Médico chinês que alertou para novo coronavírus não sobreviveu à infecção

Li Wenliang chegou a ser investigado pela polícia chinesa por “espalhar rumores”. Médico de 34 anos contraiu a doença depois de estar em contacto com vários doentes infectados.

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Li Wenliang

Li Wenliang, um dos médicos chineses que tentou alertar a comunidade médica para a possibilidade de se estar perante um novo vírus quando apareceram os primeiros casos de pneumonia atípica em Wuhan, acabou por morrer no hospital onde estava internado, depois de contrair o coronavírus (2019-nCoV), segundo confirmou a própria unidade de saúde numa publicação na sua conta oficial na rede social chinesa Weibo. "O oftalmologista Li Wenliang (...) morreu às 2:58 de 7 de Fevereiro de 2020. Lamentamos profundamente”.

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Li Wenliang, um dos médicos chineses que tentou alertar a comunidade médica para a possibilidade de se estar perante um novo vírus quando apareceram os primeiros casos de pneumonia atípica em Wuhan, acabou por morrer no hospital onde estava internado, depois de contrair o coronavírus (2019-nCoV), segundo confirmou a própria unidade de saúde numa publicação na sua conta oficial na rede social chinesa Weibo. "O oftalmologista Li Wenliang (...) morreu às 2:58 de 7 de Fevereiro de 2020. Lamentamos profundamente”.

Esta quinta-feira ao início da tarde, vários meios de comunicação chineses, como o Global Times, avançaram que o médico tinha morrido, notícia que foi reproduzida em todo o mundo, incluindo pelo PÚBLICO, mas que foi depois desmentida pelo próprio hospital onde Wenliang estava internado, que garantia que o homem estava em estado crítico e que estavam a fazer todos os esforços para o salvar – incluindo a utilização de uma máquina que bombeia e oxigena o sangue fora do corpo (ECMO) e que substitui o coração e o pulmão, quando estes deixam de funcionar. Foi nessa mesma conta da rede Weibo que o hospital veio depois confirmar a morte do oftalmologista de 34 anos.

Investigado por “espalhar rumores”

Em Dezembro, Wenliang estava a trabalhar num hospital da cidade, que se sabe agora ter sido o epicentro do surto, quando notou que pelo menos sete doentes que tinham sido postos em isolamento apresentavam sintomas semelhantes aos da pneumonia atípica, ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), que entre 2002 e 2003 matou 650 pessoas na China continental e em Hong Kong. Ainda que tivessem sido registados poucos casos, nessa altura já se pensava que o surto tinha tido origem num mercado de peixe no centro de Wuhan.

No final de Dezembro, o médico oftalmologista enviou uma mensagem para um grupo que mantinha com outros profissionais de saúde a alertá-los para um possível novo vírus e a aconselhá-los a usar roupas apropriadas para evitar infecções — o que não sabia era que tinha sido descoberto um coronavírus inteiramente novo. Alguns dias depois, foi convocado para uma reunião do Serviço de Segurança Pública e acusado de “fazer comentários falsos” que “perturbaram a ordem social”. Além disso, e segundo avança a BBC, Li Wenliang estava a ser investigado pela polícia chinesa por “espalhar rumores” e foi obrigado a assinar uma carta em que se comprometia a parar com as suas “actividades ilegais”.

Nas primeiras semanas de Janeiro, as autoridades de Wuhan garantiram que apenas aqueles que tinham tido contacto com animais infectados podiam ser diagnosticados com a estranha forma de pneumonia e não emitiram nenhuma orientação para proteger os médicos que cuidavam dos doentes infectados. Foi nessa altura que o médico divulgou a carta que o tinham obrigado a assinar nas redes sociais. As autoridades locais chegaram a pedir-lhe desculpa pelo sucedido, mas já era tarde. Durante o tratamento a uma mulher que não sabia que estava infectada com o novo coronavírus, Li Wenliang acabou por contrair a doença.

Na sua publicação, o profissional de saúde descrevia que tudo começou com uma tosse e rapidamente evoluiu para febre. Dois dias depois teve de ser internado no hospital, juntamente com os seus pais, com quem tinha estado em contacto em diversas ocasiões. Wenliang garantia que tinha sido testado para perceber se tinha contraído o novo coronavírus, mas que todos os resultados tinham dado negativo — só a 1 de Fevereiro foi confirmado que estava de facto infectado, depois de já estar internado desde meados de Janeiro.

Só a 20 de Janeiro é que as autoridades sanitárias chinesas confirmaram que o vírus responsável pelo surto de pneumonia era transmissível entre humanos e que já tinha infectado profissionais de saúde. Quando Li Wenliang tentou alertar a comunidade médica para uma possível epidemia, existiam menos de dez casos confirmados, mas segundo o balanço desta quinta-feira, já foram detectados 28.268 casos de infecção e o novo coronavírus já matou 563 pessoas só na China (e 565 em todo o mundo).