“Não há nenhum novo caso de infecção associado a transportes públicos”, diz Marta Temido

Ministra da Saúde recorda que houve um reforço das camas dos cuidados intensivos. Mais de 90% dos internados em cuidados intensivos estão em Lisboa.

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António Pedro Santos/Lusa

A ministra da Saúde afirmou, na quarta-feira, que não existe reporte de novos casos de infecção associados aos transportes públicos, apesar das cautelas que são necessárias.

A falta de transportes públicos em quantidade suficiente, de forma a garantir o distanciamento social dentro dos mesmos, tem sido muito criticada pelo utentes e por alguns autarcas dos concelhos mais afectados pela pandemia. O presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, ameaçou, esta quarta-feira, montar uma “cerca sanitária aos transportes”, criticando a alegada sobrelotação dos mesmos.

“Temos de ser honestos e verdadeiros sobre os dados que temos em cima da mesa. Não é pela circunstância de conhecer fotografias actuais ou pretéritas de transportes públicos, que têm uma lotação acima daquilo que são as recomendações da Direcção-Geral da Saúde, que nos fazem esquecer que na informação reportada pela Direcção-Geral da Saúde, e de acordo com o último relatórios que disponho da terceira semana de Junho, nos novos casos, não há nenhum caso de infecção associada a transportes públicos”, reforçou.

A ministra chamou a atenção para uma realidade semelhante noutros países. “A circunstância mais ou menos de em todo o lado se indiciar que essa poderia ser uma fonte de infecção, e provavelmente será, mas depois quando encontramos os resultados, não encontramos a correspondente evidência. Isso tem de nos fazer estar atentos e pensar isso também faz parte da exigência que se coloca ao nosso trabalho. Uma vez mais, sem desvalorizar aquilo que são os riscos associados a estas circunstâncias e as cautelas que são necessárias e o que são as possibilidades.”

Mais à frente, novamente questionada sobre a situação de Lisboa e Vale do Tejo e a questão dos transportes públicos, Marta Temido explicou que o que disse foi que “não são conhecidos casos de contágio que tenham tido origem em transportes e não que os transportes não sejam pela sua sobrelotação, pelas suas condições, espaços a merecerem uma especial cautela”. “Se não fosse assim, não tinha o Governo decidido desde o primeiro momento que haveria uma coima pelas viagens em transportes públicos sem máscaras ou viseira”, salientou.

“Penso que estes dois aspectos sublinham intensamente o ponto para o qual estava a chamar atenção e para aquilo que era sobretudo a substância da minha chamada de atenção. Estamos a enfrentar um fenómeno novo relativamente ao qual temos muitas incertezas e, em muitas circunstâncias, lapsos de conhecimento. Esta questão dos contágios em transportes é uma delas. Embora da nossa vida empírica percebamos que há um conjunto de circunstâncias para que sejam locais particularmente expostos. Mas se não tivermos estes dois argumentos em paralelo, penso que não estamos a prestar bom serviço ao conhecimento e à objectividade”, reforçou Marta Temido.

Das 73 camas de cuidados intensivos ocupadas, 93% são em Lisboa e Vale do Tejo

A ministra da Saúde, Marta Temido, garantiu que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) em Lisboa e Vale do Tejo não está em ruptura de camas, respondendo às perguntas colocadas pelo CDS sobre a gestão em rede que está a ser feita.

“Ontem [terça-feira], das 491 camas ocupadas com doentes com covid, 362 estavam ocupadas em Lisboa e Vale do Tejo, ou seja, 74% . E das 73 camas em unidades de cuidados intensivos, 68, ou seja, 93%, estavam ocupadas em Lisboa e Vale do Tejo”, disse a ministra no Parlamento.

A ministra salientou que a região de Lisboa e Vale do Tejo tem 6101 camas em termos gerais no que diz respeito a resposta em enfermarias. “Quanto à questão de ruptura, estamos respondidos”, afirmou Marta Temido, lembrando que nesta região do país a actividade de rotina foi suspensa durante mais algum tempo, o que deixa mais amplitude para dar resposta.

