Desigualdade de género no trabalho: é urgente agir já

Se, em 2019, apenas 14,4% (dados do Eurostat) dos profissionais que trabalham em tecnologia são mulheres, isto significa que as mulheres não estão a usufruir do enorme crescimento e geração de riqueza que esta área produz e que não tem equivalente.

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Christina/Unsplash

Devido ao trabalho que desenvolvemos na Portuguese Women in Tech, estamos constantemente a ser questionadas sobre o porquê de continuarmos a insistir e a desenvolver actividades para atrair mais mulheres para tecnologia. Normalmente, os argumentos para não continuarmos o nosso trabalho são: com o tempo, mais mulheres irão estudar e trabalhar nas áreas de tecnologia e, por isso, a desigualdade de género que hoje se vive no mercado de trabalho irá desaparecer.

No entanto, durante o ano de 2019, em apresentações, palestras e artigos que desenvolvemos, insistimos, com frequência, na possibilidade da desigualdade de género no mercado de trabalho estar a aumentar e não a diminuir. Esta nossa afirmação era normalmente acolhida com surpresa e desconfiança, pois vai contra a crença popular de que o papel das mulheres na economia está a aumentar. 

O nosso argumento é simples: se, em 2019, apenas 14,4% (dados do Eurostat) dos profissionais que trabalham em tecnologia são mulheres, isto significa que as mulheres não estão a usufruir do enorme crescimento e geração de riqueza que esta área produz e que não tem equivalente. Pior ainda: este valor de 14,4% tem-se mantido constante e não é expectável que cresça de forma significativa.

Esta semana, as nossas piores previsões acabaram por se confirmar. O Global Gender Gap Report 2020, do Fórum Económico Mundial, veio confirmar o alargamento do fosso económico entre homens e mulheres. Segundo o relatório, a situação está a piorar por três principais motivos: as mulheres estão mais representadas nos trabalhos que estão a ser mais penalizados pela automação; um número reduzido de mulheres ocupa posições nas áreas tecnológicas, área esta que tem visto o maior crescimento, aumentos nos salários e criação de riqueza, e as mulheres continuam com dificuldade em aceder ao capital, impedindo-as assim de empreender. Relativamente a este ponto, o relatório, lançado em Novembro pela sociedade de capital de risco Atomico, The State of European Tech 2019, traça um cenário negro. Por cada 100 dólares investidos em startups, 92 vão para startups fundadas por homens. 

Assim sendo, é imprescindível passarmos das palavras à acção. O Global Gender Gap Report 2020 do Fórum Económico Mundial dá algumas pistas, sendo uma delas o papel dos role-models. Quando perguntei, recentemente, a um grupo de estudantes do secundário de um município do interior do país quantos conheciam mulheres engenheiras ou a trabalhar em tecnologia, ninguém se manifestou. Iniciativas como “Engenheiras por um Dia” e o trabalho que tem sido desenvolvido pelas Geek Girls Portugal, Chicas Poderosas, Girls in Tech e Portuguese Women in Tech, pode fazer a diferença e ter um impacto positivo a médio e longo prazo. Precisamos de dar visibilidade às mulheres que todos os dias desenvolvem tecnologia made in Portugal e, desta forma, inspirar e mostrar às jovens estudantes que a tecnologia também é para elas.

Tenho 30 anos e sei que não tenho pela frente anos suficientes para ver a desigualdade entre homens e mulheres desaparecer. Mas sei que, com o contributo de todos, homens e mulheres, podemos inverter esta situação e diminuir o fosso económico existente. Vamos a isso.

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