Desconfinamento abre sobrecarregado de excepções

“Enquanto houver covid, não haverá vida normal.” O aviso é do primeiro-ministro, mas já a partir desta segunda-feira até os centros comerciais vão ter muitas das suas lojas abertas.

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Neste domingo de altas temperaturas foram poucos os que se aventuraram nos areais Nuno Ferreira Santos

Está cheio de brancas no cabelo? Como uma popa que já ultrapassou a de Donald Trump? As unhas de gel já foram à vida? Então pode começar a respirar de alívio. Os cabeleireiros e barbeiros estão entre as actividades comerciais que têm luz verde para reabrir nesta segunda-feira, mesmo que se encontrem localizados em centros comerciais.

Apesar de no geral as lojas inseridas nestes espaços só terem ordem de abertura a partir de 1 de Junho, existe uma enorme lista de excepções a esta regra que se encontra publicada numa das resoluções do Conselho de Ministros do dia 30 (resolução n.º 33-A/2020), destinadas a regulamentar a passagem do estado de emergência para o estado de calamidade, que é agora aquele onde estaremos a viver.

Entre estas excepções figuram os “salões de cabeleireiro, barbeiros e institutos de beleza”. Como também as lojas de venda de jogos sociais, as lavandarias, os estabelecimentos de venda e reparação de electrodomésticos, equipamento informático e de comunicações, os oculistas, as parafarmácias, entre muitos outros. “De fora estão só a moda e a restauração — estes últimos em termos de funcionamento normal, porque podem funcionar, mas só em take-away –, e as ourivesarias, a relojoarias e as lojas de brinquedos. E pouco mais”, especificou o presidente da Associação Portuguesa de Centros Comerciais em declarações ao Observador.

Portanto, para lá de se alindar, vai ter de novo mais sítios para tentar a sorte no Euromilhões ou no Placard, entregar a alguém os montes de roupa que se foram acumulando ou até finalmente conseguir reparar a máquina que passou a quarentena a fazer birra.

Será com uma temperatura máxima de 22º e até com alguns chuviscos, a contrastar com os 31º deste domingo, que Portugal entrará oficialmente em desconfinamento nesta segunda-feira. É ainda uma abertura tímida a que se encontra autorizada para os próximos 15 dias, mas que como se viu pelo elencado atrás permitirá recuperar hábitos que se eclipsarem nos mais de 40 dias de quarentena a que a covid-19 nos obrigou.

Máscaras omnipresentes

Tudo normal, portanto? Nem por isso. Como avisou o primeiro-ministro, António Costa, na passada semana, “enquanto houver covid, não haverá vida normal”. O vírus continua por cá e o risco de contágio até irá aumentar com esta abertura ao exterior. O teletrabalho vai permanecer a norma e todos, sem excepção, irão parecer diferentes: meia cara tapada com máscaras sempre que se entrar em algum espaço fechado, o que inclui os transportes públicos. Neste último caso, quem não tiver esta protecção poderá ser multado até 350 euros.

É de máscara que passarão a ser feitas as idas ao cabeleireiro, onde deixarão de existir as revistas habituais ou qualquer outro material que possa ser manuseado por vários clientes. Quem estiver ao serviço passará também a lavar, pintar ou cortar cabelos de luvas calçadas, com a cara protegida por máscaras ou viseiras, sem qualquer adorno como pulseiras ou colares e com calçado exclusivo para uso no interior dos espaços.

E só se é atendido com marcação prévia, sendo que as agendas destes estabelecimentos, que no conjunto do país empregam mais de 50 mil pessoas, já estão em modo sobrelotado. Isto quer dizer que para estrear este desconfinamento parcial será mais garantido tentar uma ida a uma livraria ou ir espreitar os novos modelos de carros nos stands automóveis ou voltar ao comércio local, o que incluirá as lojas chinesas, já que todos estes estabelecimentos também poderão abrir portas a partir desta segunda-feira. Embora, no caso do comércio de bairro, tal só esteja autorizado para já a espaços até 200 metros quadrados e que tenham porta para a rua.

Lá dentro as regras também serão estritas: não mais do que cinco pessoas por 100 metros quadrados, sendo que a distância entre cada um terá de ser de dois metros.

Praias desertas

Em data ainda não definida, até lotações máximas para as praias irão ser estabelecidas. Por agora, a norma é a de impedir estadias no areal. Resultado: num dia de brasa como foi o deste domingo, as praias da linha do Estoril estiveram praticamente desertas. Já os jardins de Lisboa encheram-se de pessoas.

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Em Lisboa, houve quem aproveitasse o bom tempo para passear Nuno Ferreira Santos

Em Carcavelos, todos os lugares de estacionamento continuavam ontem vedados por fitas e grades, os bares de praia fechados e as escadas e terraços que conduzem ao areal com barreiras para que ninguém passe. Mais à frente, as praias de Santo Amaro, Paço de Arcos e Caxias também estavam vazias. Gente só na estrada ou no passeio marítimo, onde se foram cruzando dezenas de corredores, ciclistas domingueiros e skaters.

Os automobilistas não tiveram a mesma sorte. Entre as 9h e as 12h, na rotunda da marginal que fica frente ao Forte de São Julião da Barra, 61 automobilistas provenientes de Oeiras foram mandados para trás pela polícia. “I want to put gasolina”, informou um homem num Fiat 500 descapotável, ignorando que o posto de combustível que procurava, ali a meio quilómetro, ficava já noutro concelho. Um agente da PSP lá lhe explicou que, embora o estado de emergência tenha terminado à meia-noite do dia 2, ainda se mantinha a proibição de circular entre concelhos. O homem abriu a boca de espanto, agradeceu e deu meia volta.

Desinfecção de escolas em ritmo acelerado

Entretanto, a pensar na segunda fase da abertura ao exterior, as Forças Armadas deverão desinfectar nesta segunda-feira cerca de 100 escolas. Segundo o Ministério da Educação, entre 4 e 10 de Maio estão já programadas acções de desinfecção em 330 das 520 escolas que serão passadas a pente fino para preparar o regresso às aulas presenciais dos alunos do 11.º e 12.º ano, que deverá acontecer a 18 de Maio se o panorama da pandemia não sofrer alterações para pior.

Ainda segundo o ministério, estão a ser utilizados “vários critérios” para a planificação destas operações, “entre os quais o de escolas situadas em territórios com mais casos positivos da covid-19”.

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