Lagarde reafirma intenção de seguir passos de Draghi

Embora dando sinais de querer restabelecer um clima de paz num BCE dividido, a nova presidente confirmou que a política expansionista do do banco central europeu é para manter

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Reuters/RALPH ORLOWSKI

Na sua primeira grande intervenção pública desde que se tornou presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde confirmou que pretende seguir as duas principais linhas de política assumidas por Mario Draghi no final do seu mandato: continuar a fornecer estímulos à economia enquanto esta não der sinais de retoma e apelar aos governos que ajudem mais nessa tarefa.

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Na sua primeira grande intervenção pública desde que se tornou presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde confirmou que pretende seguir as duas principais linhas de política assumidas por Mario Draghi no final do seu mandato: continuar a fornecer estímulos à economia enquanto esta não der sinais de retoma e apelar aos governos que ajudem mais nessa tarefa.

Três semanas passadas desde a tomada de posse de Lagarde, começava a sentir-se nos mercados uma impaciência crescente relativamente à ausência de indicações concretas da nova presidente sobre qual o rumo a seguir pelo banco central. Desde que foi escolhida para suceder a Draghi que as expectativas generalizadas são de uma continuidade na política do BCE, mas analistas e investidores queriam ouvir isso da boca da própria Lagarde depois de esta se ter reunido com os outros membros do conselho de governadores (o órgão que toma as decisões de política monetária dentro do BCE).

Esta sexta-feira, num discurso numa conferência em Frankfurt, Christine Lagarde confirmou as previsões. Reafirmou a intenção de prolongar as medidas expansionistas adoptadas na fase final do mandato de Draghi, ao afirmar que “a política acomodatícia do BCE tem sido um motor chave da procura interna durante a recuperação e essa política continua a ser adoptada” e que “a política monetária irá continuar a apoiar a economia e a responder a riscos futuros em linha com o mandato de estabilidade de preços”.

Depois, deixou claro que pretende continuar a pressionar os governos a darem uma maior ajuda à economia com a sua política orçamental, afirmando que “é claro que a política monetária poderia atingir os seus objectivos mais rapidamente e com menos efeitos colaterais se outras políticas também estivessem a apoiar o crescimento”. Uma declaração em tudo semelhante às realizadas antes por Mario Draghi e que são vistas essencialmente como um apelo à Alemanha para investir mais.

Ainda assim, houve também quem visse no discurso de Lagarde alguns sinais de que a nova presidente está disposta a fazer maiores esforços para gerar mais consensos dentro de um BCE dividido (e em que a Alemanha frequentemente faz parte da minoria que se opõe a medidas como a compra de dívida pública ou as taxas de juro de depósito abaixo de zero), algo de que Mario Draghi já parecia ter desistido no final do seu mandato.

Em primeiro lugar, Lagarde deu muito poucos pormenores sobre a política monetária e evitou totalmente dar sinais novos aos mercados sobre o rumo a seguir, algo que Draghi fazia com frequência e que os seus opositores dentro do BCE criticavam por condicionar a decisão final do conselho de governadores. Depois, confirmou a intenção de dar início a um processo de revisão interna da estratégia do BCE, um passo que é visto como essencial para restabelecer a paz dentro do banco central. Na semana passada, tinha também inovado ao convidar os outros 24 membros do conselho para um retiro num hotel de luxo a norte de Frankfurt.

Esta sexta-feira, logo a seguir à intervenção de Christine Lagarde foram divulgados novos indicadores que dão conta da manutenção de uma tendência de abrandamento da actividade, sentindo-se o contágio do momento que se vive na indústria (especialmente a alemã) a outros sectores de actividade.