Dia 59: Os avós não estragam os netos

Uma mãe/avó e uma filha/mãe falam de educação. De birras e mal-entendidos, de raivas e perplexidades, mas também dos momentos bons. Para avós e mães, separadas pela quarentena, e não só.

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@DESIGNER.SANDRAF

Mãe,

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Mãe,

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OK. Eu sei que há pais que exageram nos recados que dão aos avós quando ficam ao seu cargo mas, minha querida mãe, parece-me que há avós que deliram com a ideia de contrariar o que “normalmente se faz em casa dos pais”, como se fossem adolescentes que aproveitam o facto de os pais saírem para dar aquela festa maluca de arromba!

Eu sei, eu sei que não os vamos deixar em casa dos avós com uma lista de todas as comidas que podem ou não podem comer, nem os horários de tudo e mais alguma coisa, mas a verdade é que as nossas “manias” vêm com conhecimento de causa! Nós sabemos que se os miúdos se deitarem tardíssimo vão estar insuportáveis no dia seguinte (ou logo que estiverem connosco!) e que vamos ser nós a pagar a conta; que se em vossa casa for bar aberto de açúcar vão ficar até à uma da manhã a correr pela sala; e que se andamos há séculos a dizer-lhes que têm de esperar para receber aquele presente ou comprar aquela roupa é irritante que cheguem a casa com a mala cheia de vestidos novos!

Acreditem, o problema não é tanto a educação a longo prazo, e qualquer pai que diga uma coisa dessas está a mentir — com o cansaço crónico em que andamos, já não pensamos a mais de uma semana—, o problema é o presente. Se os miúdos voltam tão desaustinados e cansados, a “pausa” que vocês nos ofereceram não compensa a ressaca que temos que gerir depois!

E não, isto não é obviamente um recado subliminar para quem vai ficar com eles no dia dos meus anos!!!


Ana,

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Por favor não destruas a minha teoria de que os avós não estragam os netos, os netos é que nos estragam as costas — pela minha parte acabo sempre na minha querida Sara, que com a sua arte de fisioterapeuta/osteopata e não sei mais quantas coisas me consegue voltar a pôr a andar direita. Mas delirei com a ideia de que nos transformamos em adolescentes, mal vocês batem a porta, e confesso que é verdade: não estou sempre a dizer que eles são a melhor terapia de rejuvenescimento que conheço? Por isso, sim, é um bocadinho isso, porque se não viessem com alguma adrenalina à mistura, por que raio havíamos de trocar o nosso sossego pelos vossos filhos?

E já que nesta carta abolimos com o politicamente correcto e desembainhamos as espadas, então fica a saber que se há muito que podemos aprender com o “conhecimento” que subjaz às vossas “manias” — e se obviamente as temos de respeitar (que remédio!) —, não é menos verdade que as nossas estão igualmente bem fundamentadas, mesmo que não estejam na moda. Além do mais, se a casa dos avós for para eles uma discoteca de bar aberto, talvez no futuro a prefiram às outras, o que seria para vocês (apesar de tudo) um sossego.

Agora porque é que voltam desaustinados, não faço ideia. Nem me vou preocupar com isso. Se calhar é do alívio de se livrarem de nós. Por cá, quando eles partem, também sucumbimos a uma noite de binge de séries e dormimos uma semana inteira para recuperar. As experiências muito boas e muito intensas dão invariavelmente ressaca. Ainda bem que são vocês e não nós a aguentar a deles!

Descansa bem nos dias em que estiveres fora, porque a tua carta não me intimidou minimamente. Pronto, prometo que na véspera de tos devolver vou cortar no açúcar, mas tudo o resto será de forma a criar memórias únicas. É para isso que cá estamos.

Mil beijinhos 


No Birras de Mãe, uma avó/ mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, vão diariamente escrever-se, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram