Comissário irlandês pressionado a afastar-se por participar em jantar que violou restrições da covid-19

O primeiro-ministro pediu ao comissário europeu para o Comércio para se demitir devido à realização de um jantar do clube de golfe do Parlamento. Ministro da Agricultura já saiu.

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Phil Hogan pediu desculpa, mas não se demite Reuters/YVES HERMAN

O primeiro-ministro da República da Irlanda e o seu “número dois” pediram ao comissário europeu irlandês Phil Hogan que “considerasse” a sua posição no executivo da União Europeia depois de ter participado num jantar que quebrou regras recém-impostas no país contra a covid-19, quando o número de casos de infecção pelo coronavírus está a aumentar.

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O primeiro-ministro da República da Irlanda e o seu “número dois” pediram ao comissário europeu irlandês Phil Hogan que “considerasse” a sua posição no executivo da União Europeia depois de ter participado num jantar que quebrou regras recém-impostas no país contra a covid-19, quando o número de casos de infecção pelo coronavírus está a aumentar.

O jantar do clube de golfe do Parlamento aconteceu na quarta-feira e juntou mais de 80 pessoas, embora inicialmente divididas em duas salas de cerca de 40 cada. Um ministro que esteve presente, Dara Calleary, que ocupava a pasta da Agricultura há apenas um mês, demitiu-se por ter estado no jantar e uma série de deputados dos dois principais partidos que formam a coligação no poder foram castigados por terem participado, segundo a Reuters. 

O Governo decidiu ainda convocar o Parlamento, que só deveria recomeçar funções a 15 de Setembro, para discutir o jantar.

As autoridades irlandesas decidiram na terça-feira alargar as restrições às reuniões de pessoas para fazer face a um aumento do número de infecções pelo novo coronavírus.

De acordo com as novas regras, que entraram em vigor na quarta-feira, as reuniões em espaços fechados só podem juntar um máximo de seis pessoas (antes eram 50) e em espaços abertos um máximo de 15 (eram 200), com excepção de cerimónias religiosas, como missas ou casamentos.

O primeiro-ministro, Michael Martin, sublinhou que não tem poder para demitir Hogan, que é membro do executivo da União Europeia, chefiado por Ursula von der Leyen, segundo o jornal online Politico.

Hogan reagiu às críticas com uma declaração em vários pontos no Twitter em que não põe a hipótese de demissão: “Reconheço que as minhas acções podem ter atingido um ponto sensível para o povo da Irlanda, e lamento profundamente”, disse o comissário, e acrescentando que tem noção do “risco desnecessário” provocado pela sua participação.

Quanto ao pedido dos responsáveis do Governo, disse apenas que “ouviu com atenção o seu ponto de vista, que respeito”, o que foi interpretado como uma rejeição da hipótese de se afastar do cargo na Comissão Europeia. Antes, tinha afirmado que achava que os organizadores do jantar estavam a cumprir as regras.

A Irlanda, explica o Politico, poderia ficar prejudicada com uma saída de Hogan, anteriormente comissário da Agricultura e conhecido como “Big Phil”. A sua experiência e peso político fazem com que o país tenha maior influência do que a que teria normalmente, e ainda por cima na pasta do Comércio, um tema essencial para a Irlanda na altura da discussão da saída do Reino Unido da União Europeia. Em caso de demissão, nada garante que Dublin mantivesse a pasta. 

O jantar não se devia ter realizado, disse simplesmente o primeiro-ministro. “Em todo o país, a população tem feito sacrifícios pessoais muito difíceis na vida familiar e nas actividades profissionais para cumprir as regras relacionadas com a covid-19”, declarou o primeiro-ministro, sublinhando que o evento não respeitou “as decisões anunciadas na terça-feira pelo Governo”.

Quanto a Hogan, um porta-voz disse ao canal de televisão irlandês RTE que o comissário “iria considerar” o pedido do primeiro-ministro e do vice-primeiro-ministro, Leo Varadkar, que é do seu partido.​

A polícia lançou entretanto uma investigação ao jantar, segundo o Irish Times: a participação não será um crime, mas a organização poderá levar a uma acusação.

Este não é o primeiro caso de comportamentos contrários a apelos ou regras do Governo: a 15 de Agosto, a presidente da agência responsável pela promoção do turismo na Irlanda, Catherine Martin, demitiu-se depois de ser revelado que foi de férias para Itália, apesar dos apelos para que as viagens sejam feitas apenas dentro do país.

A Irlanda registou até agora 1776 mortes de covid-19 e há mais de 27 mil casos de infecção confirmados.