Hamburgo prepara-se para ser palco de rara vitória social-democrata

Sondagens dão 39% ao Partido Social Democrata nas eleições na cidade-estado de Hamburgo. Os Verdes deverão duplicar a votação e ser a segunda força.

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Cartazes de campanha de Katharina Fegebank (Verdes) e Peter Tschentscher, dos sociais-democratas DAVID HECKER/EPA

Hamburgo vai este domingo a votos e os resultados serão totalmente diferentes das médias nacionais: o Partido Social-Democrata, com o candidato Peter Tschentscher, que substituiu Olaf Scholz quando este entrou para o Governo de Angela Merkel como vice-chanceler e ministro das Finanças em 2018, deverá ser reeleito com uma maioria confortável, com as sondagens a dar-lhe 39% das intenções de voto.

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Hamburgo vai este domingo a votos e os resultados serão totalmente diferentes das médias nacionais: o Partido Social-Democrata, com o candidato Peter Tschentscher, que substituiu Olaf Scholz quando este entrou para o Governo de Angela Merkel como vice-chanceler e ministro das Finanças em 2018, deverá ser reeleito com uma maioria confortável, com as sondagens a dar-lhe 39% das intenções de voto.

Será uma vitória rara do Partido Social-Democrata (SPD), que nas últimas legislativas (2017) teve o seu pior resultado do pós-guerra com 20,5%, e a nível nacional tem apenas 15% das intenções de voto. 

Em Hamburgo, uma das três cidades que é também um estado federado (as outras são Berlim e Bremen), a CDU deverá obter apenas 12%, segundo as sondagens (a confirmar-se, será o pior resultado de sempre dos democratas-cristãos na cidade hanseática). A Esquerda (Die Linke) poderá ter 8%, a direita cada vez mais radical da Alternativa para a Alemanha (AfD) 6% (menos de metade da média nacional, que anda pelos 14%), e o Partido Liberal Democrata (FDP) no fio da navalha com 5%, o limite mínimo para ter representação parlamentar.

Os liberais foram protagonistas recentemente de um episódio no estado federado da Turíngia (Leste) em que o seu candidato (que recolhera apenas 5% dos votos) foi eleito chefe do governo com votos da AfD e da União Democrata-Cristã (CDU), o que levou a uma indignação generalizada com a quebra do “cordão sanitário” à volta da AfD. Demitiu-se logo de seguida, mas a acção teve consequências: a líder da CDU, Annegret Kramp-Karrenbauer, anunciou a sua demissão por não ter sido respeitada a orientação de não-associação com a AfD.

A estabilidade dos Verdes

No governo de Hamburgo, a coligação que junta SPD e Verdes deverá continuar a ter uma maioria, mas com um equilíbrio diferente devido à grande subida dos Verdes: as sondagens dão quase uma duplicação dos votos, de 12% para 23%.

As questões que dominam as eleições são locais, dos transportes à habitação (a cidade gaba-se de ter conseguido travar as subidas de preços de outros locais na Alemanha), e mesmo o tema do clima (Greta Thunberg esteve na sexta-feira a manifestar-se em Hamburgo) tem aqui uma vertente local – a central a carvão em Moorburg, que gera energia suficiente para todo o consumo da cidade, terá até 2030 de funcionar com outro combustível ou ser encerrada, no âmbito da política de transição energética. 

A subida dos Verdes em Hamburgo acontece a par com os ganhos do partido a nível nacional, 23% nas sondagens, a uma curta distância da CDU (27%) – os Verdes são o novo porta-estandarte da constância. A CDU atravessa um processo de liderança indefinido, e o SPD tem dois líderes mais à esquerda (que venceram um duo incluindo o centrista Olaf Scholz), que chegaram a ameaçar sair da grande coligação liderada por Angela Merkel.

“Os Verdes são agora uma âncora de estabilidade”, comentou ao site Euractiv o cientista político Arne Jungjohann. “Têm um perfil claro em termos de conteúdo, uma liderança indisputada, superaram divisões internas” – ao contrário da CDU e SPD, ambos divididos entre abordagens mais centristas ou mais à direita (na CDU) e esquerda (no SPD).

Os Verdes “definiram de modo claro a sua relação com todos os outros partidos”, sublinhou Jungjohann, e têm “capacidade de governar numa ampla variedade de combinações com a CDU, Liberais, SPD e Die Linke – são uma peça fundamental na paisagem de coligações da Alemanha”.

Do lado do SPD, a esperada vitória de Peter Tschentscher, que se seguiu a Scholz à frente da câmara de Hamburgo e é da mesma linha política, será sobretudo uma vitória para o actual ministro das Finanças depois da amarga derrota para a liderança do partido: pode ser o argumento de que o SPD vence eleições quando está mais ao centro.