Daniel Kehlmann: “Porque é que todos guardam mensagens de texto comprometedoras?”

Daniel Kehlmann tinha 29 anos quando ganhou estatuto de estrela na literatura alemã com A Medida do Mundo. Aos 44 anos, o escritor acaba de publicar em Portugal Devias Ter-te Ido Embora, história breve a namorar com o cinema, e aperitivo para Tyll, o romance que se espera por cá. A sua obra vai ser homenageada na edição deste ano da Noite da Literatura Europeia.

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Daniel Kehlmann fotografado em Nova Iorque, onde vive Ulf Andersen/Getty Images

Há uns dias, Daniel Kehlmann ainda caminhava de auscultadores nos ouvidos pelas ruas de Nova Iorque. Andava a ouvir as obras de Proust em audiolivro. Nunca tinha lido e optou por escutar Em Busca do Tempo Perdido, aproveitando o dia-a-dia na cidade para entrar na cabeça do escritor francês e acompanhar a toada da sua escrita com todos os sentidos despertos. “Foi maravilhoso”, comenta num inglês de sotaque alemão, a língua com que cresceu e na qual escreve. “Adoro a língua alemã, não a trocaria por outra. Há muitos clichés sobre ela, dizem que é uma língua feia. Charlie Chaplin faz uma paródia a isso no filme O Grande Ditador, mas há uma descrição muito bonita de [Boris] Pasternak; conta que ao ouvir um homem falar alemão pensou: ‘Eu sabia ao que soava o alemão, mas não sabia que podia soar assim’. E depois diz-nos que o homem que ouviu falar era Rilke.” Kehlmann gosta de se saber herdeiro dessa tradição e lembra um conselho de Vladimir Nabokov depois de afirmar que há muita literatura “extraordinária” escrita em alemão: “Nabokov disse aos seus alunos que, se queriam escrever prosa, deveriam ler muita poesia. Hölderlin ou Goethe fizeram coisas tão belas com o alemão que são uma inspiração tremenda.”