O exemplo de Alexandre Soares dos Santos

Homenageá-lo é uma forma de recusar a cultura de dependência e o miserabilismo que trava a iniciativa privada e impede o país de dar o salto em frente de que tanto precisa.

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LUSA/JOSÉ COELHO

Alexandre Soares dos Santos morreu num tempo em que os exemplos da sua carreira e da sua condição de homem livre fazem mais falta do que nunca. Porque raramente como nos últimos anos se viu tanta amplitude e tanta veemência no discurso contra a iniciativa privada, a criação de riqueza, o lucro ou liberdade empresarial. A devastação da troika, a obsessão com as rendas fáceis, a corrupção e a destruição do pouco valor acumulado pelo capitalismo português podem explicar a mudança da forma como o país vê os seus empresários. É por isso importante dar um passo atrás e lembrar que, para lá dos danos causados pelos outrora donos disto tudo, houve milhares de empresários que ajudaram a salvar o país da crise financeira. Como Alexandre Soares dos Santos.

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Alexandre Soares dos Santos morreu num tempo em que os exemplos da sua carreira e da sua condição de homem livre fazem mais falta do que nunca. Porque raramente como nos últimos anos se viu tanta amplitude e tanta veemência no discurso contra a iniciativa privada, a criação de riqueza, o lucro ou liberdade empresarial. A devastação da troika, a obsessão com as rendas fáceis, a corrupção e a destruição do pouco valor acumulado pelo capitalismo português podem explicar a mudança da forma como o país vê os seus empresários. É por isso importante dar um passo atrás e lembrar que, para lá dos danos causados pelos outrora donos disto tudo, houve milhares de empresários que ajudaram a salvar o país da crise financeira. Como Alexandre Soares dos Santos.

Visionário, corajoso e arrojado, o homem que transformou a Jerónimo Martins numa multinacional faz parte daquela estirpe de homens de negócios rara em Portugal que privilegia as regras dos mercados em detrimento dos favores políticos. A sua intervenção pública jamais se pautou por qualquer tipo de seguidismo ou reverência para com os poderes. Essa irreverência fez dele um alvo prioritário do discurso de uma certa esquerda que continua a associar o lucro privado a um crime colectivo — os salários dos seus gestores ou a decisão de levar a sede fiscal da holding para a Holanda também ajudaram. O velho Portugal de mão estendida ao poder político não perdoa o sucesso nem estimula a liberdade dos que pensam contra a corrente — mesmo os que pelo mecenato criam instituições com a valia social da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Gente da estirpe de Alexandre Soares dos Santos faz cada vez mais falta porque o país precisa de criar riqueza capaz de alimentar o Estado social e de gerar empregos qualificados. Esse é o grande desígnio nacional que foi subalternizado na legislatura que acaba. Não porque não faça parte programa do PS, mas porque o PS está no que diz respeito ao mundo dos negócios atado pela ortodoxia dos seus parceiros da esquerda. O discurso contra as grandes empresas e os grandes empresários que o Bloco e o PCP alimentam não se instituiu no poder, mas condicionou a acção do Governo. Continuamos por isso a discutir muito a distribuição de riqueza e muito pouco a melhor forma de a criar. Neste contexto, Alexandre Soares dos Santos teve uma história exemplar. Homenageá-lo é uma forma de recusar a cultura de dependência e o miserabilismo que trava a iniciativa privada e impede o país de dar o salto em frente de que tanto precisa.