Investigador do Instituto Ricardo Jorge diz que é preciso cuidado no regresso à actividade

Baltazar Nunes frisa que é preciso evitar que haja “uma disrupção do Serviço Nacional de Saúde”, mas também defende que se ganhe alguma imunidade da população.

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LUSA/JOSÉ COELHO

O investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa) Baltazar Nunes defendeu este sábado que é necessário algum cuidado e contenção quando o país retomar gradualmente a actividade para evitar um crescimento exponencial da covid-19, mas diz que é importante que a população ganhe imunidade.

O crescimento do número de casos de infecção pelo novo coronavírus, quando os portugueses retomarem a actividade em Maio, “é algo que tem que estar nas nossas mentes porque basicamente a dinâmica da infecção depende de vários factores”, afirma o coordenador da Unidade de Investigação Epidemiológica do Insa.

“Um deles é a quantidade de indivíduos que ainda podem ser infectados, ou seja, que não têm anticorpos, que não estão protegidos contra a doença e pelo número de casos que temos da população temos uma percepção de que este número ainda é muito grande”, explica.

Outro factor está associado ao número de contactos que as pessoas têm. “Se nesta abertura da sociedade gradual for possível manter um distanciamento social que seja compatível com alguma actividade económica, este número de contactos há-de ser diminuto, e não há-de ser igual àquele que nós tínhamos antes do dia 16 de Março quando ainda não estávamos despertos para a situação”, salienta Baltazar Nunes.

Além do distanciamento social, se forem mantidas outras medidas de controlo de infecção, como lavagem das mãos e o uso de máscara em contextos mais fechados, “é possível conter a disseminação a um ponto que não se torna igual ao início, mas vai ser difícil”, adiantou.

Baltazar Nunes defendeu que “o ideal” é que esse crescimento seja lento para permitir que o SNS possa continuar a conseguir tratar novos doentes. Para o investigador, é preciso evitar que haja “uma disrupção do Serviço Nacional de Saúde”, mas também que se ganhe em termos epidemiológicos alguma imunidade da população.

“Indivíduos abaixo dos 70 anos ou indivíduos sem comorbilidades, em que a maior parte deles apresenta sintomatologia muito leve e alguns até assintomáticos, seria importante que houvesse algum ganho de imunidade na população sem que isso entrasse em descontrolo e que levasse a que os outros grupos da população fossem atingidos e a epidemia ficasse mais descontrolada”, defendeu. Por isso, “a ideia é tentar manter efectivamente algum cuidado e alguma contenção durante o processo de abertura” da actividade no país.

Sobre o comportamento da curva epidemiológica, diz que tem estado estável. “Se tem diminuído, tem diminuído muito lentamente”. Teve um crescimento exponencial numa primeira fase, até 16 de Março, em que foram introduzidas “as medidas de saúde pública mais restritivas”.

A partir dessa data, quando as escolas fecharam - apesar de algumas já o terem feito e algumas empresas terem colocado os funcionários em teletrabalho -, e depois do dia 22 de Março, quando foi declarado o estado de emergência, esse crescimento que estava exponencial começou a diminuir. “A percentagem de novos casos que surgia em cada dia começou a ser muito menor” e desde essa altura “a curva tem estado estável”, notou.

Aparentemente, por vezes, está a decrescer, mas depois quando surgem “alguns surtos de maior dimensão” como aconteceu num “hostel”, em Lisboa, ou em lares, acontece um aumento, que pode, porém, estar associado a circunstâncias específicas de surtos localizados.

“Mas isso não pode significar que temos uma disseminação na população a uma velocidade muito maior. Por isso, por vezes, é complicado perceber por uma curva epidémica que é nacional a dinâmica depois da infecção local ou regional”, frisou Baltazar Nunes.

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