O “épico” adeus a Como é Que o Bicho Mexe de Bruno Nogueira

“Que insanidade é esta?”, perguntou a determinada altura o humorista que animou o país noite após noite de confinamento. Na despedida, houve loucura pela cidade de Lisboa graças a um Natal dormente, e a apoteose final aconteceu no Coliseu dos Recreios.

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Bruno Nogueira está enfiado dentro de um carro, com Nuno Markl ao volante, a guiar por Lisboa, à cata de luzes e árvores de Natal nas janelas colocados pelos fãs de Como é Que o Bicho Mexe, quando se depara com um cartaz gigante que nos “Desejo de um Feliz Natal CONA” em letras garrafais. Ele nem quer acreditar no que vê. “Ó pá, malta, obrigado!”, diz às gargalhadas, enquanto vai filmando tudo o que se passa à sua volta, em directo, para a sua conta na rede social Instagram, @Corpodormente.

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Bruno Nogueira está enfiado dentro de um carro, com Nuno Markl ao volante, a guiar por Lisboa, à cata de luzes e árvores de Natal nas janelas colocados pelos fãs de Como é Que o Bicho Mexe, quando se depara com um cartaz gigante que nos “Desejo de um Feliz Natal CONA” em letras garrafais. Ele nem quer acreditar no que vê. “Ó pá, malta, obrigado!”, diz às gargalhadas, enquanto vai filmando tudo o que se passa à sua volta, em directo, para a sua conta na rede social Instagram, @Corpodormente.

Nuno Markl estava avisado, mas conseguiu manter o segredo até ao fim. A surpresa foi total. “Queres voltar lá?”, pergunta a Nogueira. “É pá, Markl, está visto. Então eu vi ‘cona’ escrito em letras gordas, na Marginal!”

O humorista já está meio assarapantado e a noite ainda está a começar. Momentos antes tinha percebido que Georgina Rodríguez estava entre as mais de 123 mil pessoas a assistir. “Não posso crer, é mesmo a Georgina do CR7 que está aqui?” Tem dúvidas. “Não é a Georgina mesmo…”, mas resolve ligar-lhe. “É hoje, é hoje que ele entra”, exclama a seu lado um esfuziante Markl.

Vê-se um ecrã completamente negro. Um “olá” em espanhol, do outro lado, deixa-os baralhados. E uma voz: “Sou eu amigo, estou aqui com ela. Quando consegue acender a luz, vê-se que está deitado. É uma hora a mais em Itália e veio dar um abraço, “uma moralzinha”, ao Bruno, mas amanhã tem de treinar. É Cristiano Ronaldo. Nogueira e Markl não conseguem processar tudo o que está a acontecer.

Há pessoas aos gritos em todo o lado. Buzinas sem parar. Carros com luzes de Natal. “Não saiam dos carros, não podem sair dos carros”, vai repetindo Bruno Nogueira entre o aflito, por aquilo que idealizou poder vir a provocar o caos, e o feliz pelo entusiasmo dos fãs. “As pessoas estão a gritar como se isto fosse a Beatlemania!”, constata Nuno Markl.

Enquanto viajam, Bruno Nogueira vai ligando para agradecer aos amigos que foram entrando nos seus directos, ao longo dos últimos dois meses. Jessica Athayde não encontrou “as cenas de Natal” porque mudou de casa, mas fez apple crumble, “um doce de Natal”. Agradece ao amigo por ter sido “a primeira cona” a que ele ligou nestes lives. “Sinto-me a primeira-dama do Bicho”, revela. Mariana Cabral, aka Bumba na Fofinha, passou horas a montar uma árvore de Natal num andaime à porta de casa.

O humorista Salvador Martinha sente que isto é o autocarro da Selecção Nacional. O actor Albano Jerónimo confessa a Bruno que apostou que se este live no Instagram conseguisse chegar aos 100 mil espectadores mostrava o rabo. Sai porta fora e no meio de uma rua do Chiado, em Lisboa, baixa as calças, estende os braços ao céu e grita “100 mil” com o número escrito nas nádegas.

“Que insanidade é esta?”, pergunta Bruno Nogueira. Há malta a brindar nas janelas. Como a dupla vai dizendo os locais por onde vai passar, junta-se uma comitiva de carros a rodeá-la. Ficam assustados com a escolta e deixam de divulgar o percurso. A actriz Inês Aires Pereira, vestida de Mãe Natal, entra no directo e diz que é uma noite “épica”. Ljubomir Stanisic e João Manzarra juntam-se na mesma casa e mostram, em directo, que fizeram as pazes.

