agora, o país saltou para o 6.º lugar com 178,27, numa lista que continua a ser encabelada pelo Liechtenstein, com 390,85 mortos por milhão de habitantes (ainda assim, uma melhoria considerável, já que o valor anterior deste país era 573,2 mortes por milhão de habitantes). 

Pior do que Portugal neste indicador estão ainda a Eslovénia (230,67), a República Checa (223,38), a Lituânia (185,74) e a Eslováquia (184,39).

O relatório do ECDC é divulgado semanalmente, às quintas-feiras. Apesar de ajudar a traçar um panorama global da Europa quanto à evolução da covid-19 (e a situar a forma como Portugal está a evoluir dentro desse universo), há um desfasamento normal entre o cenário revelado por estes dados e a realidade dos últimos dias.

No caso de Portugal é de esperar que os próximos relatórios da ECDC - que se deverão debruçar sobre o período que acabamos de atravessar - venham a colocar o país ainda numa posição pior, já que o número de casos, bem acima dos 10 mil, e também de mortes associadas à covid-19 têm estado persistentemente elevados nos últimos dias.

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