Sobre as camas de unidades de cuidados intensivos, afirmou que Lisboa e Vale do Tejo tem “um total de 271 camas de unidades cuidados intensivos polivalente de adultos”. “Dessas, 95 estão afectas apenas à covid[-19], independentemente da capacidade do sistema de funcionar em rede”, completou.

Na primeira intervenção, Marta Temido já tinha destacado o reforço feito desde o início da pandemia na área da medicina intensiva com rácio de camas de cuidados intensivos, que passou de 5,28 para 7,13. A ministra admitiu que “a resposta tem de ser consolidada”, razão pela qual esta é uma das áreas prioritárias do Programa de Estabilidade avançado pelo Governo.

Médicos de saúde pública de Lisboa e Vale do Tejo representam 28% do todo nacional

Marta Temido afirmou que o SNS “tem 360 médicos saúde pública, com uma média etária de 59 anos. Ainda 300 enfermeiros e cerca de 500 técnicos superiores e outros técnicos de apoio”. “É preciso aumentar quantidade e diversidade. Teremos a contratação de 29 recém-especialistas no próxima mês, independentemente do esforço que se está a fazer. Quanto ao Sinave [Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica], estamos a melhorar com o apoio dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde e é uma prioridade. Na área de Lisboa e Vale do Tejo, as equipas de saúde pública foram reforçadas e os tempos melhorados”, disse a ministra.

Logo na fase inicial da audição, a ministra voltou a reconhecer a “dificuldade na quebra de cadeias de transmissão” na área metropolitana de Lisboa, zonas com “maior densidade populacional” e numa altura em que o confinamento no país não é obrigatório. Marta Temido adiantou que a zona de Lisboa tem mais 30 profissionais a reforçar a resposta, especialmente vindos dos cuidados de saúde primários.

A responsável especificou, em resposta ao BE, que os médicos de saúde pública de Lisboa e Vale do Tejo representam 28% do todo nacional, quando no Norte essa percentagem é de 37%. Reconhecendo a assimetria, a ministra prometeu tentar corrigir as assimetrias nos próximos concursos de contratação de recém-especialistas.

A questão de Lisboa e Vale do Tejo foi levantada ao longo da audição. Marta Temido adiantou que a primeira reunião que teve com as unidades de saúde publica desta administração regional de saúde foi a 22 de Maio, face ao que percebeu ser “evolução distinta da pandemia no Norte, que já estava com 20 a 30 casos dia, e em Lisboa e Vale do Tejo, onde o número se mantinha constante com algumas oscilações”.

“Reunimos com todos por videoconferência para perceber qual a realidade de cada uma das unidades de saúde pública, o que podíamos fazer para ajudar. Temos andado desde então a afinar sempre as medidas e a fazer acompanhamento sistemático. Temos bem consciência da fragilidade que a saúde pública tinha em Portugal e temos procurado colmatá-la, reforçando os meios e revendo formas de trabalhar, fazendo apelo a voluntários da academia e à colaboração de determinados peritos e evoluindo em sistemas de informação”, especificou.

Pegando nos dados mais recentes, Marta Temido adiantou que na última terça-feira, o Norte tinha registado 20 novos casos, enquanto Lisboa e Vale do Tejo 188. “Ontem foi, como todos sabemos, um dia de números particularmente positivos. Na pior das hipóteses, o que podemos dizer é que ainda não conseguimos baixar deste nível. É esta a nossa preocupação e estamos a trabalhar no sentido não de encontrar culpado - não nos parece que seja útil nesta fase do campeonato, será provavelmente uma avaliação que se fará no final da pandemia, o que se fez que se poderia ter feito melhor -, mas no sentido de acompanhar e corrigir o que são as melhores práticas”, acrescentou.

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