Ex-chefe do Exército não falou de Tancos aos ministros da Defesa

Aguiar-Branco e Azeredo Lopes não foram confrontados com a insegurança, mas o assalto aos paióis levou Carlos Jerónimo a tomar comprimidos para a tensão.

Foto
O ex-CEME, general Carlos Jerónimo, no Parlamento LUSA/TIAGO PETINGA

O general Carlos Hernandez Jerónimo, chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) entre 18 de Fevereiro de 2014 e 7 de Abril de 2016, admitiu esta quarta-feira nunca ter colocado a questão da segurança de Tancos aos ministros Aguiar-Branco e Azeredo Lopes. Em mais uma audição de responsáveis militares no âmbito da comissão parlamentar de inquérito ao roubo de 2017 nos paióis nacionais, o oficial general afirmou que desde 1998 havia consciência e relatos de vulnerabilidades daquelas instalações.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O general Carlos Hernandez Jerónimo, chefe do Estado-Maior do Exército (CEME) entre 18 de Fevereiro de 2014 e 7 de Abril de 2016, admitiu esta quarta-feira nunca ter colocado a questão da segurança de Tancos aos ministros Aguiar-Branco e Azeredo Lopes. Em mais uma audição de responsáveis militares no âmbito da comissão parlamentar de inquérito ao roubo de 2017 nos paióis nacionais, o oficial general afirmou que desde 1998 havia consciência e relatos de vulnerabilidades daquelas instalações.

“Como CEME ficou decidido atacar o problema de Tancos”, explicou. Já antes, como comandante da Brigada de Reacção Rápida, com a incumbência na segurança de Tancos, e comandante das Forças Terrestres, patamar hierárquico da primeira, tinha informação directa sobre a situação. Aguiar-Branco ou Azeredo Lopes não foram por ele informados.

 “Em 2015 e 2016 não havia financiamento para a reforma dos paióis, decidimos atacar o problema [da base] de Tancos com os meios que tínhamos, mas entretanto foi roubada”, descreveu. “Foram gastos 400 mil euros na vedação, as coisas iam-se fazendo à medida que era possível”, explicou. “O dinheiro não abunda para estas coisas”, continuou.

“Não atirem tudo para cima dos militares, somos todos culpados, os militares cumprem missões, os políticos alocam recursos”, afirmou. O assalto, que já o apanhou na reserva após ter abandonado o Exército em desacordo com Azeredo Lopes pela forma como foi tratado o caso do Colégio Militar — o ministro exigiu a demissão do subdirector e um inquérito sobre as queixas de discriminação de homossexuais na instituição —, provocou-lhe profunda comoção. “Tive de ir ao cardiologista e passei a tomar comprimidos para a tensão”, revelou.

O general Carlos Jerónimo manifestou discordância por a comissão parlamentar decorrer à porta aberta, embora concorde com a transparência. Reiterou que um comandante é responsável por tudo o que se passa na sua unidade e criticou o sketch do humorista Ricardo Araújo Pereira feito a partir de declarações do coronel David Correia. “Não havia necessidade”, lamentou. Referiu ainda que, em 2007, no Afeganistão, um ataque talibã aos militares comandados pelo coronel Correia, provocou a morte do soldado Sérgio Pedrosa. “Sou a favor da liberdade de expressão, mas quero defender a honra do coronel Correia”, argumentou.