Cantar os Reis em Ovar é Património Cultural Imaterial de Portugal

Tradição secular e diferenciadora, assim é considerado o Cantar os Reis em Ovar, uma prática reconhecida como Património Cultural Imaterial de Portugal. 2021 deveria ser o grande ano da celebração desta tradição, contudo, a actual crise pandémica obrigou a uma adaptação do programa.

estudio-p,
Fotogaleria
O coro infantil a Cantar os Reis D.R.
estudio-p,
Fotogaleria
Em 2020 D.R.
estudio-p,
Fotogaleria
Na Assembleia da República em 2008 D.R.

Apesar de partilhar algumas características com outras práticas em Portugal e na Europa, designadas de “Cantar os Reis” ou “Cantar as Janeiras”, em Ovar esta prática sofreu, ao longo dos anos, um processo de codificação artística, social e performativa, adquirindo um recorte cultural próprio, sofisticado ao nível da composição musical e poética, e especializado ao nível da performance. Foram estes e outros motivos que conduziram à classificação a Património Cultural Imaterial de Portugal, tendo sido publicada a inscrição em Diário da República (Anúncio n.º 265/2020 - Diário da República n.º 228/2020, Série II de 2020-11-23).

Na impossibilidade de celebrar o Dia de Reis – 06 de Janeiro - com as troupes “reiseiras” em 2021, como é habitual, a Câmara Municipal de Ovar associa a efeméride dos 150 anos do nascimento de António Dias Simões, considerado, por muitos, o “pai fundador” desta tradição, ao Cantar os Reis, no presente ano, explorando e dando a conhecer a sua extraordinária capacidade criadora, associada a alguma leveza humorística que também o caracterizava, com um projecto que brota da comunidade e a tem como destinatária.

Assim, será apresentado o espectáculo multidisciplinar “Troupe de Reis António Dias Simões” nos dias 08 e 15 de Janeiro, pelas 21 horas, no Centro de Arte de Ovar. Com direcção artística de Pedro Martins, este espectáculo resulta do envolvimento e participação de diversas entidades e pessoas que, de forma briosa, trabalharam na criação de um espectáculo que parte da evocação da vida e obra de António Dias Simões e culmina na celebração da tradição do Cantar os Reis em Ovar.

O espectáculo é constituído por músicas do “Cantar os Reis em Ovar”, com letras e músicas originais e adaptadas de António Dias Simões e os descendentes Amélia Dias Simões e Edwiges Pacheco, e momentos de poesia e encenação/coreografia de excertos de livros/peças teatrais de António Dias Simões.

Cantar os Reis em 1897 D.R.
Cantar os Reis em 1910 D.R.
Cantar os Reis em 1917 D.R.
Cantar os Reis em meados do século XX. D.R.
Cantar os Reis nos anos 60. D.R.
Cantar os Reis nos anos 70. D.R.
Cantar os Reis nos anos 80. D.R.
Cantar os Reis nos anos 90. D.R.
Fotogaleria
Cantar os Reis em 1897 D.R.

A história do Cantar os Reis em Ovar

A tradição das Troupes de Reis remonta aos finais do século XIX. Tinha inicialmente alguma semelhança com as «Janeiras» que têm lugar um pouco por todo o país, mas adquiriu características próprias e originais em Ovar. Em 1893, com o especial patrocínio de João Alves Cerqueira, um conceituado comerciante da praça vareira de então, nasceu a primeira Troupe – a dos “Reis dos Alves” ou “Troupe dos Velhos” e logo outras começaram a surgir.​

O Cantar os Reis em Ovar distingue-se dos restantes pelo facto de, apesar de serem imbuídas de um saudável amadorismo e surgidas de forma espontânea, as Troupes vareiras exigem de si mesmas o mínimo de qualidade interpretativa e melodiosa. Desta forma, as exibições são minuciosa e antecipadamente ensaiadas; o leque de instrumentos tocado é muito variado e inclui o violão, o bandolim, o banjolim, a bandola e até o violino; o desempenho vocal é muito importante e manifesta-se em belas exibições de solistas e coros; as toadas, em jeito de balada, têm letras inéditas e músicas inéditas ou adaptadas. Destaque ainda para a estrutura do Cantar dos Reis, que é constituído tradicionalmente por três trechos: A Saudação onde é louvada a Noite Santa dos Reis e são saudados os presentes; A Mensagem onde se celebra o nascimento de Jesus e os seus ensinamentos; e O Agradecimento, em tom bastante mais ligeiro, no qual são pedidas as ofertas habituais e é agradecida a hospitalidade.

A qualidade das Troupes de Reis vareiras desde cedo cativou e impressionou o público, e o que representava um simples acto de cantar as boas festas a favor de obras sociais cresceu e tornou-se num evento de cariz cultural. Assim, as Troupes passaram a apresentar-se num espaço comum, nas Praças, no Salão Nobre dos Paços do Município, no Cine-Teatro, no Centro de Arte de Ovar, onde todos podem assistir e apreciar uma tradição com mais de cem anos.