Sindicalista histórico demite-se após alertar para racismo na PSP

Manuel Morais deixa cargo de vice-presidente da ASPP, o maior sindicato da PSP. Menos de 300 polícias subscreveram petição pedindo a sua demissão.

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Nelson Garrido

O maior sindicato da polícia, a Associação Sindical de Profissionais de Polícia (ASPP), perdeu um dos seus dirigentes históricos, na sequência de declarações relacionadas com a existência de racismo entre as forças de segurança.

Manuel Morais era um dos vice-presidentes desta organização desde 1997. Mas depois de ter admitido a existência de discriminação racial entre as forças de segurança ficou debaixo de fogo.

No âmbito da sua tese de mestrado, este agente do Corpo de Intervenção da PSP realizou um estudo sobre a actuação policial em zonas urbanas sensíveis, em que revelou existirem colegas das forças policiais que exteriorizavam ideais racistas e xenófobos, usando tatuagens neonazis e integrando grupos ligados a este tipo de causas. O fenómeno seria do conhecimento geral, apesar de não serem aplicadas punições a este tipo de comportamentos.

As primeiras declarações públicas de Manuel Morais datam já de há um ano. Mais recentemente, e na sequência da condenação de oito polícias da esquadra de Alfragide por crimes deste género, o dirigente sindical voltou a falar na necessidade de combater o “preconceito racial” dos agentes da PSP – o que desencadeou uma onda de protestos entre os colegas e levou ao surgimento de uma petição pública pedindo a sua demissão do cargo de vice-presidente da ASPP.

“Não aceito ter na direcção do sindicato mais representativo da PSP nem aceito poder ser representado perante qualquer outra instituição por um elemento que revela total desconhecimento da honestidade humana e policial dos seus pares”, refere o texto da petição, que até ao final desta segunda-feira contava com menos de 300 assinaturas.

O presidente da associação sindical, Paulo Rodrigues, explica que o colega apresentou a demissão nesta segunda-feira à hora de almoço porque foram bastantes os sócios que fizeram depender a sua permanência nesta organização da sua saída. “A continuidade dele podia trazer consequências graves” ao sindicato, esclareceu, adiantando ainda que Manuel Morais não será substituído, uma vez que existem ainda outros dois vice-presidentes.

“Ele queria falar da sua tese, na qualidade de especialista, mas a maioria dos colegas interpretou as suas palavras como um ataque”, descreve Paulo Rodrigues.

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