Um baterista deu música aos melhores comentários sobre covid-19 na Internet

Ricardo Brito não tinha a bateria durante o confinamento, mas tinha um microfone e muito tempo livre para se rir das publicações na página Os Comentadores da Covid-19. Foi de lá que tirou as letras para um álbum no Bandcamp que dá música à pandemia — da desinformação.

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São comentários virulentos, contagiantes, teorias da conspiração que envolvem Bill Gates e 5G, tratamentos desaconselhados por qualquer médico responsável mas defendidos por Trump ou Bolsonaro, alertas escritos só com maiúsculas, vacinas para querer manter a distância das redes sociais. E, para Ricardo Brito, pensamentos demasiados bons para ficarem perdidos numa caixa de comentários.

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São comentários virulentos, contagiantes, teorias da conspiração que envolvem Bill Gates e 5G, tratamentos desaconselhados por qualquer médico responsável mas defendidos por Trump ou Bolsonaro, alertas escritos só com maiúsculas, vacinas para querer manter a distância das redes sociais. E, para Ricardo Brito, pensamentos demasiados bons para ficarem perdidos numa caixa de comentários.

Na página Os Comentadores da Covid-19, no Facebook, jaziam as letras de um álbum que, mais do que ser sobre a pandemia de covid-19, dá música à pandemia da desinformação online. “Gostava de saber escrever músicas, mas não sei. Por isso, foi uma ajuda para algumas ideias que tinha”, apresenta-o o baterista das bandas portuguesas Fugly, Parkinsons e Wakadeliks.

“Não são para levar a sério”, avisa, não vá alguém não perceber o sarcasmo que o levou a cantá-las, divertido, sozinho em casa, e decida seguir os conselhos à risca. “Acho que as pessoas não vão ouvir como se fosse um disco”, arrisca. “Vão ouvir uma vez, achar piada e talvez não voltem a ouvir mais.”

São sete músicas da Internet para a Internet, lançadas no Bandcamp em Junho, mas infelizmente ainda actuais. Feitas “sem compromisso”, com comentários online reais, por muito que alguns não pareçam, e instrumentais funk tirados do YouTube (outros foram criados por Gonçalo Parreirão). Mesmo quando o estado de emergência terminou e os espectáculos ao vivo voltaram a ser permitidos, ainda com limites à lotação da sala, “o objectivo não era nunca tocar ao vivo”, ri-se. “Fiz pela piada”, resume, durante uma quarentena em Castelo Branco, onde, impedido de trabalhar e sem bateria, “andava a experimentar coisas” com o microfone que tinha na casa onde cresceu. 

Os comentários entoados em Vacina de Sabão, Máscara ou Quando Vou à Rua Tenho Comichão no Nariz fizeram rir primeiro Hugo e Alexandre, o jurista de Lisboa e o comercial de Leiria que gerem a página Os Comentadores da Covid-19, criada na primeira semana do confinamento. “Senti que seria boa ideia ir fazendo um apanhado de alguns comentários caricatos e até hilariantes sobre a covid-19. Na verdade, e para minha surpresa, a adesão de novos seguidores foi muito rápida. Com o passar do tempo fomo-nos deparando com uma cada vez maior variedade nos comentários”, diz Hugo.

Surpreendidos, partilharam o álbum de Ricardo Brito, que o baptizou de Comentadores do Covid-19. “Lavem bem as mãos antes de comentarem”, pedem a todos que entram em contacto com a página.