Partido Democrata chama velha guarda para nomear Biden e atacar Trump

Joe Biden foi confirmado como candidato do Partido Democrata à Casa Branca, por entre os ataques cerrados de Bill Clinton e John Kerry ao Presidente Donald Trump.

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Houve balões e confetti em casa dos Biden Reuters

O Partido Democrata norte-americano nomeou oficialmente Joe Biden como candidato à Casa Branca, na noite de terça-feira, no segundo dia de uma convenção marcada pela ideia de que a eventual derrota do Presidente Donald Trump, nas eleições em Novembro, seria uma vitória da decência e uma oportunidade para os Estados Unidos recuperarem o respeito do resto do mundo.

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O Partido Democrata norte-americano nomeou oficialmente Joe Biden como candidato à Casa Branca, na noite de terça-feira, no segundo dia de uma convenção marcada pela ideia de que a eventual derrota do Presidente Donald Trump, nas eleições em Novembro, seria uma vitória da decência e uma oportunidade para os Estados Unidos recuperarem o respeito do resto do mundo.

A lista de personalidades convidadas para elogiar Biden e atacar Trump, numa noite dedicada ao tema da liderança, mostrou mais uma vez que o Partido Democrata caminha para as eleições presidenciais como uma espécie de geringonça ideológica – unida mais pelo desprezo a Trump do que por uma visão comum para o futuro do país.

Mas num ano que tem sido tudo menos normal, e no fim de um mandato presidencial que agravou as divisões no país, o Partido Democrata pode nem precisar de esconder essas divisões internas para triunfar em Novembro. A dois meses e meio das eleições, as sondagens indicam que a oposição a Donald Trump tem sido suficiente para manter Joe Biden como favorito, ainda que muito possa mudar até lá.

"Recuperar a nossa alma"

Impedidos de juntar milhares de pessoas num pavilhão para aplaudirem os discursos e vibrarem com o momento da votação, os responsáveis do Partido Democrata puseram nos ecrãs das televisões e dos computadores os testemunhos de figuras como os antigos presidentes Bill Clinton e Jimmy Carter (em áudio) e os ex-secretários de Estado John Kerry e Colin Powell – este último um republicano que apoiou Barack Obama em 2008 e 2012 e Hillary Clinton em 2016, mas que nunca tinha discursado numa convenção do Partido Democrata. 

Ao mesmo tempo, a congressista Alexandria Ocasio-Cortez, da ala progressista do partido, teve um minuto e meio para falar aos eleitores – foi ela quem nomeou o senador Bernie Sanders para disputar a nomeação com Joe Biden, uma formalidade do partido que nunca pôs em risco o resultado final.

E se Clinton, Carter, Kerry e Powell surgiram como uma memória de tempos menos instáveis para os eleitores mais velhos, Ocasio-Cortez deixou claro que, se depender de jovens como ela, o futuro do Partido Democrata terá pouco que ver com o passado.

Num breve discurso em que não chegou a pronunciar o nome de Joe Biden, a congressista de Nova Iorque apelou à “reinvenção” da forma como os Estados Unidos olham para imigração e para a política externa, “para virar costas à violência e à xenofobia do passado” – uma declaração que ganhou um significado acrescido por ter sido feita na mesma noite em que falou Colin Powell, cujo papel no pós-11 de Setembro foi determinante para convencer o Congresso norte-americano a apoiar a invasão do Iraque, em 2003, sob pretextos que vieram a revelar-se falsos.

“Hoje, somos um país dividido e temos um Presidente que faz tudo o que está ao seu alcance para nos manter divididos. Que diferença faria um Presidente que nos una, que recupere a nossa força e a nossa alma”, disse Powell, que trabalhou com três presidentes republicanos: foi conselheiro de Segurança Nacional de Ronald Reagan; chefe do Estado-maior das Forças Armadas de George Bush; e secretário de Estado de George W. Bush.

Também centrado na política externa, John Kerry disse que o país “precisa desesperadamente de um líder como Joe Biden”.

“Precisamos de um Presidente que esteja preparado desde o primeiro dia para começar a juntar novamente as peças daquilo que Donald Trump tem desfeito”, disse Kerry.

Centro de tempestades

A intervenção mais polémica da noite foi a de Bill Clinton, cada vez mais contestado pelo eleitorado progressista e muito questionado pelo seu passado de acusações de assédio sexual, que ganharam uma nova importância na era do movimento Me Too

“Em tempos como este, a Sala Oval tem de ser um centro de comando. Em vez disso, é um centro de tempestades. Só há caos. E só há uma coisa que nunca muda – a determinação dele em negar responsabilidades e culpar outras pessoas”, disse Clinton referindo-se a Trump.

Para além da intervenção final da mulher de Joe Biden, Jill Biden, o segundo dia da convenção ficou marcado pela contagem dos votos dos delegados, feita pela primeira vez longe do ambiente festivo e caótico de outros anos.

Um a um, por ordem alfabética, os representantes dos 57 estados e territórios que votaram nas eleições primárias foram surgindo nos ecrãs para anunciarem o número de votos em Joe Biden e em Bernie Sanders, sabendo-se de antemão quem seria o vencedor.

E numa prova de que também pode haver festa sem que haja festival, os Biden tiveram direito a uma chuva de balões e confetti em casa, enquanto agradeciam aos apoiantes que os aplaudiam também à distância. Na prática, Joe Biden foi convidado a aceitar a nomeação – o processo só ficará concluído na quinta-feira, com o seu discurso de aceitação.