Praxe na Universidade do Minho volta presencialmente em Julho

O Cabido de Cardeais anunciou que autorizou o regresso das praxes presenciais e a decisão de voltar é dos cursos. Dos 56 cursos, 29 optaram por voltar. O papa da praxe garante que as autoridades “estão a par” do regresso da praxe em Braga e em Guimarães.

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Objectivo do regresso da praxe presencial é "fazer um fecho ao ano praxístico", diz Cabido de Cardeais André Rodrigues

A maioria das aulas já terminaram na Universidade do Minho (UM), mas a praxe vai continuar. O Cabido de Cardeais, o grupo que gere a praxe na academia minhota de Braga e Guimarães, anunciou esta segunda-feira que a praxe vai voltar presencialmente durante o mês de Julho para se “fazer um fecho ao ano praxístico”, com uma série de medidas para tentar manter o distanciamento social.

Num comunicado publicado no Facebook, o Cabido de Cardeais diz que as praxes não podem exceder as três horas de duração, não pode haver mais de vinte pessoas por praxe e é obrigatório o uso de máscaras.

Os cursos que retomarem a actividade da praxe têm de organizar “uma praxe de acção social” (semelhante ao que muitos cursos já fazem na época do Natal), aponta ainda a autoridade “praxística” da UM.

Ao PÚBLICO, o papa da academia minhota (o responsável máximo da praxe na UM), Pedro Domingues, disse que todas as autoridades locais “estão a par de tudo” (autárquicas, de segurança, “como a GNR e a PSP”, e de saúde) e as “regras muito rigorosas” foram delineadas em conjunto com essas autoridades.

“Toda a gente, independentemente de estar trajado ou não, tem de usar máscara, e os blocos terão um distanciamento social de dois metros”, esclarece. Questionado sobre se os cursos foram pressionados para optar por um regresso presencial, Pedro Domingues afirma que “a opção de voltar a realizar praxes presenciais foi dos cursos” e que o Cabido de Cardeais apenas “apresentou alternativas” para a conclusão da praxe, passando a autorizar a praxe presencial mas não terminando com a praxe à distância.

Sobre a praxe em si, Pedro Domingues apontou ainda que “a praxe termina a 31 de Julho, com ou sem praxe presencial”, e os caloiros passarão para o próximo patamar na hierarquia a partir desse dia (em condições normais, os caloiros deixariam de o ser no final do cortejo, que foi cancelado).

Dos 56 cursos que têm praxe na Universidade do Minho, 29 optaram por ter praxes presenciais. O papa alertou que o número de praxes foi drasticamente reduzido, para evitar que vários cursos praxem ao mesmo tempo na zona do campus de Gualtar – deverá haver apenas duas praxes durante o mês, por curso.

Como qualquer universidade, há estudantes deslocados, inclusive vindos das ilhas. Pedro Domingues afirmou que os caloiros não sairiam prejudicados por não comparecerem às praxes dos cursos que escolherem voltar ao campus, “mesmo que faltem por serem de longe ou pelos pais não autorizarem que voltem para a praxe”.

O responsável da praxe admite que informar as autoridades de Braga “foi mais fácil”, especialmente com a Junta de Freguesia de Gualtar, onde se situa o maior pólo na cidade de Braga, e o Cabido mantém o diálogo com as autoridades de Guimarães para que “tudo corra bem”.

No Facebook, a página da Junta de Freguesia de Gualtar diz que não foi contactada “sobre qualquer praxe nem manifestou qualquer apoio à realização das mesmas”. “Nunca a Junta de Freguesia (que tem os seus espaços públicos encerrados) poderia ou poderá permitir tal situação”, acrescenta,

A autarquia pediu ainda às autoridades - que, diz o papa, foram contactadas - para “inviabilizar a concretização destes ajuntamentos de estudantes” e considerou que a realização de praxes é “uma afronta aos muitos sacrifícios que todos os cidadãos têm feito ao longo dos últimos meses”.

O gabinete do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), Manuel Heitor, também respondeu ao PÚBLICO sobre o regresso da praxe na academia minhota, dizendo que "lamentava e repudiava as decisões associadas a praxes académicas na Universidade do Minho" e afirmando ser “incompreensível decisões deste teor relativamente a actividades que nem são essenciais nem são desejáveis nos espaços académicos”.

Importante é o próximo ano lectivo, não isto, diz associação dos alunos

Se do lado das autoridades terá havido colaboração, por parte da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) houve distanciamento. O presidente da AAUM, Rui Oliveira, não quis comentar directamente a decisão do Cabido de Cardeais, apontando que a AAUM “demarca-se de qualquer decisão que tenha a ver com isto”. “O Cabido de Cardeais é um grupo que se gere autonomamente a praxe e a AAUM não tem mão na gestão”.

O presidente da associação dos alunos não deixou de mandar um recado à praxe, afirmando que a praxe não era uma prioridade e que “não se encaixa nas actividades que são essenciais”. “A AAUM acha que deve ser debatido o futuro do próximo ano lectivo; é isso que tem de preocupar as instituições de ensino superior, não é isto”.

Rui Oliveira comparou ainda com o que AAUM e a universidade fizeram, encerrando toda a actividade presencial até ao próximo ano lectivo, apontando que é preciso sempre ter em conta a saúde pública. “A AAUM abdicou de toda a actividade presencial que realizava, seja cerimónias mais formais e pequenas, seja o Enterro da Gata. Todas elas foram canceladas porque a AAUM tomou consciência que tinha de salvaguardar a saúde publica”.

Além do anúncio e das novas normas, o Cabido de Cardeais pede ainda a todos os praxantes e praxados para agir “com responsabilidade porque, e como tem acontecido recentemente, rapidamente são-nos retiradas as liberdades que fomos alcançando”.

Também Rui Oliveira pediu cautela à praxe e à academia, e apelou para que todas as actividades realizadas tivessem em conta as indicações das autoridades de saúde. “Estamos a falar de uma nova ascensão da curva, com mais novos casos diários, e parece-me fundamental que todos nós, não só estudantes mas toda a sociedade, estejamos preocupados com a redução da curva”.

Actualizado às 11h54 com a reacção da Junta de Freguesia de Gualtar

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