Paióis de Tancos roubados, tranca nas portas

O criminoso não voltou ao local do crime, de nada valeu a segurança reforçada. Espera-se pelos superiores, pois o Exército não se esgota em coronéis.

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Operação de desactivação dos paióis Rui Gaudêncio

Quando foi descoberta a violação das fechaduras dos paióis 14 e 15 de Tancos e se cimentou a consciência de um incrível assalto em delicadas instalações que guardavam material de guerra, foram tomadas medidas nunca vistas. Paióis de Tancos roubados, tranca nas portas é a adaptação possível de um aforismo popular.

“Depois do assalto houve mais homens, carregadores [das G3] desselados, munições reais”, relatou esta tarde o coronel de Infantaria David Teixeira Correia, que em Julho de 2017 estava à frente da Unidade de Apoio à Brigada de Reacção Rápida de Tancos, que coordenava a segurança dos paióis. Esta decisão musculada foi tomada imediatamente após a descoberta da violação numa reunião da hierarquia com alguns dos comandantes das forças encarregadas de manter a inviolabilidade das instalações e foi notícia na oitava audição da comissão parlamentar de inquérito.

As medidas foram, como se sabe, tardias, pois o criminoso não voltou ao lugar do crime. O oficial Teixeira Correia, que como todos os outros comandantes das unidades envolvidas em Tancos foi exonerado e, duas semanas depois, readmitido nas suas funções, driblou as palavras do antigo chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, e as duras apreciações dos relatórios militares. O general falou de desleixo dos comandantes e as averiguações castrenses não os pouparam com referências a pouco profissionalismo.

“Balda típica?”, perguntou o deputado socialista Santinho Pacheco. “Foi desleixado?”, disparou António Carlos Monteiro, do CDS. “Toda a imagem do Exército foi afectada, o nosso objectivo é fazer o melhor que sabemos pelo Exército e pelos portugueses”, aguentou o militar. Explicitamente, por cinco vezes, referiu a escassez de meios humanos, que estava implícita na justificação de espírito de sacrifício para desempenhar aquela missão. Uma das muitas que tinha na zona, com responsabilidade na defesa do aeródromo de Tancos e parte administrativa de toda a Brigada de Acção Rápida, no cruzamento de vários armas e serviços, numa área de 180 hectares, mais de quatro vezes a dos paióis.

“Era exigida uma maior taxa de esforço aos homens”, destacou. Cumpriram as normas de execução permanentes, ou seja, by the book, segundo o regulamentado. Reportou ao comandante da Brigada as falhas detectadas, da corrosão das vedações à vegetação que crescia luxuriante, da inexistência de sensores ao fim da videovigilância, embora o plano de segurança de 2016 continuasse a recomendar a retirada diária da cassete de um sistema que não gravava. Coisa que o senso comum, o menos comum dos sentidos, evitou quer acontecesse poupando ao ridículo do non sense. Os reparos terão subido ao escalão superior, ao Comando das Forças Terrestres. 

“Como comandante, cumpri o que os meus superiores me mandaram, não tinha homens”, desabafou. “Nas minhas funções, eu não posso dizer aos meus homens que foram desleixados”, argumentou. Estava a 46% das praças, 102 homens, relatou. Espera-se o relato dos superiores pois o Exército não se esgota em coronéis.

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