Cabo Verde

Copos, palhinhas e garrafas: um txiluf com tudo o que cai no mar

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Sempre que caminham nas praias da ilha de São Vicente, Cabo Verde, em vez de se deslumbrarem com a paisagem, Lara Plácido e Grace Ribeiro só reparam numa coisa: “Tudo é lixo, não há cuidado nenhum, nada é reaproveitado”, diz a primeira, ao telefone com o P3.  “É impressionante”, afiança a arquitecta e docente portuguesa que há quatro anos se divide entre o Porto e o Mindelo, onde dá aulas no M_eia - Instituto de Artes, Cultura e Tecnologia, frequentado, por sua vez, por Grace, estudante cabo-verdiana do 5.ª ano do mestrado integrado em Arquitectura e fotógrafa. “Se enterras a mão na areia, tiras plástico.”

À falta de consciência ambiental (“As pessoas convivem bem com o lixo, usam muito a praia e deixam-no lá”), soma-se o “grave problema” que Cabo Verde enfrenta no que toca ao acesso a água potável: “Usam-se imensos produtos descartáveis porque não há água para lavar. E aí coloca-se a questão: gastar dinheiro na água, que é bastante cara, ou usar coisas de plástico.”

Perceberam que tinham de fazer alguma coisa. Ao olhar para o mar de plástico que se estendia a seus pés e que teimavam em recolher, ao ler as estatísticas que dão conta que 91% do plástico produzido no mundo não é reciclado e vai parar ao mar. Em Janeiro, pegaram em algum do lixo que tinham resgatado das praias, foram ao mercado municipal buscar, entre outros, choco, caranguejo e barbeiro e agarraram na câmara. Fotografaram-nos. Juntos. “O plástico que toda a gente conhece com as espécies que toda a gente reconhece para tudo ser de entendimento fácil”, diz Lara. Para mostrar o “ciclo vicioso com consequências gravíssimas” que o ser humano e o planeta enfrentam, como explicam em comunicado: “Não é nada de novo ouvirmos que os oceanos estão repletos de plástico e que as espécies marinhas estão a morrer sufocadas (…) Por sua vez, o ser humano, ao comer peixe, está a ingerir microplástico.”

Uma cavala enfiada num copo, um ouriço-do-mar a amparar pauzinhos de chupa-chupa. A campanha Txiluf! Nô Kei Na Mar quer mostrar, visualmente, o que se passa nos dias de hoje nos oceanos, esperando sensibilizar e educar. Para que no próximo txiluf, "mergulho", se pense no que também vai parar ao mar: nô kei na mar significa, por seu turno, “nós caímos no mar”, em crioulo de Cabo Verde. Expressões, uma vez mais, “facilmente reconhecíveis” que, esperam, podem fazer a diferença. Como, ainda não sabem: gostavam que a campanha fosse divulgada a nível nacional, mas para já não têm apoios, nem financiamento. O importante é, para já, dar visibilidade: “Pelo menos para que as pessoas pensem um minuto antes de usar uma palhinha, um plástico.”

Gostas de fotografar e tens uma série que merece ser vista? Não consegues parar de desenhar, mas ninguém te liga nenhuma? Andas sempre com a câmara de filmar para produzir filmes que não saem da gaveta? Sim, tu também podes publicar no P3. Sabe aqui o que tens de fazer.