Moçambique “precisa de coragem, cinco anos passam rápido”

Filipe Nyusi iniciou esta quarta-feira o seu segundo mandato como Presidente com conflitos no centro e no Norte do país e uma oposição ainda ressentida pelo resultado das eleições que considerou fraudulentas.

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Filipe Nyusi na cerimónia de tomada de posse para o seu segundo mandato como Presidente de Moçambique ANTONIO SILVA/LUSA

A tónica do primeiro discurso do segundo mandato de Filipe Nyusi como Presidente de Moçambique não variou em relação ao que proferiu há precisamente cinco anos, quando sucedeu a Armando Guebuza: paz e desenvolvimento. “A nossa agenda é desenvolver Moçambique, é fazer com que esse desenvolvimento não seja feito à custa da injustiça, da prepotência e da desigualdade”.

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A tónica do primeiro discurso do segundo mandato de Filipe Nyusi como Presidente de Moçambique não variou em relação ao que proferiu há precisamente cinco anos, quando sucedeu a Armando Guebuza: paz e desenvolvimento. “A nossa agenda é desenvolver Moçambique, é fazer com que esse desenvolvimento não seja feito à custa da injustiça, da prepotência e da desigualdade”.

Com a “paz como prioridade absoluta” e a garantia de ser “o Presidente de todos os moçambicanos”, o chefe de Estado inaugurou novo mandato –  na presença de dez chefes de Estado, entre eles o português Marcelo Rebelo de Sousa –  com a ideia de estender o diálogo à oposição que já tinha prometido e não cumprido nos seus primeiros cinco anos: “Ninguém venceu nem perdeu, ganhou o povo moçambicano e a nossa democracia”.

“O país precisa de coragem, cinco anos passam rápido”, diz ao PÚBLICO Elísio Macamo, professor moçambicano da Universidade de Berna. Os desafios que Moçambique enfrenta, “são essencialmente políticos, nomeadamente que tipo de instituições políticas o país precisa para realizar o seu potencial”, explica o especialista em Estudos Africanos.

O problema, refere, é que “isso passa por ter uma visão, algo que nunca foi o forte deste Presidente” e, a julgar pelo discurso desta quarta-feira, “continua a ser um problema”. Nomeadamente na questão do diálogo com a oposição. “Para o relacionamento ser melhor, o Governo devia ter uma ideia do tipo de cidadania que quer, para saber que princípios devem ser promovidos para proteger que valores”, adianta Macamo, “infelizmente, não é a esse nível que se pensa o país”.

Com um panorama político instável devido às graves acusações de fraude eleitoral feitas pela oposição e por diferentes organizações da sociedade civil que acompanharam todo o processo, desde o recenseamento até à contagem dos votos, o tom conciliatório que Nyusi buscou no seu discurso dificilmente colherá frutos, por soar forçado ou repetido aos ouvidos dos opositores.

Até porque a maioria absoluta da Frelimo no Parlamento e a liderança em todos governos provinciais não incentivam o partido que vem dominando o panorama político de Moçambique nos 44 anos de independência a estender pontes com a Renamo, a principal força opositora no país.

“O relacionamento com a oposição é capaz de continuar o mesmo de sempre também porque a oposição continua a mesma, isto é, também sem visão, sem ideia e essencialmente oportunista e egoísta”, refere o professor moçambicano.

Para já não falar na oposição armada, a dos descontentes da Renamo que mantêm as armas, não respondem à direcção de Ossufo Momade nem reconhecem o acordo de paz assinado com o Governo, e que desde a Gorongosa têm realizado vários ataques no centro do país, sobretudo contra veículos que circulam nas estradas EN1 e na EN6, causando pelo menos 21 mortos.

No passado fim-de-semana, Mariano Nhongo, o líder da Junta Militar da Renamo, antecipou a tomada de posse do Governo ameaçando, em declarações à Lusa, com o intensificar dos ataques. “A Junta Militar não reconhece os deputados que estão a tomar posse”, disse, salientando que “não é o que foi combinado nas negociações”.

“Eu agora não vou poupar mais ninguém: autocarros de passageiros; homem ou mulher, vou bater. Já não há mais brincadeiras”, ameaçou Mariano Nhongo.

A violência no centro, a somar aos ataques de jovens ligados ao Daesh ou que seguem a mesma visão fundamentalista da religião islâmica na província de Cabo Delgado, no extremo Norte de Moçambique são os grandes desafios deste mandato.

A pôr fé no relato de um pescador sobrevivente de um desses ataques, no distrito de Macomia, em Cabo Delgado, os insurgentes recorrem à decapitação para matar as suas vítimas, depois de dispararem para as pernas para evitar a fuga. “Eu escapei porque enquanto atiravam quatro tiros para a minha perna, eu gritava ‘não há Deus, apenas um único criador’ em árabe, foi daí que me deixaram dizendo ‘este é muçulmano”, relatou, ao Carta de Moçambique, Abacar Cheba, de 48 anos, na cama do serviço de ortopedia do Hospital Provincial de Cabo Delgado, onde está internado.