Estudantes na rua “por obras na escola, mais funcionários e o fim dos exames”

Duas centenas de estudantes de escolas secundárias de Lisboa manifestam-se esta quarta-feira "em defesa da escola pública, gratuita e de qualidade".

Ainda não passou uma semana desde que os estudantes portugueses se juntaram às greves marcadas por todo o mundo e marcharam em mais de 25 localidades contra as alterações climáticas. Esta quarta-feira, o tom reivindicativo mantém-se, mas a luta é outra: os estudantes das escolas secundárias de Lisboa querem “obras na escola, mais funcionários e o fim dos exames”.

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Ainda não passou uma semana desde que os estudantes portugueses se juntaram às greves marcadas por todo o mundo e marcharam em mais de 25 localidades contra as alterações climáticas. Esta quarta-feira, o tom reivindicativo mantém-se, mas a luta é outra: os estudantes das escolas secundárias de Lisboa querem “obras na escola, mais funcionários e o fim dos exames”.

Passavam 15 minutos das 9h, e meia centena de alunos já estavam concentrados à porta do Liceu Camões, em Lisboa. É o presidente da associação de estudantes (AE), Simão Bento, que está ao comando. Vai lançado palavras de ordem, logo repetidas pelos colegas. O dirigente da AE exige, desde logo, obras na escola. “Tem mais de 100 anos. Nunca recebeu obras de fundo. Há janelas partidas e estores que não abrem. Se houver algum desastre, põe em causa vida e segurança dos trabalhadores e dos estudantes. Põe em causa direito à educação. Queremos que o Governo assuma as obras”, explica. 

Simão Bento critica também os exames, que, defende, devem acabar porque “agravam as desigualdades entre alunos”. “Já existem países onde os exames não são opção. Os alunos têm avaliação continua”, acrescenta o presidente da AE. Acabar com os exames é uma reivindicação colectiva de quem se junta à porta da Escola Secundária Camões e se prepara para, às 10h30, descer, em marcha, para o Marquês de Pombal. Entre os gritos ouviu-se um dirigido ao ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues: “Exames, faz tu, faz tu, Brandão!”

Um dos portões principais da escola foi trancado, mas os jovens – muitos deles realizavam testes na primeira aula da manhã (às 8h30) e só conseguiam juntar-se aos protestos às 10h – tiveram de sair pelo outro. Juntaram-se também, à porta do estabelecimento escolar, os alunos da escola artística António Arroio. É nessa altura que o protesto ganha corpo. 

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Carolina Pescada

O vice-presidente da Associação de Estudantes da António Arroio, Tomás Cardoso, diz que os estudantes da escola artística manifestam-se pelo “fim das obras e por mais funcionários”. Os exames não são uma preocupação com a mesma importância, uma vez que na António Arroio são “facultativos”. “Se não nos manifestarmos mais ninguém o vai fazer por nós”, acrescenta. 

Já no Marquês de Pombal, por volta das 10h30, juntaram-se alunos de outras escolas do concelho, mas também de Loures, Amadora e Sintra. Com o objectivo de rumar a São Bento. Entre gritos por mais obras nas suas escolas, menos exames e o direito à educação, os estudantes desceram todos juntos a avenida da Liberdade, passaram pelo Largo Camões, e seguiram rumo ao parlamento. 

Da Escola Secundária Dr. António Carvalho Figueiredo, em Loures, Inês Guerreiro diz que não foi difícil convencer os colegas a vir. “Bastou dizer-lhes que era uma manifestação pela escola a que têm direito”, garante a presidente da mesa da assembleia geral da AE. “Não queremos só fim dos exames. Mas a avaliação contínua e justa”, diz a estudante de Loures. 

Iara Sobral, da Escola Secundária de Sacavém, tem 14 anos e as prioridades bem definidas. “Se é nosso dever estudar, devem dar-nos condições para que o façamos”. A sua escola, diz, precisa de obras. E ainda tem amianto nos telhados (que tem de ser retirado).

Ao final da manhã, os alunos chegaram a São Bento, onde decorria a concentração nacional do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional da CGTP. Os estudantes deixaram na residência do primeiro-ministro um apelo por “uma escola pública gratuita e de qualidade”, que foi assinado por alunos de escolas de norte a sul do país, que não conseguiram estar presentes na manifestação, mas apoiam a causa, segundo explicou Simão Bento.

A PSP contou pouco mais de 200 jovens na manifestação.