Israel destrói casas de palestinianos junto ao muro que separa a Cisjordânia de Jerusalém

O Supremo Tribunal israelita decidiu que as casas ameaçam a segurança das suas tropas perto do muro que separa a Cisjordânia de Israel. Mas os palestinianos receiam que os estejam a expulsar das imediações de Jerusalém.

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Israel destacou centenas de soldados para proteger as escavadoras Reuters/MUSSA ISSA QAWASMA

A coberto da noite, centenas de soldados israelitas entraram esta segunda-feira com bulldozers na aldeia palestiniana de Sur Baher, no extremo Leste de Jerusalém, e, ao raiar do dia, expulsaram a população para demolir as suas casas invocando razões de segurança. Os palestinianos receiam que seja uma forma de os expulsar da zona de Jerusalém e o início de demolições de aldeias próximas da vedação que divide Jerusalém e separa a Cisjordânia de Israel. 

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A coberto da noite, centenas de soldados israelitas entraram esta segunda-feira com bulldozers na aldeia palestiniana de Sur Baher, no extremo Leste de Jerusalém, e, ao raiar do dia, expulsaram a população para demolir as suas casas invocando razões de segurança. Os palestinianos receiam que seja uma forma de os expulsar da zona de Jerusalém e o início de demolições de aldeias próximas da vedação que divide Jerusalém e separa a Cisjordânia de Israel. 

“Estão a deslocar, pela força, as pessoas das suas casas e começaram a pôr explosivos nas casas que querem ver destruídas”, disse Hamada Hamada, líder da aldeia, à Reuters. Mais de 350 palestinianos, entre os quais muitas crianças, poderão ter as suas casas danificadas, segundo as Nações Unidas.

O Governo israelita defende que as casas em questão foram construídas ilegalmente e, em meados de Junho, o Supremo Tribunal israelita decidiu por unanimidade que as habitações violavam a proibição de construção ao representarem um risco para a segurança – consideram que podiam servir de base de ataques terroristas, por estarem tão próximas da vedação.

O Supremo Tribunal deu aos residentes palestinianos um mês de prazo para demolirem as suas casas e arranjarem alternativa de habitação. Os palestinianos recusaram-se a fazê-lo e o prazo expirou na sexta-feira.

“Há centenas de estruturas ilegais”, disse o ministro da Segurança Interna israelita, Gilad Erdan, à Rádio do Exército Israelita. “Não é apenas por haver centenas de estruturas, mas também porque dezenas delas estão na rota da vedação de separação, ameaçando a segurança das nossas forças que por lá operam”, explicou o governante.

Porém, as casas estão sob jurisdição da Autoridade Palestiniana, liderada por Mahmoud Abbas, que autorizou a sua construção, dizem os residentes. A Autoridade Palestiniana exerce uma autoridade limitada na Cisjordânia desde os Acordos de Oslo, de 1993, e os palestinianos receiam que tudo não seja mais que uma desculpa para os expulsar das imediações da histórica cidade de Jerusalém, símbolo do Judaísmo, Cristianismo e Islão.

“Tive permissão para a construir pela Autoridade Palestiniana. Pensei que estava a fazer o que estava certo”, disse Fadi al-Wahash, residente de 37 anos, à Reuters. “Construí esta casa pedra a pedra. Era o meu sonho viver nela. Agora estou a perder tudo”.

“Ouvimos estrondos muito fortes provenientes do edifício ao lado do qual estamos agora. Era uma grande escavadora mecânica a destruir parte do telhado de uma casa onde viviam duas famílias”, relatou o jornalista da Al-Jazira Rob Matheson. “O pai de uma das famílias sentou-se na rua com uma cadeira a ver a sua casa ser destruída.”

Muitos dos habitantes verão as suas casas demolidas sem que alternativas de residência lhes tenham sido apresentadas. “Quando a casa for demolida ficaremos na rua”, disse Ismail Abadiyeh, de 42 anos e pai de quatro crianças, citado pela Al-Jazira.

À medida que algumas das casas se transformavam em entulho, activistas pró-palestina chegaram à aldeia com o intuito de travar as demolições. Entrincheiraram-se nas casas enquanto filmavam e fotografavam as escavadoras protegidas por centenas de soldados, mas não conseguiram travar os despejos. Eles próprios acabaram por ser retirados das casas.

"Um precedente perigoso"

A Organização para a Libertação da Palestina (OLP) emitiu um comunicado em que acusa o Supremo Tribunal de Israel de “criar um precedente que permitirá às forças de ocupação israelitas demolir numerosas casas de palestinianos nas proximidades” da vedação, que se estende por centenas de quilómetros.

Na maior parte da sua extensão esta vedação é de betão. Israel afirma que o seu objectivo é impedir atentados de bombistas suicidas. Já os palestinianos acusam Israel de construir o muro com o intuito de os segregar e para se apropriar de territórios para vão além da linha verde - a delimitação territorial de 1949, acordada após a Guerra de Independência de Israel e internacionalmente reconhecida. 

Em 2004, o Tribunal Internacional de Justiça deliberou que a vedação construída em território palestiniano ocupado desde a Guerra do Seis Dias, em 1967, era “contrária à lei internacional”.

“A continuação desta política [de demolição de casas] prejudica a viabilização da solução de dois Estados e a perspectiva de uma paz duradoura”, reagiu em comunicado a União Europeia.

De França, o Ministério dos Negócios Estrangeiros condenou um “precedente perigoso": “Foi a primeira vez que houve demolições na zona controlada pela Autoridade Palestiniana sob os Acordos de Oslo”, disse o MNE. “São um precedente perigoso que é uma ameaça directa à solução de dois Estados.”