Médicos oftalmologistas unem-se para dignificar a profissão

A COESO apresenta-se como a maior rede nacional de médicos oftalmologistas e acabou de lançar uma app gratuita com o objectivo de facilitar o acesso de proximidade a consultas da especialidade.

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É uma associação sem fins lucrativos composta por médicos oftalmologistas e partiu de uma iniciativa da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO). A COESO, sigla que traduz “Consultórios de Especialistas em Oftalmologia”, lançou em Janeiro último, uma app que permite aceder a uma rede de consultórios privados da especialidade em Portugal Continental. É possível descarregar a aplicação de forma gratuita para Android e iOS.

O nome COESO acabou por ser uma feliz coincidência e remete para a união e a proximidade da classe. Uma das principais missões passa por “defender e dignificar a profissão”, começa por explicar Fernando Falcão Reis, presidente da SPO.

Para já, são cerca de 70, os médicos oftalmologistas aderentes a esta rede mas a ambição passa por fazer este número crescer até aos 100, até ao final deste ano, tendo uma meta mais ambiciosa que culminará em 250 consultórios privados a longo prazo. “A aplicação tem como objectivo prestar um serviço e fomentar esta actividade com alguma expressão em Portugal e que é a profissão liberal, autónoma e independente, que tem decaído muito a favor da prática em grupos hospitalares. É diferente exercer oftalmologia num consultório privado e num grupo hospitalar… A dinâmica não é a mesma”, esclarece o médico oftalmologista adiantando que os profissionais que exercem a sua profissão a nível hospitalar não integram a COESO. Não se trata de uma luta entre colegas, garante e reforça. “Achamos fundamental realçar o aspecto de proximidade com os doentes através de pequenos consultórios privados.”

Como funciona?

O procedimento é simples. O utente encontra o perfil de vários médicos e o consultório mais próximo da sua zona de residência e, depois de feita a escolha, pode fazer o pedido de marcação da consulta, de imediato. Através de geolocalização, é possível ao utente aceder a um mapa de Portugal Continental e perceber as alternativas existentes no perímetro da zona onde reside. Depois, os profissionais de um call center, disponível de segunda-feira a sábado, tratam de tudo. “Esta aplicação presta um serviço aos utentes que recebem um SMS ou um telefonema com a sugestão de dia e hora para a sua consulta e também aos médicos oftalmologistas porque a maioria dos consultórios privados da província não tem uma recepcionista disponível para fazer uma cobertura de doze horas por dia. Assim, o atendimento ao utente é garantido”, explica Fernando Falcão Reis.

Neste momento, a app só está confinada ao Continente mas o presidente da SPO garante a pretensão de ser alargada às ilhas. E existem outros projectos em discussão. “Num futuro próximo, a COESO gostaria de estabelecer um acordo com o Serviço Nacional de Saúde (SNS). A ser concretizado, este acordo tem grandes vantagens para ambas as partes: para os médicos, traduz-se numa sobrevivência com uma certa independência relativamente aos grandes grupos hospitalares e, para o doente, será garantido o acesso a um médico de proximidade a um preço razoável, baixo ou até gratuito, se o SNS assumir por inteiro a remuneração dos profissionais”, acrescenta. Apesar de ainda não ter sido apresentada uma proposta concreta – que acontecerá numa fase de maior escala e dimensão da rede COESO – a associação já teve algumas reuniões informais no sentido de contribuir para facilitar o acesso a consultas de oftalmologia no SNS.

Na sua opinião, a avançar este acordo, as vantagens seriam mais exequíveis do que o projecto que defende, desde há alguns anos, a colocação e integração de um médico oftalmologista nos centros de saúde. “Esta ideia corresponde a um encargo muito mais elevado para o SNS pois seria necessário alocar pessoal auxiliar e equipamentos [que representam um elevado investimento] a esta actividade. Provavelmente, o SNS terá mais vantagens em contratualizar com consultórios privados localizados próximos dos centros de saúde. É uma questão de fazer contas”, defende.

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Promover a literacia na saúde ocular

Uma das batalhas que os médicos oftalmologistas enfrentam é a dignificação da profissão, por um lado, e o esclarecimento acerca dos denominados “especialistas da visão”, slogan utilizado por algumas ópticas em Portugal, por outro. “Pretendemos combater este título usado pelos optometristas de uma maneira indiscriminada. O verdadeiro especialista da visão é o médico oftalmologista”, esclarece Fernando Falcão Reis. E sublinha: “Os optometristas são técnicos formados por escolas superiores de física, mas, na nossa opinião, não têm competência para atender o doente e fazer uma consulta. São profissionais preparados para fazer o cálculo da graduação dos óculos mas uma consulta de oftalmologia não se esgota nessa tarefa e este é apenas um aspecto muito parcial da mesma”.

O facto de as consultas de optometria serem gratuitas leva a uma maior procura por parte dos utentes. “Isto é um logro porque existe uma vertente comercial muito proveitosa em redor desta consulta que tem como objectivo a venda de óculos”, critica o presidente da SPO. E o facto de alguns utentes optarem por esta alternativa leva a que percam a oportunidade de fazer o despiste de doenças oftalmológicas graves, desde a retinopatia, ao glaucoma e aos tumores oculares. “Para grande mágoa minha, também existem médicos oftalmologistas a trabalhar com ligação às ópticas, o que é uma prática altamente censurável e eticamente reprovável. O Código Deontológico da Ordem dos Médicos proíbe esta prática determinantemente: os médicos não podem ter uma ligação a uma casa de óculos. Quem prescreve não pode vender”, esclarece.

Aos médicos oftalmologistas que ainda não aderiram à COESO, Fernando Falcão Reis gostaria que percebessem que para além da defesa da profissão poderão “prestar um enorme serviço público ao País se aceitarem integrar esta rede de cuidados primários de oftalmologia”. Através de campanhas em imprensa e divulgação nas redes sociais, a direcção da SPO pretende que a marca COESO vá sendo conhecida dos utentes e daqueles que podem vir a beneficiar das vantagens desta app que os aproxima a estes profissionais.

Os projectos da direcção que está no segundo ano do seu mandato (ver caixa) não se esgotam nesta novidade. As várias reuniões científicas agendadas para os próximos meses pelos grupos que representam as secções e subespecialidades da oftalmologia da SPO foram temporariamente adiadas devido à situação de pandemia do coronavírus. Porque neste, como em outros temas na área da saúde, na prevenção é que está o ganho.

A SPO, aproveitando os meios técnicos disponíveis na COESO, tem já em funcionamento uma linha de apoio a doentes de Oftalmologia disponível das 9 às 24 de segunda a sábado.