La Wally: uma avalanche para a nossa fantasia

A ópera regressou ao São Carlos para uma surpreendente versão de concerto da última obra de Alfredo Catalani, com uma potente Zarina Abaeva no papel de uma mulher que escolhe ser livre, e a quem não é fácil roubar um beijo. Última oportunidade para ver o espectáculo este domingo, às 16h.

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La Wally abriu a temporada operática do São Carlos... mas em versão de concerto DANIEL ROCHA

Uma ópera em versão de concerto convida-nos a ouvir cuidadosamente a música, mas também a fazer a nossa própria encenação imaginária. Com La Wally, obra de cruzamentos estéticos e ideias múltiplas, a tarefa não é fácil. Seria preciso decidir se haveríamos de a colocar numa estética neogótica e nocturna, ou se deveríamos antes sublinhar os seus aspectos “veristas” e o seu realismo. Se a encenação seria pejada de referências culturais (ou invenções folclóricas) do Norte da Europa, devido aos cantos tiroleses e às valsas festivas que por ali há, ou puxada para as melodias “à italiana”, que também tem. Musicalmente, poderíamos piscar um olho a Wagner e o outro a Verdi. Poderíamos encenar uma aventura romântica sublime num cenário natural grandioso, ou desenhar detalhes naturalistas para um drama familiar. Como escolher? Talvez fosse preferível mostrar isso mesmo – a quantidade de sobreposições (musicais e teatrais) que esta ópera realiza, e fazer uma encenação cheia de anacronismos, colocando-a em tempos diferentes simultâneos, e situando-a tanto em lugares reais como em lugares imaginados. Seria possível, sem fazê-la perder a unidade?

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Uma ópera em versão de concerto convida-nos a ouvir cuidadosamente a música, mas também a fazer a nossa própria encenação imaginária. Com La Wally, obra de cruzamentos estéticos e ideias múltiplas, a tarefa não é fácil. Seria preciso decidir se haveríamos de a colocar numa estética neogótica e nocturna, ou se deveríamos antes sublinhar os seus aspectos “veristas” e o seu realismo. Se a encenação seria pejada de referências culturais (ou invenções folclóricas) do Norte da Europa, devido aos cantos tiroleses e às valsas festivas que por ali há, ou puxada para as melodias “à italiana”, que também tem. Musicalmente, poderíamos piscar um olho a Wagner e o outro a Verdi. Poderíamos encenar uma aventura romântica sublime num cenário natural grandioso, ou desenhar detalhes naturalistas para um drama familiar. Como escolher? Talvez fosse preferível mostrar isso mesmo – a quantidade de sobreposições (musicais e teatrais) que esta ópera realiza, e fazer uma encenação cheia de anacronismos, colocando-a em tempos diferentes simultâneos, e situando-a tanto em lugares reais como em lugares imaginados. Seria possível, sem fazê-la perder a unidade?