Rui Pinto fica em prisão preventiva

Pirata informático foi ouvido por um juiz de instrução criminal na tarde desta sexta-feira.

Foto
Rui Pinto foi ouvido por um juiz de instrução criminal CMTV

Rui Pinto irá ficar em prisão preventiva por risco de fuga e continuação da actividade. O pirata informático foi ouvido, esta sexta-feira, por um juiz de instrução criminal no Campus de Justiça, em Lisboa. O denunciante do Football Leaks é imputado pela justiça portuguesa da prática de seis crimes: dois de acesso ilegítimo, dois de violação de segredo de justiça, um de ofensa a pessoa colectiva e outro de tentativa de extorsão. O homem de 30 anos, natural de Vila Nova de Gaia, chegou ao tribunal por volta das 15h30, numa viatura descaracterizada.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Rui Pinto irá ficar em prisão preventiva por risco de fuga e continuação da actividade. O pirata informático foi ouvido, esta sexta-feira, por um juiz de instrução criminal no Campus de Justiça, em Lisboa. O denunciante do Football Leaks é imputado pela justiça portuguesa da prática de seis crimes: dois de acesso ilegítimo, dois de violação de segredo de justiça, um de ofensa a pessoa colectiva e outro de tentativa de extorsão. O homem de 30 anos, natural de Vila Nova de Gaia, chegou ao tribunal por volta das 15h30, numa viatura descaracterizada.

O advogado de Rui Pinto vai recorrer da medida de prisão preventiva. "Naturalmente vamos recorrer. Pensamos que não havia razões para isto”, declarou aos jornalistas Francisco Teixeira da Mota, advogado de Rui Pinto, que considerou “exagerada” a medida de coação e informou que o seu constituinte vai permanecer detido nas instalações da Polícia Judiciária.

Rui Pinto foi detido em Budapeste, capital da Hungria, a 16 de Janeiro, na sequência de um mandado de detenção europeu emitido pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP)​. Dos ilícitos descritos no mandado de detenção europeu, nenhum envolve o Benfica ou o FC Porto. O único clube de futebol visado nesta panóplia de crimes é o Sporting, que terá sido vítima de um crime de acesso ilegítimo. O mesmo terá acontecido com o sistema informático do fundo de investimento Doyen Investment Sports, que financia passes de jogadores e treinadores de futebol. Este fundo, sediado em Malta, também terá sido alvo de uma tentativa de extorsão que o Ministério Público imputa a Rui Pinto.

O Benfica, porém, enviou um requerimento ao Ministério Público (MP) a solicitar “mais informação sobre a prova produzida” no âmbito do processo, para que, caso se justifique, “essa prova seja utilizada num âmbito mais alargado de investigação”. A PJ afirma contudo não possuir elementos que comprovem a ligação do hacker ao roubo dos e-mails do Benfica. 

Foto
Rui Pinto garante que preferência clubística não teve influência nos documentos revelados DR

O pirata informático permaneceu em prisão domiciliária na Hungria até ao dia 6 de Março, altura em que passou a estar detido numa prisão enquanto aguardava pela decisão da justiça magiar sobre a intenção demonstrada pelas autoridades portuguesas para que fosse extraditado para Portugal. O tribunal superior húngaro decidiu favoravelmente à extradição do português. Esta quinta-feira, exactamente uma semana após ser conhecida a decisão final da justiça húngara, Rui Pinto chegou a Lisboa acompanhado pelas autoridades portuguesas. 

Após ter saído do Aeroporto Humberto Delgado por uma saída secundária — e fintado os muitos jornalistas que por ele esperavam —, Rui Pinto foi encaminhado para o estabelecimento prisional anexo à sede da Polícia Judiciária, onde pernoitou. 

70 milhões de documentos partilhados

Ao longo dos últimos quatro anos foram revelados 70 milhões de documentos na página Football Leaks, número seis vezes superior ao da investigação dos Panama Papers. O objectivo declarado de “John" — nome fictício usado por Rui Pinto para ocultar a sua identidade — era simples: revelar os “podres” do futebol internacional. Em conjunto com o consórcio EIC (European Investigative Collaborations), as fugas de informações foram sendo noticiadas por órgãos de comunicação social de vários países, originando a abertura de várias investigações. 

