Há uma sala que segue todas as vacinas em Portugal. “Este polvo tem braços que se vão espalhando até onde é necessário chegar”

A pequena sala no terceiro piso do Ministério da Saúde regista o número de vacinas que chegam em Portugal, por onde circulam e quantas são administradas. Em caso de problemas, há forças de intervenção prontas para actuar. Na sala, o desentendimento entre a PSP de Évora e a GNR é visto como “um evento isolado”.

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José Sarmento Matos
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Às 17h de ontem, Portugal já tinha recebido 60.450 doses de vacinas contra a covid-19: destas, 29.970 tinham sido distribuídas por todo o país e 18.439 tinham sido administradas. Não havia vacinas a viajar àquela hora, mas, se existissem, seria possível saber a matrícula, rota e localização exacta das viaturas em que seguiram na sala de situação — um pequeno espaço montado no terceiro piso do Ministério da Saúde, na Avenida João Crisóstomo, em Lisboa.

“Em caso de imprevistos, existem várias equipas de intervenção preparadas para agir”, esclarece ao PÚBLICO o secretário de Estado da Saúde, Diogo Serras Lopes, durante uma visita à sala de operações que foi criada para acompanhar e controlar a chegada e distribuição das vacinas em Portugal. “A gestão do plano de vacinação é toda coordenada a partir daqui”, explica. “O funcionamento simula um polvo que tem braços que se vão espalhando até onde é necessário chegar.”

O PÚBLICO pôde ver a sala ontem durante uma conferência de imprensa do ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, sobre o centro das operações. “A sala de situação permite corrigir e cruzar dados muito diferentes”, destacou o Ministro da Defesa após a visita.

Por norma, a sala está aberta das 8h às 20h (“Mas há dias mais longos”, sublinha Serras Lopes) com representantes do Ministério da Saúde, especialistas das forças armadas, PSP e GNR no local distribuídos por várias “células” (de logística, de comunicação estratégica, de vacinação). Há sempre cerca de seis pessoas a trabalhar na sala, mas ao todo a equipa reúne cerca de três dezenas de profissionais. O secretário de Estado senta-se ao centro, à frente dos três ecrãs que registam o número de doses de vacinas a chegar, as viagens destas doses em solo nacional e as notícias do dia.

“Se existir um problema, nós vamos saber. Não usamos câmaras nas viaturas, mas todos os carros têm um geolocalizador e todas as viaturas são acompanhadas por forças de segurança, seja da PSP ou da GNR, dependendo da zona”, continua Serras Lopes. “Até agora, as rotas chegaram sempre dentro das horas previstas. O processo correu francamente bem”, reflecte. “O que aconteceu em Évora parece-me um exemplo perfeitamente isolado.”

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O ministro da Defesa João Gomes Cravinho visitou o espaço esta quarta-feira José Sarmento Matos

Évora foi “evento isolado”

Na passada segunda-feira, um desentendimento entre a PSP de Évora e a GNR impediu a saída da carrinha que fazia a distribuição da vacina contra a covid-19 no Sul do país. Embora a segurança daquela carrinha estivesse a cargo da GNR, a PSP de Évora considerou que se tratava da sua área de jurisdição. O caso está a ser investigado com o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, a determinar “a abertura de um inquérito urgente” por parte da Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI).

“A investigação está a cargo do IGAI”, sublinha o secretário de Estado da Saúde. “Penso que a vacina só esteve parada 20 minutos. Ser esse o ‘incidente’ marcante quer dizer que as coisas estão a correr bem”, nota. E acrescentou: “Sejamos claros, foram realizadas mais de 100 rotas de distribuição com sucesso”.

A opinião é partilhada pelo vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, adjunto para o Planeamento e Coordenação no Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA).

“Não há incidentes, há necessidades que surgem e que precisam de soluções rápidas”, diz ao PÚBLICO Henrique Gouveia e Melo, outra presença habitual na sala. “É para isso que cá estamos. [As forças armadas] têm uma cultura organizacional preparada para trabalhar em situações de stress e risco. E este ambiente é muito idêntico a uma operação militar devido a estes factores”, explica. “É preciso alertar e convocar pessoas para serem vacinadas e trabalhar com vacinas que têm prazos limitados para ser administradas por causa das condições de frio que exigem.”

Um dos problemas é que a eficácia das vacinas está dependente de uma “cadeia de frio”: é preciso garantir o armazenamento a 70 graus Celsius negativos nos locais de entrega e armazenamento (onde apenas podem ficar seis meses). Depois disso, podem ser armazenadas até 30 dias em caixas térmicas até serem administradas.

Apesar do balanço positivo, o secretário de Estado da Saúde alerta que o processo de vacinação será longo. “Prevemos dias de trabalho intenso nas próximas semanas”, reconhece Serras Lopes, de frente dos ecrãs. “Vacinar o maior número de pessoas no menor tempo possível é uma obrigação e objectivo evidente para o Governo e para todos os ministérios envolvidos no processo”, resume Serras Lopes. “Até termos uma percentagem favorável da população vacinada em Portugal, ainda vai demorar.”

A sala de situação, única no país, é descrita como um elemento central no processo. “É um exemplo de cooperação entre ministérios e da importância de ter um plano definido”, remata o secretário de Estado da Saúde.

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