Têxtil e vestuário dizem que apoio do Estado falha em (quase) tudo

Inquérito feito em Abril resulta numa chuva de críticas. Tirando o layoff, salva-se muito pouco.

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Adriano Miranda / PUBLICO

As indústrias do têxtil e do vestuário estão insatisfeitas com a máquina do Estado e com as medidas do Governo para lidar com a abrupta quebra económica causada pela pandemia de covid-19.

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As indústrias do têxtil e do vestuário estão insatisfeitas com a máquina do Estado e com as medidas do Governo para lidar com a abrupta quebra económica causada pela pandemia de covid-19.

Num inquérito feito a meio deste mês de Abril, pela Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP), os empresários criticam as soluções e o mau funcionamento dos serviços. A excepção à chuva de críticas chama-se layoff simplificado. “Só acertaram à terceira, mas é claramente uma medida positiva que ajuda a salvar postos de trabalho”, diz o presidente da ATP, Mário Jorge Machado.

O rol das críticas dos empresários inquiridos é extenso: “burocracia; dificuldades de interpretação; falta de clareza; regulamentação tardia das medidas; falta de flexibilidade nos instrumentos; diferenças entre comunicação governamental e execução pelos organismos responsáveis; morosidade e custo para as empresas.”

Além disso, queixam-se de “medidas pouco ambiciosas”, que “privilegiam o endividamento futuro das empresas” Algo que, por sua vez, “comprometerá a capacidade de crescimento/investimento nos próximos anos”.

O resumo das opiniões pessoais dos empresários foi divulgado nesta sexta-feira. Quando se olha para o elenco das críticas, impõe-se perguntar ao presidente da ATP: no meio disto, salva-se alguma coisa do apoio às empresas que o Estado está a fazer?

Mário Jorge Machado sorri face à pergunta e sublinha que as opiniões pessoais são, muitas vezes, vinculadas a interesses particulares. Argumenta que é impossível satisfazer todos em igual medida, em especial numa crise com estas características. Depois, aponta para o regime de apoio simplificado que o Governo criou para as empresas poderem mandar trabalhadores para casa, assumindo parte dos encargos com salários e contribuições.

“Na indústria têxtil, a maioria das empresas vai conseguir ultrapassar esta crise por causa do layoff. Sem essa medida, não seria possível, porque as medidas de apoio à tesouraria não serviam para salvar empregos”, diz o presidente da ATP. 

“Da parte do Ministério da Economia, que tem sido o nosso interlocutor, sempre houve disponibilidade para nos ouvir. Agora, é claro que nem tudo está a funcionar como seria necessário”, adverte Machado.

No plano do que não funciona, o acesso ao crédito é a questão do momento. António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal e a quem muitas vezes chamam “o patrão dos patrões”, garantira a 15 de Abril que às empresas tinha chegado zero euros do crédito anunciado.

O problema, diz agora o presidente da ATP, é que banca “criou procedimentos internos, de defesa, durante a crise de 2008/9, para evitar dar crédito que se transforma em malparado, e continua hoje a trabalhar segundo esse esquema”. Ora, não faz sentido manter procedimentos de há 12 anos, sublinha, quando o Estado dá garantias públicas de 90% sobre o crédito a conceder.

“Há uma frase do senhor ministro da Economia que também defendo muitas vezes, a de que todo o benefício que recebermos agora, vamos ter de pagar em impostos no futuro. Devemos usar uma linguagem clara, o Estado não dá nada. Somos nós que pagamos impostos para que algo nos possa ser entregue ou devolvido”, afirma, criticando a “morosidade do crédito às empresas”.

Sobre os resultados do inquérito, fica claro que a medida com mais adesão é o layoff: 68% dos inquiridos tinham as empresas em layoff total ou parcial: Depois, as moratórias tinham tido adesão de 35% dos inquiridos.

Os sectores do têxtil e do vestuário representam à volta de 9% das exportações totais portuguesas. É uma fatia menor da que representava antes do fim do acordo multifibras, até porque a própria indústria encolheu. Ainda assim, tem 150 mil trabalhadores e um peso económico relevante, mas que desespera quando olha para o presente e para o futuro imediato. 

Mais de 60% dos inquiridos dizem ter sofrido “um impacto muito forte” com perdas de encomendas superiores a 50% em Abril. E as estimativas para Junho “também são más": 43% esperam uma redução na procura superior a 50% e 37% espera uma redução entre 25% e 50%. Contas feitas, um em cada cindo dos inquiridos espera reduções de procura abaixo de 25%.

Há outros problemas que se tornaram entretanto notórios. Faltam matérias-primas e mais de metade dos inquiridos identificaram “um impacto forte ou muito forte” no abastecimento em Abril. Esta indústria representa cerca de 5% das importações globais portuguesas. As origens mais afectadas nesta altura são Itália, Espanha, Índia e China.

As principais razões apontadas: fornecedores encerrados, mercados fechados, dificuldades aduaneiras, dificuldades de crédito, aumento do custo das matérias-primas. Nos transportes e na logística há “menos opções, os preços dispararam e há atrasos nas entregas”.

Fala-se muito nas máscaras e equipamentos de protecção individual (EPI) como solução alternativa. Porém, entre os inquiridos, apenas um quarto disse que a produção de EPI é uma saída viável.