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Está uma pessoa na varanda aos gritos a dizer ‘Eu gosto de cona!'”, diz Markl.

Um motoqueiro pára ao lado do carro e pede licença para fazer uma pergunta: “Há uns 15 anos não perdeste os teus documentos todos?”. Bruno confirma. “Fui eu que os encontrei e entreguei no Rossio”. Estão 158 mil pessoas a assistir. Nos comentários, Catarina Furtado diz que este foi o motivo por que Nuno Markl tirou a carta de condução.

Há luzes e gente nas varandas por todo o lado. “Ó malta, eu assim não consigo chegar ao fim”, suspira Bruno. E na rua, à beira do passeio, surgem dois rapazes a fazer vénias. Há quem diga adeus das janelas. Markl lembra quando achavam que se calhar não iam ver ninguém. As buzinas não param. Bruno emociona-se. “Importa dizer às minhas filhas que está tudo bem, elas estão a ver. ‘O pai não está a entrar em pânico, está feliz’”, assegura. E pouco depois, nos comentários, a sua mulher, a actriz Beatriz Batarda, escreve para o acalmar: “Estamos a adorar. És o REI.”

“Arrepia isto”, escreve Cláudia Vieira. O pianista Mário Laginha também agradece: “Nunca mais esquecerei que vocês são os responsáveis por a minha música ter chegado ao Pólo Norte.”

Beatriz Gosta entra em directo de uma rotunda de Rio Tinto, há drag queens a dançar. “Está a ser maravilhoso meu filho, amo-te muito”, comenta a mãe de Bruno Nogueira.

Estão 164 mil pessoas a assistir. Nogueira está a tentar ligar ao radialista Cal Lockwood, da rádio Arctic Outpost, do Pólo Norte. Não consegue.

Entra Nuno Lopes a suspirar, pede às pessoas para não buzinarem. Bruno come um chocolate. Nuno Lopes fica emocionado. “Parecia uma revolução”, quase choram os dois.

“Já não se via uma coisa assim desde a trasladação da irmã Lúcia”, intervém o humorista João Quadros. Está em sua casa e avisa que fez duas árvores de Natal. “Uma pequenina com erva e outra pequenina…” e pega na… e Bruno Nogueira desata a gritar “Pára, pára!”

A esta hora estão 168 mil pessoas online, mas na rua aparece um senhor que não percebe o que está a acontecer. “Peço desculpa a todas as pessoas que estavam à espera que eu ligasse, não estou a conseguir”, lamenta Bruno. Nunca mais conseguiu ligar para o Porto, mas Beatriz Gosta não se perde. Faz ela um directo no Instagram, a deambular pela cidade acompanhada pela rapper Capicua.

Finalmente os fãs vêem a cara do radialista Cal Lockwood, que aparece com uma bandeira de Portugal e outra da Noruega atrás dele. 

O carro desce a Avenida da Liberdade, e do altifalante de uma ambulância do INEM sai: “És o maior, Bruno!”. Nos comentários, a irmã de Bruno Nogueira goza com ele: “Pareces o Presidente.”

Chegou o momento em que se dirigem ao sítio onde tudo vai terminar.

Nos comentários, alguém quase acerta: “O Pipão vai tocar num Coliseu vazio.” Não está vazio. Salvador Sobral e André Santos estão a ensaiar na casa de banho. “Não é real, isto”, escreve alguém. Nelson Évora treina saltos nos corredores.

Por fim, aparece Filipe Melo (Pipão) sentado ao piano a tocar perante a plateia vazia do Coliseu dos Recreios. Bruno Nogueira senta-se com muita vontade de o abraçar. Nuno Markl filma. “Vocês lembram-se que há um ano estávamos os três aqui a fazer o Uma Nêspera no cu?”, lembra Filipe Melo.

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De todos os lados surge a pandilha de Como é Que o Bicho Mexe, de máscara. “Desejo um bom Natal para todos vós”, cantam em coro.

Bruno tira o casaco, pede para baixarem as luzes e agradece à malta do Coliseu. Markl filma. Os músicos tocam. E ele canta Vendaval, de Tony de Matos: “Para onde vou? Não sei/ O que farei? Sei lá/ Só sei que me encontrei/ E que eu sou eu enfim/ E sei que ninguém mais rirá de mim”.

Pouco passava da uma da manhã, Bruno Nogueira, rodeado pelos amigos que ao longo dos últimos dois meses o ajudaram a animar milhares de pessoas fechadas em casa pela pandemia da covid-19, lança: “Não será um adeus. É um até já, aguentem firmes que isto vai correr tudo bem.”