Morte de Baghdadi enterra ainda mais o “califado” do Daesh

Operação das forças especiais norte-americanas abateu líder do grupo que declarou um Estado não reconhecido em partes da Síria e do Iraque e lançou atentados terroristas na Europa e noutros países.

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Iraquianos vêem a notícia da morte de Baghadadi Alaa al-Marjani/REUTERS

Mais de cinco anos depois de ter proclamado um “califado” na Síria e no Iraque que atraiu radicais de todo o mundo e inspirou dezenas de atentados, Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do Daesh, foi morto numa operação das forças especiais dos EUA. A eliminação de Baghdadi é mais um golpe no grupo terrorista que nos últimos tempos era já uma sombra da ameaça que chegou a representar.

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Mais de cinco anos depois de ter proclamado um “califado” na Síria e no Iraque que atraiu radicais de todo o mundo e inspirou dezenas de atentados, Abu Bakr al-Baghdadi, o líder do Daesh, foi morto numa operação das forças especiais dos EUA. A eliminação de Baghdadi é mais um golpe no grupo terrorista que nos últimos tempos era já uma sombra da ameaça que chegou a representar.

A informação de que uma operação norte-americana tinha visado o líder do Daesh, também conhecido como Estado Islâmico, corria há várias horas, mas só foi confirmada oficialmente pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, ao início da manhã de domingo, em Washington (por volta das 13h30 em Portugal continental). Ao longo dos anos, a morte de Baghdadi foi noticiada em diversas ocasiões para acabar por ser desmentida. Desta vez, foi verdade.

“Ontem [sábado] à noite, os Estados Unidos apresentaram o terrorista número um do mundo à justiça”, começou por afirmar Trump numa declaração na Casa Branca. Há várias semanas que os serviços de inteligência norte-americanos seguiam de perto os passos de Baghdadi, mas as suas constantes mudanças de local tornaram difícil a execução dos planos de Washington.

A oportunidade acabou por surgir no sábado à noite quando o líder do Daesh foi localizado na cidade de Barisha, na província de Idlib, no Noroeste da Síria – a permanência de Baghdadi nesta área surpreendeu os analistas, uma vez que está sob controlo de uma milícia islamista que se opõe ao Daesh e está sob forte assédio das forças sírias e russas.

Não se sabe quantos elementos das forças especiais participaram na operação, mas Trump, que acompanhou a ofensiva na “Situation Room” na Casa Branca, disse que foram envolvidos oito helicópteros. A fase mais perigosa foi a chegada e a saída do complexo onde estava Baghdadi. Os militares trocaram tiros com os militantes que guardavam o local, enquanto o líder do Daesh tentava escapar por um dos túneis subterrâneos. Acabou por ficar encurralado e detonou o colete explosivo que tinha vestido. Ao seu lado estavam três dos seus seis filhos, que também morreram.

“Baghdadi era violento e perverso e morreu de forma violenta e perversa”, afirmou Trump, que não resistiu à tentação de usar a operação para se vangloriar e tirar dividendos políticos. “Desde que tomei posse que perguntava por Baghdadi. Diziam-me que tinham matado alguns terroristas, mas eu não conhecia o nome de nenhum deles”, disse o Presidente dos EUA. Trump justificou também a sua decisão de não ter partilhado as informações sobre a operação com os líderes do Congresso para evitar “fugas de informação”. “Em Washington há fugas como em lado nenhum do mundo”, afirmou.

A morte de Baghdadi acontece numa altura em que a política da Administração norte-americana para a Síria está sob forte escrutínio, sobretudo depois de Trump ter anunciado a retirada militar, permitindo que a Turquia avançasse contra os curdos sírios, aliados de longa data dos EUA no combate contra o Daesh. A opção de Trump não se alterou. “Não queremos manter soldados entre a Síria e a Turquia”, voltou a insistir o Presidente norte-americano, acrescentando que a prioridade é manter a segurança dos poços petrolíferos do Noroeste da Síria.

Com a eliminação de Baghdadi, o Daesh não perde apenas um “líder operacional”, escreve o The Guardian, mas também uma fonte de legitimidade. Foi este iraquiano, que dizia pertencer à mesma tribo do profeta Maomé, quem proclamou o “califado” no Verão de 2014 quando apareceu na mesquita de Mossul e foi sob a sua liderança que o Daesh se diferenciou dos grupos terroristas rivais, como a Al-Qaeda, atraindo milhares de fundamentalistas europeus, asiáticos, árabes e africanos, além de americanos, para viver nos territórios que controlou.

Com as derrotas militares sofridas desde que os norte-americanos intensificaram a sua acção na Síria e no Iraque, o Daesh perdeu todo o território que controlava. Trump disse que foram encontrados planos de Baghdadi para o renascimento do “califado” durante a operação, mas não se alongou quanto à possibilidade de poder vir a emergir um sucessor. “Já os temos em vista”, afirmou.