Não foram detectadas "irregularidades" na gestão dos donativos em Pedrógão Grande

Electrodomésticos e mobiliário armazenados são geridos pela Cruz Vermelha e servem para equipar as casas que vão sendo reconstruídas. Fundo Revita diz que "o processo está a decorrer com normalidade".

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PAULO PIMENTA

Um ano e meio depois do grande incêndio de Pedrógão Grande, ainda há donativos em espécie destinados aos três concelhos ardidos que estão em armazéns naquela localidade. Grande parte dos bens que estão armazenados são electrodomésticos novos e mobiliário que vai sendo distribuído para as casas que entretanto vão sendo reconstruídas. O Fundo Revita e a Cruz Vermelha garantem que têm os bens "inventariados, geridos e correctamente entregues, não sendo conhecida qualquer irregularidade". 

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Um ano e meio depois do grande incêndio de Pedrógão Grande, ainda há donativos em espécie destinados aos três concelhos ardidos que estão em armazéns naquela localidade. Grande parte dos bens que estão armazenados são electrodomésticos novos e mobiliário que vai sendo distribuído para as casas que entretanto vão sendo reconstruídas. O Fundo Revita e a Cruz Vermelha garantem que têm os bens "inventariados, geridos e correctamente entregues, não sendo conhecida qualquer irregularidade". 

Em Pedrógão têm surgido dúvidas sobre os dois armazéns cedidos pela Câmara de Pedrógão Grande que ainda têm bens que foram doados para as vítimas dos incêndios de Junho de 2017. Ao PÚBLICO, a Cruz Vermelha afirma que pediu à autarquia o armazenamento dos artigos que servem para apetrechar as casas reconstruídas, desde electrodomésticos ainda embalados, a colchões, mobília e outros bens. "Sim, tem" bens guardados, respondeu um responsável da Cruz Vermelha a perguntas feitas pelo PÚBLICO sobre o armazenamento dos donativos.

Aquela instituição é a responsável pela gestão do apetrechamento das casas em reconstrução pelo Fundo Revita (criado pelo Estado para gerir a reconstrução de casas por várias instituições de solidariedade) e, tendo em conta a quantidade de bens que foram recebidos pelas diferentes instituições, têm-nos armazenados em dois locais cedidos pela Câmara de Pedrógão Grande, identificados por uma reportagem da TVI na quinta-feira. Em causa estão electrodomésticos, desde frigoríficos, máquinas, aspiradores, micro-ondas, ferros de engomar e mobiliários, como colchões, camas ou armários.

A Cruz Vermelha diz que tem os bens inventariados "dos que foram entregues para armazenamento e dos que foram entregues às famílias". A única excepção são televisores oferecidos pela Samsung. Nesse caso, diz fonte oficial da Cruz Vermelha, foi a "Samsung que tomou essa iniciativa directamente". A entrega desses televisores até foi alvo de alguma confusão por parte do motorista que, sabendo que se destinavam às vítimas de Pedrógão Grande, os deixou nos armazéns da câmara, não sendo lá que deveriam ficar acondicionados.

Fonte oficial do Fundo Revita confirma que os bens doados às instituições que fazem parte do fundo estão "devidamente inventariados". Na prática, os bens que foram doados às diferentes instituições são guardados em armazéns antes de serem distribuídos pelas casas à medida que vão ficando finalizadas.

"A Cruz Vermelha Portuguesa identifica a necessidade, propõe a doação à Comissão Técnica do Fundo Revita e, após aprovação por parte da Comissão Técnica, indica à câmara onde as entregas devem ser feitas", explica o responsável do fundo Revita ao PÚBLICO. "O processo está a decorrer com normalidade assegurando a Cruz Vermelha Portuguesa o cumprimento das regras estabelecidas. Todos os bens sob gestão do Fundo Revita estão inventariados, geridos e correctamente entregues, não sendo conhecida qualquer irregularidade", responde fonte oficial do Revita.

Ou seja, os bens ali guardados servem para o apetrechamento das casas nos três concelhos que estão a ser finalizadas e são transportadas por trabalhadores da câmara até ao seu destino, decidido pelo Revita. Os últimos números do Revita mostram que há 76 casas "seleccionadas para reapetrechamento" e que já foram equipadas 44 casas, "encontrando-se 33 nas diferentes fases do respectivo processo de reequipamento", 23 delas em Pedrógão Grande, 8 em Castanheira de Pera e uma em Figueiró dos Vinhos.

Igual inventário tem a Cáritas Diocesana, que tem registado em inúmeras folhas Excel todos os dados sobre os donativos que recebeu e as compras que fez para equipar as 35 casas que reconstruiu. Em Outubro, o padre Luís Costa, responsável pela entidade no distrito de Coimbra, dizia ao PÚBLICO que tinha receio que as dúvidas levantadas sobre a reconstrução em Pedrógão Grande prejudiquem a solidariedade para situações futuras. 

Na sequência da notícia da TVI sobre o tema, a autarquia de Pedrógão Grande enviou um comunicado dizendo que os bens em causa "têm a sua gestão e entrega a cargo de instituições e não da Câmara Municipal, que somente forneceu espaço de armazenamento conforme lhe foi solicitado". A câmara, presidida por Valdemar Alves, diz que vai "solicitar junto dos legítimos proprietários dos bens (as instituições) outro local para a guarda dos mesmos, já que foi denunciada publicamente a sua exacta localização (...) a fim de prevenir qualquer furto".