Portugal vai formar militares de Moçambique e apoiar logística

É uma missão não executiva, que não envolve combates, mas treino de forças especiais, de intervenção rápida e de fuzileiros contra os jihadistas.

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João Gomes Cra vinho durante a visita a Maputo LUSA/LUÍZA NHANTUMBO

Portugal vai apoiar Moçambique na organização logística e capacitação de militares para fazer face aos grupos rebeldes que têm protagonizado ataques armados na província de Cabo Delgado, disse esta sexta-feira à Lusa, em Maputo, o ministro da Defesa português.

“A partir do início de Janeiro virá uma equipa de militares portugueses para trabalhar com o Estado-Maior General das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique no desenho do projecto, que queremos que comece muito rapidamente”, disse João Gomes Cravinho, no último dia da visita de trabalho que realiza a Moçambique desde quarta-feira.

Segundo o governante português, a formação, a ser feita em Moçambique, vai abranger as forças de intervenção rápida, forças especiais, fuzileiros e militares da área do controlo aéreo táctico, tendo sido definidas como as “áreas de interesse específico” a ciberdefesa, a cartografia, a hidrografia e a cooperação industrial de defesa.

“Nós estamos a falar de uma missão não executiva. O que nós vamos fazer é dar apoio às autoridades moçambicanas para que elas possam exercer a sua soberania”, frisou João Gomes Cravinho.

Para o ministro, o terrorismo no Norte de Moçambique tem algumas especificidades locais e o primeiro elemento importante para travar as incursões destes grupos é “conhecer o inimigo”.

“O aparecimento do terrorismo no norte de Moçambique tem algumas características em comum com o terrorismo em outras partes do mundo, particularmente na costa africana. Mas também tem especificidades locais. Portanto, é fundamental perceber aquilo que vem de fora e aquilo que se desenvolveu com raízes nacionais”, declarou.

João Gomes Cravinho disse ainda que Portugal, que assume a presidência da União Europeia no primeiro semestre de 2021, vai procurar reforçar o pedido de apoio já feito por Maputo a Bruxelas”. É uma coincidência muito favorável. Vamos utilizar esta presidência para reforçar a capacidade de resposta da UE face às necessidades no terreno”, declarou João Gomes Cravinho.

A província de Cabo Delgado está desde há três anos sob ataque de insurgentes e algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo jihadista Daesh.

A violência está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.

Durante a visita de João Gomes Cravinho, além da violência armada em Cabo Delgado, as partes debateram aspectos ligados à resposta à covid-19, tendo Portugal manifestado abertura para apoiar Moçambique no seu plano nacional de vacinação.

Moçambique e Portugal têm um acordo de cooperação na área da defesa desde 1988 e a visita de trabalho do ministro da Defesa português a Moçambique tinha em vista a negociação de um novo programa de cooperação bilateral no domínio da Defesa e o estreitamento de relações com África no âmbito da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia (PPUE), que se iniciará em Janeiro.

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