“Criar condições para o desenvolvimento científico”

Assim afirma Luís Portela, presidente da Fundação BIAL que reforçou o seu programa mecenático, com a criação do BIAL Award in Biomedicine. Dotado de 300 mil euros, este é um prémio que extravasa fronteiras, a atribuir por um júri internacional.

Foto
Getty

Incentivar a investigação científica de grande qualidade, contribuindo para o desenvolvimento de soluções que rasguem novos patamares na Medicina. É este o propósito do BIAL Award in Biomedicine, uma iniciativa da Fundação BIAL que conhece este ano a primeira edição. E as palavras que descrevem esse propósito são do presidente da fundação, Luís Portela, que justifica a criação de um prémio internacional no quadro da própria internacionalização da empresa fundada em 1924 e que actualmente está presente em mais de 50 países. 

E porquê a Biomedicina? Porque – explica – a investigação científica tem evoluído de uma forma muito diferenciadora, assumindo muito do saber disponível no campo da Biologia. Nos anos ímpares, este será o prémio. No valor de 300 mil euros, visa galardoar uma obra publicada nos últimos dez anos, de índole biomédica, com tema livre e que represente um trabalho com resultados de grande qualidade e relevância científica.

O desejo é, assumidamente, atrair investigadores de outros pontos do globo. Para alcançar esse desiderato, a fundação conta com um júri internacional de “grande competência”, como sublinha Luís Portela. Serão os membros do júri a nomear – até 30 de Junho – os trabalhos candidatos, que poderão também ser indicados pelos membros do Conselho Científico da fundação, por anteriores vencedores do Prémio BIAL, por sociedades científicas e por outras entidades que o Júri entenda convidar a enviar propostas. “Pensamos que é uma forma ao mesmo tempo mais atractiva e mais justa na atribuição do prémio. A indicação dos pares, com independência, permite seleccionar os melhores. É importante assumir isso”, comenta Luís Portela. Quanto à presença de portugueses entre os seleccionados, manifesta o desejo de que aconteça, mas desde que “ombreiem com os estrangeiros ao melhor nível”.

Luís Portela, presidente da Fundação BIAL D.R.
Carmo Fonseca, investigadora e vice-presidente do júri do BIAL Award in Biomedicine D.R.
Howard Bauchner, jurado e representante da revista internacional JAMA D.R.
Fotogaleria
Luís Portela, presidente da Fundação BIAL D.R.

Essa é a tarefa acometida a um júri constituído por 12 figuras da comunidade científica e académica: Maria do Carmo Fonseca e Arsélio Pato de Carvalho representam o Conselho de Reitores das Universidades Portugueses; Paola Bovolenta e Eva Kondorosi são os nomes do European Research Council; Vincenzo Costigliola e Manuel Pais-Clemente são os representantes da European Medical Association; enquanto pelo Conselho Científico da Fundação BIAL têm assento Niels Birbaumer e Menno Witter. O júri integra ainda anteriores vencedores do Prémio BIAL, a saber Vladimir Hachinski e Peter St. George-Hyslop. A perspectiva das revistas científicas está igualmente contemplada, nas pessoas de Richard Horton (The Lancet) e de Howard Bauchner (JAMA – Journal of the American Medical Association).

E é precisamente para Howard Bauchner, editor da revista JAMA, que o desafio de ser jurado num prémio desta natureza consiste em “seleccionar os melhores indivíduos” daquela que espera seja “uma lista extraordinária de nomeados”. Quanto à relevância do galardão, considera que é bem-vindo: “Há muita investigação de qualidade em Biomedicina. E muitos prémios. Mas também há muitas pessoas que merecem reconhecimento, pelo que é uma adição importante à lista de prémios”. Afinal – destaca – “homenagear uma pessoa pelas suas conquistas é um esforço humano importante. Além de que, com frequência, impulsiona as suas carreiras e as suas pesquisas”.

A investigadora Maria do Carmo Fonseca, vice-presidente do júri – de que, entretanto, assumiu as funções da presidência dado o falecimento, em Maio, do presidente, o neurocientista Fernando Lopes da Silva – encontra neste BIAL Award in Biomedicine “o mérito de projectar Portugal na comunidade científica global”: “Demonstra que, em Portugal, também há capacidade financeira gerada pela actividade industrial para incentivar a investigação.” Um prémio – afirma – é, acima de tudo, um reconhecimento do valor da descoberta científica feita pelo investigador premiado. Mas tem igualmente a mais-valia de proporcionar ao investigador que o recebe a “liberdade para realizar experiências exploratórias, sem os constrangimentos inerentes a cumprir um contrato de investigação com um plano de trabalhos pré-definido e com uma enorme carga burocrática relativa ao tipo de despesas permitidas”. 

Maria do Carmo Fonseca não tem dúvidas de que existe em Portugal “uma massa crítica de jovens investigadores na área biomédica, muitos deles previamente treinados em centros de excelência espalhados por todo o mundo”. No entanto, “para ser competitiva, a investigação biomédica exige a realização de muitas análises bastante complexas e dispendiosas e requer, portanto, grandes investimentos. Não depende apenas da criatividade individual dos investigadores, mas requer equipas multidisciplinares com competências tecnológicas em áreas que estão em constante evolução”.

“Considero, por isso, que o maior desafio, neste momento, é assegurar o investimento nos centros de excelência nacionais, diversificando o mais possível as fontes de financiamento, de forma a reduzir o risco de depender apenas de fundos públicos”, afirma a investigadora. 

É neste contexto que se enquadra o papel mecenático da Fundação BIAL. O seu presidente, Luís Portela, enfatiza que se trata de uma “obrigação social”, ao abrigo da qual os laboratórios disponibilizam os fundos para incentivo ao desenvolvimento científico, numa “total relação de independência”. Estas iniciativas de “uma empresa ao serviço da saúde” – conclui – têm subjacente a retribuição da confiança dos profissionais de saúde e dos doentes, criando condições para o desenvolvimento científico.