Urnas obrigam Sánchez a fazer acordo à esquerda

O líder socialista apostou no reforço do PSOE para governar sozinho, mas perdeu deputados e a extrema-direita criou uma onda vitoriosa. Face ao bloqueio, PP mostrou-se disponível para desbloquear a situação. Sánchez garantiu que vai haver “governo progressista”.

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Pedro Sánchez no seu discurso de vitória SERGIO PEREZ/Reuters

A Espanha voltou às urnas menos de sete meses depois e o que conseguiu foi mostrar que o bloqueio esquerda-direita se mantém. Os socialistas apostaram tudo no reforço da sua bancada no Congresso de Deputados, para que Pedro Sánchez pudesse alcançar aquilo que sempre quis, a investidura de um governo minoritário com acordos de incidência parlamentar, uma solução à portuguesa, como várias vezes se referiu ao longo destes meses.

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A Espanha voltou às urnas menos de sete meses depois e o que conseguiu foi mostrar que o bloqueio esquerda-direita se mantém. Os socialistas apostaram tudo no reforço da sua bancada no Congresso de Deputados, para que Pedro Sánchez pudesse alcançar aquilo que sempre quis, a investidura de um governo minoritário com acordos de incidência parlamentar, uma solução à portuguesa, como várias vezes se referiu ao longo destes meses.

Sánchez queria uma geringonça espanhola e saiu-lhe um imbróglio político. Ganhou as eleições, mas é fácil de concluir que foi uma vitória de Pirro, já que os seus 120 deputados (menos três que a 28 de Abril) não lhe servem para impor absolutamente nada a nenhuma das forças com quem poderia acertar acordos. Daí que no seu discurso repetisse várias vezes a fórmula “governo progressista” que não quis admitir até agora.

O eleitorado penalizou o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) nas urnas. Não foi um sinal claro, mesmo assim, demonstra que houve uma parte do eleitorado que considerou Sánchez responsável pelo bloqueio político. O Unidas Podemos perdeu sete deputados em relação às eleições de Abril.

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Facto sublinhado por Pablo Iglesias, líder do Unidas Podemos: “O que em Abril foi uma oportunidade, ter um Governo, uma coligação progressista, agora é uma necessidade. Agora faz falta um Governo com estabilidade suficiente e que garanta os direitos. A nossa proposta ao PSOE são os artigos sociais da Constituição espanhola para travar a extrema-direita, que é a consequência mais grave destas eleições. Apelamos ao PSOE para que respeite o resultado eleitoral.”

O mesmo sublinhou Íñigo Errejón, ex-Podemos, cujo Mais País conseguiu eleger três deputados: “Em Espanha, há uma segunda oportunidade para se acordar um Governo progressista é uma obrigação moral que nos dediquemos a essa tarefa”, disse. “Não podemos ir a terceiras eleições. Esta repetição eleitoral é um aviso do que acontece quando os interesses pessoais se põem à frente dos interesses do país”, acrescentou.

Uma mensagem destinada a Sánchez, mas que se aplica com muito mais propriedade a Albert Rivera, que conduziu o Cidadãos para um desastre eleitoral de enormes dimensões, perdendo 47 lugares no Congresso de Deputados e caindo de terceira força política espanhola, com ambições de liderar a oposição à direita, para sexto partido nacional, ficando mesmo atrás da Esquerda Republicana da Catalunha (que perdeu dois deputados, passando a 13).

“O que hoje tivemos é um mau resultado, sem paliativos, nem desculpas. Perante estes maus resultados, acho que como líder político – e os líderes assumem sempre os maus resultados na primeira pessoa – é obrigatório convocar uma [reunião da comissão] executiva nacional urgente e extraordinária”, afirmou. Apesar de tudo, não apresentou a sua demissão, deixando o seu futuro na mão dos militantes do partido.

“Os espanhóis quiseram mais Sánchez para esta legislatura. Mas também quiseram mais Vox e menos centro político”, disse Rivera, naquela que é a verdadeira síntese da noite eleitoral em Espanha: PSOE ganha, mais pressionado para formar uma coligação à esquerda, enquanto à direita o Partido Popular lidera a oposição, mas quase desaparece a alternativa ao centro, extremando-se o eleitorado, com a transformação do Vox na terceira maior força política.

Para Santiago Abascal, líder do Vox, aquilo que os espanhóis fizeram este domingo foi tornar “mais plural” o Congresso de Deputados, com “uma representação mais fidedigna do que pensa o povo espanhol”. Para Abascal, os eleitores da extrema-direita foram “protagonistas da maior festa da democracia”.

Face a este cenário de impasse, Pablo Casado mostrou-se disponível para desbloquear a situação. “Vamos ver o que decide Pedro Sánchez e depois exerceremos a nossa responsabilidade, porque Espanha não pode continuar bloqueada”, afirmou o líder do PP, num tom muito mais galvanizado que em Abril, quando o seu partido teve o pior resultado da história. “O que dizemos ao PSOE é que deve pensar e valorizar o futuro. Deve pensar no que quer fazer uma vez que fracassou e que a governabilidade é muito difícil”, acrescentou.

Com mais 22 assentos parlamentares que há seis meses e meio, passando a ter uma bancada de 88 deputados, Casado referiu que o seu partido vai “ser muito exigente com o PSOE” e fica à espera do que decida Sánchez. “Depois exerceremos a nossa responsabilidade porque Espanha não pode continuar bloqueada”, acrescentou, dizendo a “Pedro Sánchez que a bola está do seu lado”.

No entanto, o primeiro-ministro em exercício não aproveitou a mão estendida de Casado, anunciando no seu discurso de vitória que os socialistas “sim ou sim vão formar um Governo progressista”. “A partir de amanhã [hoje], a trabalhar por esse Governo progressista liderado pelo PSOE”, disse.

“O nosso plano não é continuar a ganhar eleições, mas formar Governo”, disse Sánchez. “Por isso, faço um chamamento aos demais partidos para que, com generosidade e responsabilidade, ajudem a desbloquear este Governo progressista”, acrescentou.

Para o primeiro-ministro, “os espanhóis mostraram que querem que no Governo participem várias formações políticas”, daí que apele a todos os partidos, “salvo àqueles que se distanciam da convivência e da democracia”, para negociarem com os socialistas.