Estes jovens têm 24 horas para salvar os oceanos

São engenheiros, biólogos, gestores, informáticos, designers, matemáticos e até médicos. São jovens com um mesmo objectivo: apresentar uma ideia viável para a sustentabilidade dos oceanos.

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As mesas de trabalho já estão preparadas. Em grupos de cinco, 120 jovens reúnem-se para criar soluções reais para salvar os oceanos. Os seus pés estão bem assentes na areia da praia de Carcavelos, onde competem, entre esta sexta-feira e sábado, no Innovathon – Ocean Edition.

A ideia da maratona é a de proporcionar ideias num espaço “disruptivo”, pelo que toda a competição é realizada na praia.

“Se estamos a falar de oceanos nada melhor do que estarmos junto do oceano com o pé mesmo na areia. Seguramente isto também vai inspirar estes jovens”, afirma Gualter Crisóstomo, director de sustentabilidade da Centre of Engineering and Product Development (Ceiia) – organizadora da competição.

Esta maratona de 24 horas reúne jovens de 18 instituições, de 32 cursos diferentes, para que consigam apresentar uma ideia de negócio viável em quatro áreas: redução de lixo marinho; preservação de ecossistemas marinhos; aquacultura offshore (ou seja, fora do alto mar) e mobilidade sustentável nos oceanos.

Nas propostas podem juntar várias áreas ou focarem-se apenas numa – o que importa é que possam ser aplicadas na vida real. Por enquanto ainda só é apresentado um plano. No entanto, os três vencedores terão a possibilidade de dar vida às suas ideias: durante 12 meses trabalharão no protótipo do projecto com a Ceiia.

O relógio começou a contar às 15h desta sexta-feira. As equipas mergulham no trabalho, isto porque o tempo escasseia: as 24 horas são para serem levadas a sério.

“São mesmo 24 horas. As equipas só têm esse tempo para construir a ideia. A gestão que fazem depende das equipas: se querem dormir, se não querem, se preferem dormir por turnos… O que nós garantimos é que [os jovens] têm todas as condições necessárias”, explica Gualter Crisóstomo.

Sustentabilidade em vez de rentabilidade

Por enquanto trocam-se ideias, muitas. Cada grupo pode juntar jovens do mesmo curso ou de áreas completamente diferentes, que podem ir desde a biologia, até à gestão, informática, engenharias e até design.

Para Cristina Seijo, concorrente na maratona, esta reunião de competências faz todo o sentido: “Este tipo de ideias precisa mesmo de várias disciplinas”, explica.

No seu grupo tem outros quatro colegas da Universidade dos Açores. Curiosamente, apesar de andarem na mesma faculdade, não se conheciam até entrarem no concurso. Vêm de áreas tão diferentes como a Economia, Ciências do Mar, Ordenamento do Espaço Marítimo e Informática – juntos querem criar uma solução para uma melhor monitorização do espaço marítimo e das áreas protegidas.

Do lado completamente oposto, temos um grupo de jovens de engenharia naval do técnico. Andam juntos desde o primeiro ano da faculdade e já têm o seu plano bem definido: “No nosso curso estamos muito habituados a ouvir falar da poluição provocada pelo transporte marítimo, [pelo que vamos trabalhar uma ideia nessa área]”, explica Mónica Ramalho.

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À vez, cada um explica com entusiamo que o transporte marítimo é dos mais utilizados na distribuição de produtos, algo que muitos consumidores não se apercebem. Por essa razão, acreditam que vale a pena apostar em medidas que o tornem mais sustentável.

“Percebo que as pessoas não queiram investir só para tornar um negócio mais sustentável. Mas o não ser rentável agora não quer dizer que não seja rentável no futuro, e acho que isso também é o desafio que temos aqui”, explica Mónica.

Corrida ao oceano

Sullivan Gonçalves e Jorge Magalhães vieram directamente de um exame de propulsão (estão no curso de engenharia aeronáutica) para a maratona. No entanto, não conseguiram resistir ao chamamento do oceano e correram para um mergulho no mar. Na sua equipa têm três colegas do mesmo curso e pretendem tirar o melhor proveito das suas valências.

“Estamos a pensar num sistema de satélites ou de drones para fazer um mapeamento das zonas do oceano com mais lixo”, explica Francisco Dias. No entanto, não esconde que o grupo tem algumas fraquezas, principalmente na área de marketing e gestão. “Olhamos muito para as coisas na perspectiva do engenheiro, temos de pensar mais na perspectiva do empreendedorismo”, realça.

É a pensar nestas “fraquezas” que a maratona reúne um conjunto de mentores de várias áreas para guiarem os jovens nas suas ideias: “A informação disponível é muita e os alunos também são dos mais variados cursos. Portanto, há aqui uma necessidade de foco para que as ideias sejam, de facto, concretizáveis”, explica Ana de Sousa, coordenadora dos mentores do Innovathon.

Também o grupo de Fernando Maia está preocupado com o lixo marinho: “No caso dos países desenvolvidos já temos uma infra-estrutura, mas no caso dos países em desenvolvimento ainda não existe [uma bem definida]. Sentimos que podemos propor um sistema para facilitar esta situação no futuro”, explica.

E apostar na sustentabilidade, é rentável? Para estes jovens a resposta é muito simples. “Sustentabilidade é, por definição, a manutenção de uma relação que consiga funcionar da mesma maneira durante muito tempo. Por exemplo, se o sistema marítimo for abaixo, todas as indústrias que dependem dele vão abaixo. Podemos não estar a ganhar nada com isto [agora], mas é uma questão de não perdermos [no futuro], explica Bruno Maurício de engenharia electrotécnica.

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Uma coisa é certa. Grande parte destes jovens não vai conseguir dormir nestas 24 horas. Fervilha o entusiamo e a vontade de trocar ideias e conhecimentos. Muitos dizem que assim que se embrenharem no trabalho esquecem o cansaço. Outros falam no café e na possibilidade de dar um mergulho na praia: “Apesar das contas, o oceano também não dorme”, afirma Francisco, engenheiro de nanotecnologias.