Portugal Tech. À procura de startups portuguesas de ambição global

A IFD, os fundos de investimento associados ao Portugal Tech e as startups apoiados por este programa vão marcar presença no Startup Capital Summit, em Coimbra, para dar a conhecer não só os financiamentos disponíveis para os empreendedores de base tecnológica, mas também os seus próprios exemplos para que melhor sejam seguidos.

Foto
Getty

Bastou menos de um ano de existência para o programa Portugal Tech ser rotulado como “uma das mais bem-sucedidas parcerias europeias com Bancos Promocionais Nacionais”, cujos investimentos já ascendem a 100 milhões, dos quais 50 foram investidos pelo IFD e outros 50 pelo FEI. A avaliação é do director executivo do Fundo Europeu de Investimento (FEI), Pier Luigi Gilibert, que justificou o elogio com a velocidade de processos e pela qualidade das apostas e dos fundos envolvidos neste programa com a chancela da Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD).

Lançado em Dezembro de 2018, o Portugal Tech visa apoiar as empresas portuguesas de base tecnológica e nasceu de uma parceria entre o FEI, filial do Banco Europeu de Investimento, e a IFD, sociedade pública de promoção de soluções de financiamento para o tecido empresarial português. Construído como um ‘fundo de fundos’, o Portugal Tech não faz chegar apoios directamente às startups de base tecnológica portuguesas, antes aliou-se a capitais de risco especializadas (Indico Capital Partners, Armilar Venture Partners e Vallis Capital Partners) que, por terem mais know-how na área e acesso a capital privado, ficaram com a responsabilidade de analisar e seleccionar as startups e PME a ser apoiadas.

“Os fundos, que têm a expertise, precisam de angariar capital, que é escasso na UE, onde há menos fontes de financiamento disponíveis para a área tecnológica. O país tem propensão para as tecnologias, mas os investidores não”, explica Stephan Morais, managing partner da Indico Capital Partners. “A UE, através do FEI e dos bancos europeus de desenvolvimento, como a IFD, torna-se fonte importante para iniciar a capitalização destes fundos.” 

Este programa, tal como os seus equiparáveis na Europa, procura suprir a menor propensão dos investidores da região em apostar na inovação, ao contrário do que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos. “Surgem para financiar este segmento da economia”, explica Stephan Morais. Mas apesar de cada país ter o seu programa, certo é que os investidores são de várias nacionalidades. E o empreendedorismo português, talvez fruto de algumas empresas-ícones que entretanto trilharam caminho, já está no radar dos investidores. “É significativo termos investidores de muitos países a investir em tecnologia portuguesa, o que há 10 ou 15 anos não acontecia”, sublinha o responsável da Indico.

Foto
Getty

A Indico Capital é uma venture capital de estágio inicial focada em startups tecnológicas de Portugal ou Espanha que, contando actualmente com 46 milhões de euros angariados de mais de 30 investidores de diferentes nacionalidades, disponibiliza investimentos de 150 mil a 5 milhões de euros. O Portugal Tech, com o apoio do FEI, foi um dos contribuidores para a capitalização inicial da Indico que, agora, se encontra em fase de selecção de projectos onde investir. Além da Indico, a Vallis Capital Partners e a Armilar Ventures Partners são os outros dois fundos de base portuguesa que se encontram associados ao Portugal Tech.

Excluindo a tarefa de escolherem negócios, ideias e startup, estes fundos asseguram igualmente o apoio à gestão. Mas a análise a cada projecto é muito exigente. “O crivo é muito apertado e é assim que deve ser”, defende Stephan Morais, que quantifica: “Na Indico, já avaliámos 1.050 projectos e escolhemos apenas nove. E destas nove, algumas vão falhar”, assume. Apesar de se falar de um programa português, o que se procura apoiar são startups e projectos de âmbito e alcance global. Não se procura uma boa ideia para Portugal, procuram-se excelentes ideias para o mercado mundial. “Procuramos ideias únicas à escala global, para mercado global”, explica. Mas para uma ideia ser global não precisa de ser ultra disruptiva.

Ideias simples com um twist

“Ao apoiar os investidores, este tipo de programa permite que mais facilmente as startups consigam o investimento necessário para avançar com os seus projectos. Sem o programa, menos startups recebem financiamento; as que recebem, recebem valores menores; e eventualmente mais tarde”, explica Nuno Fonseca da Soundparticles, sobre a importância do programa. Esta empresa foi um dos primeiros investimentos no âmbito do Portugal Tech. Ao aplicar computação gráfica não a imagem mas ao som, a Soundparticles criou um software de audio 3D que permite ‘espalhar’ milhares de sons em cenas de filmes ou jogos numa questão de minutos, algo que sem este software demora várias horas. Um breakthrough suficiente para merecer um investimento de 400 mil euros para aceleração e expansão.​

Além da Soundparticles, a Barkyn foi outra das empresas onde já foram aplicados fundos, no caso 1,7 milhões de euros. Esta empresa criou um serviço de subscrição para o mercado dos animais de estimação, assegurando aos clientes um pacote mensal de produtos e serviços personalizado para o animal, além de acesso a um veterinário online. Presente em Portugal, Espanha e Itália, o investimento recebido permitirá à Barkyn expandir produtos e mercados. “Mais do que criar algo inovador no mercado dos animais de companhia, estamos a construir o futuro do comércio electrónico, de extrema personalização e conveniência”, explicou André Jordão, fundador e CEO, aquando do anúncio do investimento.

Uma outra companhia alvo de investimento foi a Bitcliq, vista como pioneira no blockchain. Com uma arquitectura que permite a rastreabilidade total entre o momento em que um peixe é pescado até à sua venda ao cliente final, a empresa já exportou soluções para frotas um pouco por todo o mundo, tendo agora recebido um investimento de 600 mil euros para expandir o projecto-piloto que tem montado em Peniche. Com este investimento, antecipa a empresa, será possível alargar a todo o país a plataforma tecnológica e permitir que todas as frotas estejam conectadas em tempo real a clientes e fornecedores de modo a que as ordens de compra e venda sejam feitas pelo smartphone assim que as capturas são efectuadas e registadas no barco. Posteriormente, o objectivo passa por chegar aos principais portos de pesca da Europa.

Startup Capital Summit: Divulgar e expandir

Os responsáveis por estes e outros exemplos de projectos apoiados pelo Portugal Tech e pelos fundos de investimento irão marcar presença no Startup Capital Summit, cuja primeira edição decorre a 18 de Setembro, em Coimbra, organizado pela IFD, FEI, Universidade de Coimbra e Público. Este será um evento anual para a divulgação de todos os instrumentos financeiros ao dispor das startups e dos projectos em estágio inicial portugueses.​

Contando com mais de 50 especialistas em transferência de tecnologia, financiamento ou capital de risco, o evento terá vários painéis e mesas redondas especializadas com os responsáveis máximos da IFD, dos fundos de investimento associados ao Portugal Tech e de várias startups e empreendedores em fase de aceleração, tornando-se assim numa oportunidade única para conhecer todos os apoios já ao dispor de startups e PME de base tecnológica em Portugal.