Cartas ao director

Carta aberta ao ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital

Caro senhor ministro, invisto em alojamento local há cinco anos e sou proprietário de três hostels. Nunca usufruí pessoalmente da rentabilidade da minha actividade, já que todo o resultado financeiro que obtive foi reinvestido na mesma. Não me arrependo. 

Ao longo dos últimos oito meses, perdi noventa por cento dos meus clientes, opero com prejuízo, e vi encerrar alojamentos um pouco por todo o país. Resisti, reinventei-me, consegui evitar o encerramento dos meus espaços, e consegui evitar condenar os meus colaboradores ao desemprego. Foi neste cenário de crise pandémica e de sobrevivência que recebi a sua portaria 262/2020, que nos diz essencialmente que o governo não quer hostels em Portugal. Fiquei incrédulo e estupefacto. Perguntei-me como era possível que, na situação que atravessamos, a prioridade do ministro da Economia fosse desferir este ataque cruel ao turismo português, um dos poucos sectores que ao longo dos últimos anos conseguiram contribuir para alimentar a nossa magra economia.

Piorou quando ouvi os seus argumentos: “não é este o turismo que o governo quer”. Compreendo que o senhor ministro e os seus colegas de governo prefiram outro tipo de turismo, com quartos espaçosos, poucas camas e muitas casas de banho. Mas não lhe parece razoável permitir que os turistas que nos voltarão a visitar quando a tremenda crise que atravessamos passar possam escolher entre uma ampla oferta de possibilidades que os operadores de turismo portugueses foram capazes de construir?

Apenas quatro dias antes da publicação desta portaria, Portugal foi eleito pelo quarto ano consecutivo como o Melhor Destino da Europa pelos World Travel Awards. Este é o resultado do esforço colectivo de milhares de operadores ao longo das últimas décadas. Diz o povo que “muito ajuda quem não atrapalha”. Era a única ajuda que lhe pedíamos, senhor ministro.

Construímos em Portugal em pouco mais de dez anos uma das melhores redes de hostels do mundo, com mais de setecentas unidades, sendo que muitas das quais têm sido premiadas internacionalmente ao longo dos últimos anos. Para mim, e acredito que para a generalidade dos pequenos empresários que investiram tudo o que tinham para abrir os seus hostels, ser-me-á impossível adaptar às absurdas condições agora exigidas. Luto há oito meses pela manutenção do meu pequeno negócio e pela manutenção do trabalho das minhas equipas. Lutarei durante o próximo ano e três meses para impedir que esta tão injusta portaria se torne efectiva. Tudo farei para não ter de procurar noutro país aquilo que acredito ter o direito de pedir ao meu: que as regras não estejam constantemente a mudar durante o jogo.

Luís Nobre Lucas, Lisboa

​Greve nos CTT

Vivemos tempos conturbados no que diz respeito aos serviços prestados aos cidadãos, onde a política de implementação de redução de custos acaba por ter efeito na qualidade de tais serviços, quando todos os anos somos chamados a pagar o aumento do valor dos mesmos, sem que enquanto utentes usufruamos da qualidade que merecemos, o que não é uma boa política para a imagem da empresa.

A anunciada greve dos CTT [30 de Novembro, 2 e 3 de Dezembro] decorre da falta de percepção de quem atrás de uma secretária toma decisões sem conseguir avaliar o trabalho desenvolvido atrás de um balcão, ou nas ruas, na distribuição de correspondência, num trabalho muitas vezes sujeito ao desagrado dos cidadãos. A pergunta que se impõe é sobre o porquê de serem actualizados os salários aos quadros da empresa e não àqueles que todos os dias nas ruas dão a cara pela empresa.

Américo Lourenço, Sines

Qual crise? 

Certamente que existe crise mas, às vezes, não parece. Sou professor numa escola secundária e, este ano, devido à pandemia, cada professor acompanha uma das turmas à cantina, durante o almoço. O que é que eu constato? Sempre que o menu inclui peixe, a grande maioria dos alunos ou o rejeita logo à partida ou o deixa no prato. Numa recente sexta-feira acompanhei nove alunos de uma turma e o almoço era arroz com uma posta de salmão. Apenas três levaram o peixe. Os outros só levaram o arroz. Nos tabuleiros que os alunos, em geral, colocavam nos suportes, após o almoço, viam-se inúmeros pratos com postas inteirinhas de salmão! No meu tempo de aluno e dos meus sete irmãos, que sempre comemos em cantinas, tomáramos nós muitas postas de salmão ou outras.

Carlos Neves, Santa Maria da Feira

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