S. Pedro da Cova quer requalificação de espaço onde resíduos começam a ser retirados

A partir desta segunda-feira, e ao longo de um ano, vão sair 32 camiões daqueles terrenos com 800 toneladas de lixo tóxico cada um.

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Adriano Miranda/Arquivo

População e autarquias reivindicaram em São Pedro da Cova, concelho de Gondomar, a requalificação do local onde foram depositadas toneladas de resíduos industriais perigosos, cuja remoção recomeçou na manhã desta segunda-feira após mais de cinco anos de impasse.

“Vale a pena lutar pela remoção total dos resíduos” e “Pela requalificação deste espaço” eram as frases que se liam nas faixas exibidas por algumas dezenas de pessoas junto ao estaleiro de onde sairão diariamente, a partir desta segunda-feira e ao longo de um ano, 32 camiões com 800 toneladas de lixo tóxico cada um.

Já no interior do estaleiro, numa cerimónia à qual o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, faltou por aguardar teste ao novo coronavírus, a comitiva de autarcas e técnicos presidida pelo presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), entidade dona de obra, apelou à requalificação do espaço.

“Não está cá o senhor ministro para lhe poder pedir os fundos para o arranjo do espaço, mas com certeza que a resposta será positiva. É importante que se faça justiça”, disse o presidente da câmara, Marco Martins.

O autarca classificou o dia como “histórico e feliz”, recordando o papel da autarquia que, para “viabilizar e agilizar o processo de retirada dos resíduos”, gastou cerca de 1,6 milhões de euros na expropriação de 17 hectares de terreno.

À margem dos discursos e em declarações aos jornalistas, também o presidente da União de Freguesias de Fânzeres/São Pedro da Cova, Pedro Vieira, exigiu que o espaço fosse “devolvido limpo e requalificado à população, que nunca se cansou de lutar e até foi acusada de alarmista”.

Em causa estão os terrenos onde estão depositadas toneladas de resíduos industriais perigosos provenientes da Siderurgia Nacional, que laborou entre 1976 e 1996, na Maia, numa situação que remonta a 2001/2002.

Os terrenos incluem as escombreiras das minas, o complexo mineiro, que nos anos 1930 e 40 foi responsável por cerca de 65% da produção nacional de carvão, e a zona do Cavalete do Poço de São Vicente, classificado como Monumento de Interesse Público em Março de 2010.

O presidente da CCDR-N, Freire de Sousa, notou que “este processo tem responsáveis que nem a justiça conseguiu apurar ainda”.”Teve erros de estimativa [que geraram duas fases de retirada]. Todos temos de pedir de desculpa por todos estes anos, pedir desculpa ao povo que passou por este calvário. Não baixem a guarda. Mantenham o escrutínio, mas hoje também é dia de celebrar”, disse.

Quase que em jeito de resposta, e enquanto a comitiva subia estaleiro acima para ver os primeiros camiões a serem carregados, ouviram-se foguetes no exterior, numa espécie de “dejá vu” [repetição] face ao que se passou a 2 de Outubro de 2014.

Nessa altura, com o ministro Matos Fernandes no topo da obra, a população disparou 13 explosivos pirotécnicos, um por cada ano de espera pela remoção. Seguindo a mesma lógica de simbolismo, seriam disparados “mais de 20”, como referiram Pedro Vieira ou Marco Martins, pois passaram cerca de cinco anos entre a primeira fase de remoção e o anúncio da segunda.

Entre Outubro de 2014 e Maio de 2015 foram retiradas 105.600 toneladas. Ficaram para trás mais 125 toneladas.

Para dar seguimento à operação, o Estado alocou a esta empreitada 12 milhões de euros do Fundo Ambiental. O concurso registou sete candidatos e em Abril de 2018 foi anunciado que a remoção terminaria em 2019. O processo foi adiado devido a uma impugnação judicial que só conheceu um desfecho quando a 15 de Novembro do ano passado.

Ao longo dos anos, esta situação já motivou perguntas e requerimentos de partidos políticos, bem como iniciativas locais como vigílias, concentrações e protestos, e o envio ao primeiro-ministro, António Costa, de milhares de postais com a frase “Remoção total dos resíduos perigosos em São Pedro da Cova já”, acompanhada de imagens a simbolizar sinais de perigo.

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