O 19.º aniversário do 11 de Setembro e o medo que nos tussam em cima

Hoje, existe uma pandemia que empurrou a humanidade para um modo de vida global muito diferente daquele com que alguns sonharam no dia dos atentados. Ou daquele que existia há meia dúzia de meses.

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Na manhã de sol brilhante e céu azul de Nova Iorque apareceram dois aviões que não deviam estar ali. Vinha um à frente do outro e aproximavam-se depressa. Aproximaram-se mais e depois aproximaram-se tanto, denunciando ao que vinham. A primeira lança atravessou o Trade Center às 8h45 do dia 11 de Setembro. Seguiu-se outra.

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Na manhã de sol brilhante e céu azul de Nova Iorque apareceram dois aviões que não deviam estar ali. Vinha um à frente do outro e aproximavam-se depressa. Aproximaram-se mais e depois aproximaram-se tanto, denunciando ao que vinham. A primeira lança atravessou o Trade Center às 8h45 do dia 11 de Setembro. Seguiu-se outra.

E no sítio onde existiam duas torres brilhantes ficou fumo, ficou uma nuvem de pó, ficou o vazio. Quando as torres caíram. Houve luto e houve dor. Foi há 19 anos, que é muito tempo. Morreram em Nova Iorque 2753 pessoas (3000 no total dos ataques), alguém ainda sente a sua falta.

Há um monumento no lugar das torres, com nomes de pessoas mortas, objectos recolhidos nas 1,5 milhões de toneladas de entulho e de restos de corpos. Era um lugar muito visitado pelos turistas em Nova Iorque. Agora está vazio. Há 19 anos escreveu-se sobre o 11 de Setembro que foi o atentado que mudou o mundo.

Os EUA avançaram, com aliados e argumentos que se provaram falíveis, para uma guerra contra as trevas e contra o mal, respectivamente no Afeganistão e no Iraque. No choque das imagens dos aviões pilotados por terroristas da Al-Qaeda tornados mísseis lançados contra prédios cheios de civis, surgiu uma ideia de unidade planetária na opinião pública, sob a liderança internacional da América.

O mundo mudou mesmo. O Afeganistão das trevas é hoje o Afeganistão dos atentados e da instabilidade. A Rússia da aliança na guerra contra o terrorismo abriu caminho para continuar a cumprir a sua própria agenda. O Médio Oriente desfez-se (desfaz-se) em guerras, sectarismo, viu nascer um terror ainda mais negro de decapitações locais e exportação de atentados. Produziu a maior catástrofe humana de refugiados e desalojados da História.

Hoje, os valores democráticos não estão seguros. Alastrou um mundo iliberal. Os Estados Unidos da liderança internacional e intervenções militares para, argumentava-se, pôr ordem no mundo são hoje governados por um Presidente que espalha outro tipo de desgoverno no mundo. A Europa da União está rodeada de perigos, desafiada por conflitos abertos ou silenciosos na sua proximidade (Turquia, Rússia), ou pela China e a sua ambição mundial.

Passou muito tempo. E o mundo mudou, mesmo. E outro sinal disse é os atentados irem, mais do que nunca, ser recordados sobretudo pelas imagens de horror – os prédios a cair, o entulho, os sobreviventes cobertos de pó desorientadas a vaguear pelas ruas de Manhattan.

As ideias de coragem, humanidade e solidariedade que se viveram nos meses que se seguiram em Nova Iorque e em parte na América – e que alguns analistas disseram que iria mudar o mundo ameaçado pelo terror e pelo caos – esvaíram-se com o tempo e com o que os povos e as suas lideranças fizeram delas.

E existe uma pandemia, que empurrou a humanidade para um modo de vida global muito diferente daquele com que alguns sonharam no dia dos atentados. Ou daquele que existia há meia dúzia de meses. Hoje, o medo é outro – do que temos medo, é que alguém tussa para cima de nós.