Nova Coimbra B vai deixar cidade fora da rota da alta velocidade, diz oposição

O que Manuel Machado vê como um “passo decisivo na modernização da cidade”, é uma “solução minimalista e sem qualquer perspectiva de futuro” para a oposição.

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A velha e desqualificada estação de Coimbra B vai ser alvo de uma profunda remodelação, numa intervenção que anda de mão dada com a chegada do Sistema de Mobilidade do Mondego àquele ponto da cidade. O projecto de remodelação proposto pela Infra-estruturas de Portugal foi aprovado nesta segunda-feira, em reunião de câmara, mas não sem discordâncias. Para os vereadores da oposição, a aprovação deste projecto significa que Coimbra ficará de fora da rede de alta velocidade, caso essa discussão venha a ser retomada a nível nacional.  

O projecto prevê a remodelação das instalações de Coimbra B, com melhoria de acessos viários e pedonais e com a instalação de uma passagem inferior para passageiros – que hoje não existe, obrigando a passar a linha. O objectivo da requalificação da estação é também fazer a integração este o ponto ferroviário com o Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM), que tem em Coimbra B a última paragem. A estimativa orçamental da IP, refere a autarquia, é de 38,6 milhões de euros, num investimento que inclui a execução de circulação dos autocarros eléctricos do SMM entre a Portagem e Coimbra B.  

A vereadora do movimento Somos Coimbra, Ana Bastos, defendeu que deveria ser construída uma nova estação de raiz, 600 metros a Norte de Coimbra B. Esta mesma solução foi preconizada pelo arquitecto catalão Joan Busquets, no seu plano de urbanização daquela zona da cidade, que previa a construção de uma interface intermodal. O projecto que contemplava a articulação do serviço ferroviário normal com a rede de alta velocidade foi dado a conhecer em 2005 e tinha um custo estimado de 60 milhões de euros. Nunca chegou a avançar.  

A vereadora, que é também professora no departamento de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra e investigadora do Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente, considera que a manutenção da estação na actual localização, retira “qualquer possibilidade de Coimbra vir a ser paragem” numa rede de alta velocidade que venha a ser instalada. Para Ana Bastos, é provável que o TGV avance, tanto pelos milhões do plano de recuperação europeu como pela possível restrição de voos de curta duração, devido a questões ambientais. A mera reformulação de Coimbra B é, por isso, “uma solução minimalista e sem qualquer perspectiva de futuro”, afirma.

Perante as críticas, o presidente da CMC, Manuel Machado, disse que “sempre houve soluções melhores” mas que, depois de “30 anos de reiterado ‘inconseguimento’, Coimbra não tem de ficar à espera da última moda”. O autarca socialista afirma que esta é “a oportunidade de fazer, finalmente, a requalificação de Coimbra B”, naquele que é “um passo decisivo para a modernização da cidade”. Concluindo, “toda a argumentação para se adiar é uma argumentação vazia, interesseira”, classificou o presidente.

Também o vereador social-democrata, Paulo Leitão, apontou a fragilidade da possível incompatibilidade do actual projecto com a passagem do TGV em Coimbra. “Não estamos a pôr em causa o investimento, estamos a dizer que o investimento noutra localização serve melhor Coimbra”, disse. Também os comunistas criticam o projecto: “aquilo que se impõe é ir mais além, para que haja um projecto mais arrojado naquele apeadeiro. Não é esta a intervenção de que precisamos”, entende o vereador Francisco Queirós, defendendo a necessidade de “uma verdadeira gare intermodal”.  

O projecto da IP acabou por ser aprovado, por seis votos a favor (dos cinco vereadores do PS e da vereadora independente Paula Pêgo) contra cinco (PSD, Somos Coimbra e CDU). A empresa pública terá ainda que lançar o concurso para a empreitada.  

Depois das soluções que começaram a ser anunciadas em 2017, o SMM começa a aproximar-se da fase de execução, três anos depois. Na semana passada, o Conselho de Administração da Sociedade Metro Mondego, aprovou a adjudicação da empreitada de abertura do canal da Baixa de Coimbra, que, com a abertura da Via Central, vai permitir fazer a ligação entre a beira-rio e a rua da Sofia. Os trabalhos ficam a cargo da empresa Veiga Lopes, por 3,2 milhões de euros (acresce IVA), com a duração de 23 meses.  

A intervenção desenhada pelo arquitecto Gonçalo Byrne prevê a demolição de vários prédios, com posterior reconstrução e instalação de um edifício ponte, por baixo do qual passarão os autocarros eléctricos. De acordo com a SMM, “ficarão disponíveis dois edifícios, com área de construção de 2600 metros quadrados destinados a comércio, restauração, serviços e habitação”. 

Recorde-se, no entanto, que as obras deste mesmo sistema de mobilidade, com a configuração de um metropolitano ligeiro de superfície, chegaram a arrancar, com a interrupção do Ramal da Lousã, o levantamento de carris entre Serpins e Coimbra e a instalação de plataformas para receber o metro. Com a crise financeira de 2011, os trabalhos foram interrompidos e não chegaram a ser retomados até hoje.  

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