Em Espanha, Cristiano Ronaldo e José Mourinho foram investigados pelas autoridades tributárias. Segundo documentos publicados na plataforma digital, o jogador português teria desviado 150 milhões de euros para um paraíso fiscal com o objectivo de fugir ao pagamento de direitos de imagem. Ronaldo foi condenado a pagar 16,7 milhões de euros ao fisco espanhol. Mourinho teve de desembolsar dois milhões de euros.

A disputa com o banco das Ilhas Caimão

Rui Pinto foi o único suspeito de um desvio de 264 mil euros, em 2013, de um banco sediado nas Ilhas Caimão. O hacker conseguiu ver encerrado o inquérito-crime, chegando a um acordo com a instituição de crédito. Apesar de ter devolvido uma parte do dinheiro, acabou por ficar com 17 mil euros obtidos através da invasão ao sistema informático do Caledonian Bank.

O inquérito-crime acabaria por ser arquivado pelo Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto, em Outubro de 2014. O caso foi encerrado depois de o banco chegar a um acordo com o pirata informático, considerando-se “integralmente ressarcido”. Mas o acordo, que faz parte do processo, previa que Rui Pinto devolvesse apenas metade de 34,627 euros, montante que o banco dizia ter sido “transferido indevidamente através de acesso ilegítimo ao seu sistema informático para conta titulada” por Rui Pinto.

A revelação feita pelo PÚBLICO em Fevereiro contraria contraria a informação dada por Rui Pinto numa entrevista à revista alemã Der Spiegel em que garantiu: “Não recebi nenhum dinheiro desse banco”.

Foto
Adeptos do FC Porto juntaram-se aos adeptos que pedem a libertação de Rui Pinto FOTOS DA CURVA

Alegada tentativa de extorsão

Para além do banco das Ilhas Caimão, Rui Pinto também teve problemas com a Doyen Investment Sports, um dos fundos de investimento mais poderosos no universo do futebol. O roubo de informação à empresa sediada em Malta precedeu uma reunião entre os representantes de ambas as partes. O advogado Aníbal Pinto revelou ao PÚBLICO , em Setembro de 2018, ter-se encontrado com pessoas ligadas ao fundo de investimento: “O Rui Pinto telefonou-me do estrangeiro a perguntar se podia dar o meu contacto a outro advogado para ultimarmos um contrato de trabalho. Quando percebi que podia haver ilícitos criminais em causa abandonei as negociações e aconselhei o meu cliente a fazer o mesmo”, afirmou, realçando que não fala com o jovem há mais de três anos.

Em entrevista à revista alemã Der Spiegel, o hacker confirmou a existência desta reunião, negando, porém, qualquer tentativa de extorsão: “Queria ver quanto eles [Doyen] lhe iriam oferecer [ao advogado]. Conforme o fiz, disse para comigo mesmo: ‘se os deixas comprar-te agora, não és melhor do que eles’. Portanto, escrevi à Doyen e disse-lhes para eles guardarem o dinheiro. Nem um cêntimo foi pago. O que fiz foi muito ingénuo. Olhando atrás no tempo, arrependo-me. Mas repito que nego a prática de qualquer crime”.

Bancadas pedem libertação de Rui Pinto

Após a detenção de Rui Pinto na Hungria, foram várias as iniciativas de apoio ao pirata informático nas bancadas europeias. Os adeptos do Borussia Dortmund, na partida frente aos ingleses do Tottenham, exibiram tarjas que pediam a libertação de Rui Pinto, chamando “máfia” à UEFA. Também os adeptos do Estugarda exibiram tarjas de apoio ao português.

Em Portugal, já foram vistas faixas nas bancadas do Estádio de Alvalade e do Dragão. Na partida frente à Roma, para os “oitavos” da Liga dos Campeões, os Super Dragões — principal claque dos portistas —​ exibiram uma tarja na qual se podia ler “liberdade para Rui Pinto”.