O corpo nu, a vulnerabilidade, a auto-censura: Tatiana causa desconforto com o belo

®Tatiana Saavedra
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Um corpo nu é “um registo temporal, um espelho da personalidade, um objecto artístico que jorra expressão na sua essência”. Tem diversos significados. Tem tanto de fascinante como de desconfortável. Mas Tatiana Saavedra sabe que há “riscos” associados a uma “nudez muito crua”: os preconceitos, o desconforto que existe ao entrar no espaço de “intimidade, privacidade e vulnerabilidade” do outro. E é precisamente com esse desconforto que a fotógrafa de 32 anos gosta de brincar, seja através das posições dos fotografados — como uma mulher de cabeça para baixo num sofá —, seja pelo sítio onde eles estão — dois homens nus no alcatrão gelado da Ilha das Flores, Açores.

Esta sequência de fotos não foi captada no mesmo dia ou no mesmo local: a maioria foi tirada na Croácia e na Eslovénia, algumas em Portugal. “Cada uma tem uma história individual”, uma experiência distinta por detrás, que a fotógrafa licenciada em cinema — que já foi reconhecida com vários prémios na área, como em 2013, no concurso Cinema and Industry Alliance for Knowledge — gosta de contar. “A fotografia dos rapazes nus deitados no chão foi tirada num dia em que estava mesmo muito frio. Deitar no alcatrão foi uma experiência complicada. Sei disso porque também me deitei nua”, conta a fotógrafa ao P3. Tatiana explica que gosta de partilhar a sua vulnerabilidade e “explorar as vulnerabilidades dos outros”: “Só assim faz sentido ou só assim considero justo.”

Brinca com o desconforto do observador, ao mesmo tempo que tenta usar “o belo” dos corpos para criar “algo reconfortante ou apaziguante”, para “tornar a nudez em algo mais poético e leve”. Porque “embora o nu em fotografia seja muito explorado”, Tatiana acredita que “ainda continuam a existir algumas reservas”: “A nudez é frequentemente pintada com uma cor de promiscuidade”, atira. Quer, por isso, “fazer parte da desmistificação”: “quebrar tabus, promover a aceitação de algo puramente belo.” Mesmo assim, optou por fazer “uma certa auto-censura”. As suas fotografias não mostram caras, “nem se vê tudo”: “Sinto que, mesmo que queiramos muito, ainda não estamos totalmente livres.”

Gostas de fotografar e tens uma série que merece ser vista? Não consegues parar de desenhar, mas ninguém te liga nenhuma? Andas sempre com a câmara de filmar para produzir filmes que não saem da gaveta? Sim, tu também podes publicar no P3. Sabe aqui o que tens de fazer.

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