Com o diabo na rua

Este é o chamado território rosiano, o lugar onde o escritor concretizou o seu grande projecto literário: tentar nomear o que ainda não tinha nome através de uma relação extremada com a língua portuguesa. “A língua e eu somos um casal de amantes que, juntos, procriam apaixonadamente.” Dessa paixão nasceu Grande Sertão: Veredas, romance solitário na história da literatura e não só na literatura brasileira onde o sertão se constrói de forma autónoma face à sua existência real. É a última das 12 reportagens que há um ano fazemos pelo Brasil com livros debaixo do braço.

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É madrugada numa das margens do Rio São Francisco. Não há luar e o caudal não se distingue do céu a não ser pelo reflexo das estrelas. Na água elas alongam-se, ganham contornos e movimento, tornam o chão um espelho oscilante. Mateus é dali, do interior, um sertanejo da beira da água. Tem uma história para contar que junta alimento, família e mito, e a verdade ou a mentira da sua narrativa é o que menos importa numa terra onde a grande liberdade está no poder da invenção.