Como é que a pandemia é sentida por alguém com deficiência? "Isto é mais duro do que parece, mas a vida tem de continuar"

Na Fudanção AFID Diferença, em Alfragide, a resposta vai-se construindo dia-a-dia. Os jovens e adultos que a instituição acolhe têm, em geral, consciência do tempo excepcional em que vivemos e acusam alguma ansiedade. Mas, para já, a solução é aplicar um "penso rápido", diz Ana Cristina Fernando, a directora de acção social da instituição.

Já passaram nove meses desde o início da pandemia e dentro dos portões da AFID não há um "novo normal". Há uma gestão diária que procura dar segurança e estabilidade emocional aos jovens e adultos com deficiência que procuram a instituição.

A rotina diária foi toda alterada: Catarina Seixo, de 23 anos, e que frequenta o Centro de Recursos para a Inclusão, deixou de trabalhar na creche da Santa Casa da Misericórdia. A jovem explica que os seus tiques e manias obsessivo-compulsivos aumentaram e reconhece que passou a chatear mais os pais "sempre com as mesmas perguntas".

Noutra sala, Isabel Silva, 22 anos, confessa ter saudades da amiga Filipa. Isabel frequenta a AFID apenas durante o dia e por isso não pode ter contacto com os amigos que vivem no lar. Ricardo Galante, 47 anos, vive no lar, e lamenta a falta de liberdade. Se sair, tem de fazer quinze dias de quarentena ao regressar. Já não vai aos treinos de boccia nem à escola onde trabalhava como telefonista.

Gerir todas estas expectativas não é fácil, mas o mais difícil já passou, revela Cristina Santos, técnica do atelier de cerâmica. "A grande mudança foi no princípio. Depois, fomo-nos adaptando e percebendo um bocadinho melhor."

Foram feitas as adaptações necessárias. A fundação tem espaço interior e exterior suficientes para criar diversos circuitos que minimizam os contactos e permitem o funcionamento de algumas actividades, apesar da pandemia. Mas nada disto se tornou normal, sublinha Cristina. "Isto é mais duro do que parece. Nós não nos entendemos neste tempo, eu acho que é isso. Não nos entendemos numa sociedade que está assustada." A questão é que "a vida tem mesmo de continuar".